Caros leitores e leitoras, pedir ao povo grego que seja soberano no que respeita ao futuro do seu país, quando os acordos europeus já estavam aprovados e postos em marcha é ser desleal e nada democrático, e porquê?
Porque se os acordos estavam firmados eram para cumprir. Se o Sr. Papandreou discordava deles ou achava que deveria ser o povo a decidir, teria convocado o referendo antes da aprovação em Bruxelas, e não depois. Ir a referendo significará que tudo o que se acordou em Bruxelas é posto em causa, com as consequências que daí advirão, mas mais, o pior é colocar o povo grego numa situação em que a sua escolha é altamente condicionada. Se quiser votar no Sim sabe que o que lhe espera é mau, mas ao menos sabe com o que conta. Se quiser votar no Não, terá dúvidas sobre o que acontecerá a seguir porque ninguém lhes explicará. Montar-se-á uma campanha vigorosa a explicar as vantagens do Sim e os horrores do Não.
Não há na sociedade europeia filósofos, sociológos e economistas livres e intelectualmente aptos em número suficiente e com espaço mediático para explicar às populações quais as reais consequências de se optar pelo Sim ou pelo Não.
A nossa aposta é que o Sim ganhará, legitimando Papandreou e a sua política de fio da navalha, caucionando os gregos por mais algum tempo às suas atitudes mafiosas de deixar os outros líderes falarem, decidirem, e depois de estarem vinculados aos acordos espeta-lhes com as "bandarilhas" nas costas, tornando-os ainda mais reféns das decisões que tomaram. No fundo, este é o jogo que ao Sr. Papandreou mais lhe convêm jogar, porque conseguiu desviar o centro das decisões de Atenas para Bruxelas, com a cortesia dos restantes líderes europeus que sempre quiseram assumir o resgate e a salvação da Grécia para manter vivo o projecto europeu, mesmo sem terem dinheiro para o fazer. A responsabilidade é também destes líderes europeus, que não souberam dizer Não em Maio de 2010 à Grécia, mentiram sistematicamente dizendo que tudo se resolveria, decidiram em nome do povo coisas que o povo não quer e agora têm mais 5 países nas suas costas. É claro que não aguentam tanto peso. Não há dinheiro para todas estas extravagâncias políticas e os supostos parceiros mundiais que poderiam emprestar dinheiro ao fundo de resgate EFSF já suspeitam da boa gestão que se fará do mesmo. É realmente de fugir.
As consequências não se fizeram esperar:
1. A China já afirmou que não está interessada em financiar (para já) o fundo EFSF;
2. O EFSF tinha marcado para hoje uma emissão de dívida de 3 mil milhões mas adiou devido a "questões de mercado". Sabemos o que isto significa: suspeita-se que não haverá compradores suficientes, e para não haver humilhação mundial, adia-se para outro altura;
3. O grupo que representa os banqueiros nas negociações do incumprimento de 50% da Grécia suspendeu unilateralmente o acordo que tinham alcancado com a UE na cimeira de quarta-feira passada.
O que se passará nas bolsas de acções nos próximos 2 dias será algo parecido como uma viagem na montanha russa:
1. Hoje haverá reunião entre Papandreou e restantes líderes europeus em Cannes, que culminará com algum tipo de conferência de imprensa a dizer que tudo se resolverá;
2. A Reserva Federal irá dizer qualquer coisa para ver se acalma também os mercados;
3. Amanhã e sexta haverá mil e uma declarações na cimeira do G20, referindo que está tudo bem e sob controlo, e que os mercados só devem olhar é para o céu, e nunca para o inferno.
Que mais é preciso acontecer para que os políticos desçam ao planeta Terra e percebam que não vale a pena estragar mais? Deixem os bancos falir, deixem os países falir também, deixem cair o Euro, mas façam tudo isto com um plano, minimamente pensado, para que o colapso não seja tão desordenado e caótico como se prevê.
Para o cidadão português normal sugerimos que desconfie cada vez mais das instituições bancárias que detêm depósitos e da moeda Euro em si.
Investir em terra e na agricultura poderá ser uma forma de diversificação e de se preparar para eventuais rupturas no futuro. Investir em moedas de prata e de ouro poderá ser também um bom negócio na perspectiva de garantir algum "pé de meia" que queira ter para um futuro profundamente incerto - somos particularmente fãs da moeda de 1 onça de prata da Filarmónica Austríaca.
De uma coisa temos a certeza: quando precisarmos do Estado, este não estará lá para nos ajudar.
Tiago Mestre
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