2 de abril de 2012

Vários líderes a dizerem a mesma coisa. Humm!

Caros leitores e leitoras, é preciso acompanhar com alguma regularidade as várias intervenções de vários líderes europeus, sempre em tempos diferentes, mas dizendo mais ou menos o mesmo, para se inferir que algo nos bastidores se cozinhou, e em grande.

Várias personalidades têm referido que há sinais positivos de que o pior da crise financeira já passou, e que a perceção dos investidores sobre o risco da dívida soberana tem diminuído consideravelmente, como se prova pela queda das taxas de juro exigidas no mercado secundário.

Toda esta conjugação de afirmações semelhantes só nos pode levar a pensar que o mago financeiro Mario Draghi, diretor do BCE, arriscou tudo, mas mesmo tudo, com as operações LTRO de empréstimo a 1% durante 3 anos. Qualquer banco que apresente colateral, mesmo que sejam obrigações classificadas como C, fica elegível para o tão desejado empréstimo.

Todos os líderes acreditam que estas operações estão a ter resultado, e realmente estão, mas injetar 1 trilião de euros num espaço de 3 meses na economia europeia sem crescimento à vista terá as suas consequências nefastas, só que como não é visível para já, deixa andar.

O que realmente acaba por destruir uma moeda é o somatório de muitas impressões, muitas decisões expansivas e muita criatividade financeira, durante muito tempo.

Injetar 1 trilião de euros num sistema financeiro recessivo e com muita dívida às costas é realmente um belo balão de oxigénio para que os bancos liquidem entre si os empréstimos que contraíram no passado e os que terão que contrair no futuro. Liquidam entre si mas ficam a dever cada vez mais ao BCE.

Não haja dúvida de que sendo o BCE um banco público, o risco que outrora havia entre bancos está sendo transferido em massa para o "nosso" banco.

E se realmente era esta a "tal solução", porque razão Jean-Claude Trichet não a aplicou quando a Europa implorava pela artilharia do BCE?
Trichet fez muitos abusos, nomeadamente com a compra de dívida soberana nos mercados soberanos, mas não estava preparado para aceitar de forma massiva tanto risco privado para as mãos dum banco público. Draghi, seu digno sucessor, não pensou duas vezes. A sua missão era livrar a Europa desta espiral de encontro com a sua realidade. E conseguiu! Para já.

Tiago Mestre

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