Caros leitores e leitoras, temos vindo a constatar no espaço mediático uma maior polarização ideológica entre aqueles que defendem a austeridade como mecanismo de regressar ao crescimento económico, e aqueles que defendem um regresso ao crescimento económico no curto prazo mas sem tanta austeridade.
Lamentamos informar, mas nem uma nem outra opção levam a crescimento nenhum no curto ou no médio prazo. Vamos tentar desmistificar:
1ª postulado:
A defesa de um regresso ao crescimento económico mas passando primeiro por um plano de austeridade nas contas públicas.
2º postulado:
A defesa de um regresso ao crescimento económico aligeirando as metas da troika e atenuando os efeitos recessivos da austeridade.
Quem conhece as contas públicas e a economia portuguesa sabe que as duas proposições escondem uma parte considerável da verdade, e só assim é que se conseguem "bater" no pobre mercado das ideias que se chama opinião pública portuguesa.
É até paradoxal a formulação destes 2 postulados, e para muitos portugueses e portuguesas fica a maior das dúvidas porque é que a austeridade não está a funcionar e a solução milagrosa esteja agora no aliviar das metas da troika.
O que é que se está a "esconder" à sociedade nestes 2 postulados?
No primeiro postulado omite-se o facto de que para recuar na austeridade é preciso capacidade de ENDIVIDAMENTO. E isso é algo que não é possível nos dias de hoje, nem num futuro próximo. Sem capacidade de pedir dinheiro emprestado não há outro remédio senão ajustar as despesas às receitas. Cai o postulado por terra porque há uma tentativa de querer viver acima das possibilidades, numa espécie de levitação que viola a lei da gravidade. Não pode.
No segundo postulado querem-se forçar as leis da matemática que se aprende no 4ª ano de escolaridade, na medida em que se acreditava que a redução da despesa do Estado não influenciaria de sobremaneira o PIB. Acontece que na fórmula do PIB há lá 2 parcelas que dizem respeito à Procura Interna: uma é o Consumo Público, outra o Privado. Se o Estado corta nas suas despesas de aquisição de bens e serviços, afeta a 1ª parcela, e se corta em salários e pensões, afeta a 2ª. Acreditava-se que as exportações, outra parcela do PIB, compensassem toda esta derrocada no consumo interno. Não compensou, e assim cai o segundo postulado que tentou fugir às malhas da matemática mas não conseguiu.
Foi uma ingenuidade acreditar que as exportações, dependentes de um mercado externo que sofreu uma crise sistémica em 2008, uma recessão em 2009, e uma permanente crise de confiança, sobretudo na Europa, seriam o salvador da pátria.
Esqueçam o confronto AUSTERIDADE vs CRESCIMENTO. É uma discussão inútil.
O que é certo é isto: NINGUÉM NOS EMPRESTA DINHEIRO A TROCO DE CONVERSA, e como tal, as despesas terão que igualar as receitas, quer se goste, quer não. Neste processo de equilíbrio orçamental público teremos pelo caminho uma consequência totalmente indesejável: uma redução do PIB português superior a 30 ou a 40% em relação ao pico de 2011: 172 mil milhões de euros.
E porquê?
Porque a par do equilíbrio das contas públicas que faz cair o PIB, há que estimular o investimento privado. E como é isso possível? Baixando impostos, mas como não há capacidade de endividamento, as despesas terão que acompanhar a quebra da receita, reduzindo ainda mais o PIB.
Esta espiral só parará quando tivermos o nível de consumo nacional em paridade com o nível de produção.
Até chegarmos lá, sugerimos que apertem os cintos porque a viagem vai ser complicada!
Tiago mestre
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