21 de novembro de 2011

... sobre a velocidade dos acontecimentos

Caros leitores e leitoras, de tempos a tempos tentamos distanciarmo-nos do frenesim diário das notícias e perspectivar os acontecimentos de forma mais cronológica. Como tem havido menos notícias sobre a Europa nos últimos dias, talvez seja esta a oportunidade para esta rápida análise retrospectiva.

O que nos salta logo à vista é a velocidade com que os acontecimentos têm ocorrido desde Janeiro de 2010.
A história europeia enriqueceu neste ano e meio talvez tanto como nos 10 anos anteriores. Já assistimos ao resgate da Grécia, de Irlanda e de Portugal, o contágio passou entretanto para a Itália, a Espanha e França.

A liderança europeia desdobrou-se em inúmeras operações políticas para tentar inverter a desconfiança dos investidores, mas quanto mais fala na imprensa, mais a desconfiança se instala.

A rápida sucessão de eventos faz-nos pensar que o processo já está em marcha por si mesmo e não sujeito a travagens, ou seja, já não vale a pena gastar tempo e dinheiro a tentar salvar o que na sua essência não pode ser salvo. Os fenómenos que hoje ocorrem já são uma consequência do que aconteceu ontem, renovando-se o processo a cada dia que passa.

Portugal, pela sua exposição e dependência que tem da Europa terá as maiores dificuldades em sobreviver num contexto económico e social que se degrada cada vez mais rapidamente.

Portugal importa 70% dos produtos alimentares que consome e necessita de pedir empréstimos ao exterior para financiar essas mesmas compras, aumentando as suas dívidas ano após ano.

Portugal sem financiamento externo terá que igualar o seu consumo à sua produção. O sector primário e secundário (produção) pouco excedem 20% do PIB sendo os restantes 80% serviços (consumo).

Já estão a imaginar a correcção que terá que ser feita:
se a nossa produção ronda os 35 mil milhões de euros (20% do PIB), os serviços terão que cair para valores semelhantes, ou seja, dos actuais 136 mil milhões (80% do PIB) para 35 mil milhões!! É só uma contracção de 100 MIL MILHÕES DE EUROS. É simplesmente surreal, e só poderá ser aliviada se a produção aumentar a sua quota.

Haverá um momento em que o estrangeiro não mais nos fornecerá bens essenciais por não termos dinheiro para os adquirir. Uma decisão desta natureza trará escassez na oferta de produtos, desequilibrando a lei da oferta e da procura. Serão muitos consumidores a desesperar por poucos produtos, criando as condições para um aumento generalizado da inflação. Essa inflação será agravada se o Banco Central Europeu iniciar compra de dívida em larga escala ou se abandonarmos o euro. Os produtores serão os únicos beneficiários de toda esta distorção.

Pelas razões acima expostas acreditamos que num futuro muito próximo a produção de bens agrícolas e industriais de primeira necessidade serão um negócio bastante rentável em Portugal, sendo esta conclusão talvez um dos melhores conselhos que poderemos dar aos nossos leitores. Ainda vão a tempo de se tornarem produtores... de alfaces, batatas ou de qualquer outra coisa.

Tiago Mestre

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