A propósito das comemorações do 25 de Abril de 1974, achamos importante revelar as contas públicas dos anos que antecederam e procederam a revolução dos cravos.
Neste contexto histórico de dar a conhecer as contas públicas portuguesas, publicámos aqui no Contas há uns dias outro post que nos esclarece as tendências financeiras do Estado no final da 1ª república e no início da Ditadura de Salazar.
Com este post tentaremos dar alguma informação financeira sobre o que se passou nos conturbados anos que caracterizaram a revolução dos cravos:
PIB
Ano (em milhões de contos)
1973 297,4
1974 313
1975 285
Dívida Pública
Ano (em milhões de contos)
1961 18,7
1973 51
1975 147
Nível Médio de reservas-ouro e divisas
Ano (em milhões de contos)
1973 72,5
1974 64,8
1975 45,7
Meios de Pagamento em circulação (Notas, moedas, letras de câmbio)
Ano (em milhões de contos)
1973 301,3
1974 342,2
1975 385,4
Com estes números poderemos fazer uma espécie de radiografia financeira aos primeiros anos do novo regime:
1. 1975 é um ano de recessão económica face 1974. Compreende-se pelas vicissitudes da mudança de regime e sobretudo pela ausência de investimento (Formação bruta de capital), já que muitos investidores "fugiram" de Portugal e outros nunca chegaram a entrar.
2. A riqueza herdada do regime anterior, quer sob a forma de avultadas reservas de ouro bem como pela ausência de endividamento/déficit público, foi rapidamente aproveitada pelo novo regime. Em 3 anos geraram-se déficits públicos permanentes e desde essa época até hoje não mais o Estado conseguiu gerar superavits orçamentais.
Para se compensar o défice vendeu-se ouro apressadamente e imprimiram-se notas no Banco de Portugal.
O escudo entraria assim numa espiral inflacionária que caracterizou a política monetária de Portugal nas décadas seguintes.
PERGUNTA:
Houvesse hoje uma revolução, teria ela energia financeira herdada do regime precedente para fazer valer e implementar as suas ideologias, quaisquer que elas fossem?
A RESPOSTA É: NÃO
Simplesmente já não há mais dinheiro aonde ir buscar. Há muito que esgotámos a energia que restava e começámos inclusivamente a pedir energia ao futuro (endividamento) para fazer face aos compromissos do presente.
Sabemos que a história é feita pelos vencedores, mas para não cairmos nos mesmos erros sucessivamente é importante compreendê-la sob outras perspetivas, sobretudo a dos perdedores.
Este é o tributo que prestamos aqui no Contas a esses homens e mulheres que, também eles, lutaram por um país melhor, mesmo defendendo ideologias e opções políticas totalmente anacrónicas e disformes com os ventos que sopravam da Europa na época.
Tiago Mestre
Fonte: 25 de Abril, a Revolução da Vergonha, João da Costa Figueira, Literal - Sociedade Editora Lda, 1977
1 comentário:
A única energia que pode haver é reestruturar dívidas e até quem sabe nacionalizar (PPPs).
Já agora vamos lá ver o que vai sair daqui... 25.04 às 1.30 rtp2
http://www.donosdeportugal.net/
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