18 de abril de 2012

Queríamos compreender o FMI, mas não está fácil ! (Parte 2)

As contradições em que o próprio FMI se envolveu em menos de um ano revela uma incompetência técnica tão grande que há já muito tempo que deixámos de receber lições desses meninos aqui no Contas.

E para mal dos nossos pecados, as teorias que há 9 meses eram as "certas", hoje já são as "erradas". Pelo meio tivemos Portugal como cobaia de ensaio.  É RIDÍCULO!

Na capa do jornal I, e bem referido no Blog "A Espuma dos Dias", há Tensão no ar.

Mas a notícia acrescenta que o FMI, paladino da austeridade há 1 ano, acusa agora o BCE de ajudar a Alemanha em detrimento dos países periféricos, preferindo a austeridade ao crescimento.

Quem diria que uma instituição com esta presença mundial se contradiga em menos de 1 ano e ainda acuse (falsamente) o BCE de ser apologista da austeridade.
O BCE tem sido antes um "MÃOS LARGAS" de bolsos vazios!

Que grande, grande disparate!

Que péssimo serviço prestado aos países resgatados. Portugal deveria suspender desde já os pagamentos pela consultoria financeira prestada.

E que péssimo serviço para a formação de uma opinião pública informada e que assegure a credibilidade das instituições tecnocráticas que verdadeiramente nos governam nos dias de hoje.

Tiago Mestre

16 comentários:

Vivendi disse...

Tiago,

Agora que é evidente que a Espanha já está mais dentro do resgaste do que fora dele...

O bundesbank hoje já sacudiu também a água do seu capote.

E a seguir é incontornável fazer a cama à Itália.

Qual te parece aqui o papel futuro da Alemanha sobre a crise do €?

E pior, e se o Hollande ganhar em França?

Sobre o FMI, esta intituição é claramente a favor do fim do € e está difícil encontrar o guito para ajudar a financiar a crise da dívida soberana.

Para quem teve oportunidade de ouvir as palavras do emigrante português do Dubai no programa do Medina Carreira, este foi claro na indiferença do mundo pela crise europeia e em economias sem potencial de crescimento nenhum.

Assim a pergunta que coloco a ti e aos leitores do blog, é será que ainda é vantajoso permanecer no €? Será que o € tem futuro?

Filipe Silva disse...

O interessante é que os USA estão mil vezes pior que a Europa, mas devida a ser um país pode fazer o que tem vindo a fazer, um ataque ao Euro e às economias que o compõem.
Muito deste ataque vem da City de Londres.
Os americanos fazem isto de forma a criarem grande incerteza de forma a venderem a sua divida, os britanicos a mesma coisa, a coligação anglo saxónica.

Os instigadores da crise são os bancos que foram salvos e 2008, deviam ter ido todos ao charco, e os países não estavam no buraco em que estão. That´s Keynesianism for you.

O FMI não percebe nada de nada, senão vejamos o famoso consenso de Washinton, deu os resultados que deu na América Latina, para não falar do que o FMI fez na Somália que é de rir.

Devíamos estar a estudar a saída do Euro(nunca pensei dizer isto, até há 6meses era visceralmente contra) e sinceramente ao sairmos do Euro devíamos sair da UE, mas com os políticos que temos, tenho medo muito medo.

O euro tem saída se existir interesse em fazer o que é necessário, romper com o FMI(a mando dos USA, por algum motivo o Strauss Khan foi afastado) e a UE resolver o problema internamente, deixar de ligar ao que os Keynesianos dizem (pelo menos aos krugman e afins) e aceitar que as economias tem de se reorganizar e que isso implica que haja desemprego massiço e falências e deflação relembrar a crise de 1920 é importante, deviamos aprender com ela.

Tiago Mestre disse...

Sobre a Alemanha, penso que a Merkel já não tem grandes balas para gastar:

- O Bundesbank e o Weidmann estão pelos cabelos com o BCE e o Draghi. O ambiente deve estar de cortar à faca!

- O LTRO foi um FRACASSO

- As garantias que a Alemanha já concedeu dificilmente serão alargadas. O tribunal constitucional não irá mais na conversa.

- Então, toca de gastar o EFSF (500 mil milhões), e quando estiver para acabar, logo se verá se há mais dinheiro para enterrar.


A política nos dias de hoje revê-se à semana. Vejam-se as tergiversações do FMI. O Hollande parece-me muita parra e pouca uva. o diretor da sua campanha é o mesmo do de Villepin há uns anos, e este tb disse que mudava tudo e quando lá chegou remeteu-se ao seu lugar. enfim..


Sobre permanecermos no euro, quanto mais tarde sairmos pior. O momento "menos mau" seria quando a nossa balança comercial estivesse + ou - orientada e o estado conseguisse pagar salários e despesas apenas com as receitas. A despesa teria que ir para os 50-60 mil milhões e os 9 mil milhões de juros deveriam ser logo cancelados.

A estratégia de saída deveria passar pela união com a Espanha e a Itália. Caso nenhum quisesse, então aí teríamos que ir sozinhos ou com a Grécia.
O estrondo dessa saída, quanto mais ruidoso fosse, melhor. A Europa perdia o Norte e as instituições deixavam de ser eficazes.
A Alemanha a determinada altura iria perceber que o "bom" dinheiro estava a fluir SÓ para lá, e já não interessaria manter a paz podre europeia. Voltava o marco alemão e a morte do euro seria oficialmente anunciada.

É a pressão alemã para não se imprimir à bruta que deixa os investidores "nervosos". Eles gostariam muito que a Alemanha caucionasse a impressão para que a festa durasse mais uns tempos, à la FED.

Alguém terá que perder a cabeça. Quem será? Não sei, a sério!!

Vivendi disse...

É sempre bom ler as opiniões dos ilustres pensadores económicos aqui do fórum.

Um bom exemplo do porquê da saída do €:

Quando o governo declarou bancarrota no final de 2001 e umas semanas depois desvalorizou a sua moeda, era o fim do mundo nos meios de comunicação social. A desvalorização iria causar uma inflaçção fora de controlo, o país ia ter dificuldades de pagar as suas contas porque não iria conseguir pedir emprestado, e a economia iria entrar numa espirar descendente até ficar numa recessão profunda. Depois, entre 2002 e 2011, o PIB da Argentina cresceu aproximadamente 90%, o ritmo mais rápido no hemisfério. O emprego está em níveis recorde, e tanto a pobreza como o extrema pobreza foram reduzidas em dois terços. Os gastos sociais, ajustados à inflação, quase triplicaram.

Agora o maior problema como o Filipe referiu é a capacidade política.

A Europa ainda está atônita com a tomada da Argentina sobre a repsol.

Mas eu deixo este artigo bem escrito para entender a nova realidade:

http://www.jn.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=2428608&opiniao=Daniel%20Deusdado

O mundo mudou e nada será como dantes, novas estratégias impõem-se.

A União Europeia só pode funcionar se for um bloco homogêneo nas suas políticas económicas e monetárias e pedir aos outros blocos (resto do mundo) que cumpram as mesmas regras que pedem aos seus.

Filipe Silva disse...

A situação da Argentina é peculiar, a venda da empresa em causa foi feita se não me engano pelo presidente Carlos Menem, quando o FMI estava no país e aplicou o tão famigerado consenso de Washington, e foi vendida ao desbarato, uma situação de grande corrupção.
Se a decisão é justa não tenho conhecimentos para prenunciar, nem para prenunciar sobre a presidente kirchner.

A UE devia por e simplesmente defender os seus estados membros, como? exigindo que os países que fazem comércio com ela joguem um jogo limpo, vou dar um exemplo, a produção de carne na europa é proibido dar esteróides anabolizantes (clembuterol) aos animais, mas permite-se que seja importada carne de certos países fora da UE que não é proibida nem fiscalizada a situação.

A vantagem da Argentina é que antes já era um país rico, e desenvolvido(os brasileiros referem-se à Argentina como a Europa, "vou à Europa") além que tem bastantes recursos naturais que nós não dispomos

Como disse o Tiago noutro post, o que parece no discurso dos governantes é regressar ao status quo anterior.

Li um artigo sobre o Ministro das finanças sueco, em que diz ser libertarian e que na suécia desde 2007 que tem vindo a cortar no estado social e nos impostos, principalmente nos dos mais ricos, tendo conseguido ter um saldo orçamental equilibrado (tem um peso do estado de 45% no Pib, inferior ao nossos 51%), não sigo muito estes países, fico admirado de em Portugal não se ter falado deste caso.

Tiago Mestre disse...

Filipe, a UE não consegue arbitrar jogo limpo com os produtos importados da Argentina ou da Nova Zelândia porque... é impossível!

Pedir à UE que controle todos os procedimentos que a própria UE exige aos parceiros económicos é uma quimera fiscal. Seriam precisos milhares de fiscais espalhados pelos 4 cantos do mundo e muito dinheiro. Faz lembrar a legislação portuguesa: muita doutrina, pouca incriminação. Só se atua quando há uma asneira qualquer.

Como já disse o Vivendi, Brasil aplica taxas aduaneiras no nosso vinho e no nosso azeite. Ok, tudo bem.
Então e nós? Que geramos deficits e não temos recursos naturais, andamos de "perna aberta"?

O artigo do Deusdado no JN fala sobre isto.

Filipe Silva disse...

Tiago, então a melhor forma de reagir é jogando o mesmo jogo, se o Brasil e companhia tem proteccionismo contra produtos Europeus, então a Europa devia reagir da mesma forma, colocando os produtos destes países fora do mercado europeu(através de pautas aduaneiras que tornassem proibitivo a sua importação).
Em teoria sou contra o proteccionismo, dado que este é prejudicial ao consumidor e prolonga no tempo empresas ineficientes, mas devemos ajustar as ideias à realidade, a agricultura hoje em portugal só com alguma protecção se conseguira levantar, mas penso que se devia estudar e aproveitar o know how dos antigos agricultores para se determinar quais as culturas em que teríamos alguma hipótese de sucesso a nível interno e externo, isto é, deveríamos colocar as universidades ao serviço do desenvolvimento agrícola, estudando os solos para ver que culturas seriam as mais indicadas, depois apostar na formação dos agricultores sobre formas eficientes de cultivo, isenção de iva nos produtos agrícolas, pecuários e piscícolas.
Primeiro para estimular este sector há muito abandonado, segundo uma forma de ajudar os mais desfavorecidos.

Vivendi disse...

A lógica é fazer aquilo que tem de ser feito, ou seja aquilo que nos beneficia.

A globalização desenfreada mais notória no início do séc. já expôs quem é ganhador e perdedor.

Portugal só tem alguma hipótese de sucesso caso exista equilíbrio nas suas trocas comerciais.

E não me venham com tretas de inovação tecnológicas pois quando a Índia se posicionar no mundo a teorias agora de muitos economistas irá cair por terra. É caso para dizer, cansados da China? Aguardem então pela Índia na revolução tecnológica.

Portugal tem de olhar para aquilo que é, daquilo que é capaz e encontrar a sua própria identidade e sociedade económica.

E naquilo que tiver realmente valor acrescentado utilizar para fazer as trocas comerciais por aquilo que não é capaz (essencialmente energia e matérias-primas).

Um grande problema e pouco referido foi na asneira das PPPs, a construção de auto-estradas e não ter passado pela ferrovia (mercadorias e ligações nacionais), sem loucuras de TGVs porque o país é pequeno.

O segredo de sucesso para Portugal será produzir e poupar. Deve participar sim na globalização mas de forma inteligente.

Tiago Mestre disse...

Filipe, estou de acordo contigo. O proteccionismo faz-me arrepios, mas se os outros jogam nesse tabuleiro e têm superavits e recursos naturais, porque é que nós, sem recursos e com pouca riqueza, nos devemos "armar" em ricos?

Se a Alemanha ainda nos "desse" um bocadinho do seu superavit, sob a forma de câmbios entre os bancos centrais ou outra, ainda pensava 2 vezes.
Agora assim, nem pensar, é só prejuízo..

Vivendi disse...

Tiago,

Basta ver o caminho que os EUA levam...

O Brasil na macro-economia hoje bate aos pontos os EUA.

Vivendi disse...

já agora Tiago, participa neste post:

Dá um ar da tua graça.

http://oinsurgente.org/2012/04/20/mais-proximos-do-default/#comment-112957

abraço

Filipe Silva disse...

O Brasil na minha modesta opinião não é exemplo para ninguém, mais cedo ou mais tarde vai haver por lá uma enorme crise, quando as bolhas que por lá se estão a formar arrebentarem.

É um país com enormes recursos naturais, mas com uma corrupção também enorme.

Sim concordo contigo Tiago, em teoria o livre mercado bate sempre o proteccionismo mas sermos os únicos a fazê-lo não me parece ser boa ideia.

O que devíamos era ser selectivos no tipo de proteccionismo a fazer, para isso teríamos de ver o que somos capazes de sermos bons e que podíamos quer exportar, quer troca de importações.

O principal problema é termos o estado e os principais empresários ligados tipo gémeos siameses, além que temos uma banca que só se limita a procurar viver de rendas, e não se arrisca a nada, basta ver que não temos venture capital, bussiness angels etc....
O banco só empresta 1 guarda chuva a quem já tem 3.

Vivendi disse...

Atenção que só defendo o Brasil no desempenho macro-económico quanto ao resto que o Filipe falou é verdade e pode juntar a burocracia.

Agora os maiores problemas de Portugal começam dentro da própria UE, uma UE que é seletiva no interesse dos mais fortes.

Alías se Portugal não estivesse na UE não teria caído tão fundo no buraco e já se tinha feito à vida de outra forma.

Vivendi disse...

E sobre as ferrovias vs auto-estradas?

Alguma opinião?

Tiago Mestre disse...

Vivendi, sou um apaixonado (obcecado) por comboios e utilizador inveterado. Faço viagens mensais Porto Lisboa no Alfa Pendular e Intercidades, e vibro quando o comboio se desloca a 220km/h.

Mas sejamos realistas:

- Para a ferrovia imperar teríamos que ter agregados populacionais muito concentrados.

- Para haver agregados populacionais concentrados é preciso organização demográfica e respeito pelo território.

- Não foi isso que aconteceu. A população está dispersa ao longo de uma faixa litoral e o interior está desertificado.

Como tornar a ferrovia viável em Portugal? Não é possível, por falta de organização demográfica.

O comboio precisa de muitos passageiros para ser rentável. É um transporte verdadeiramente de massas. Não havendo massas, fica a rodovia, mais adequada para pequenas deslocações discricionárias.

Ficaremos sem comboios e sem as auto-estradas!!
Algumas ficarão quase vazias e outras encerrarão por falta de verbas.

O povo deslocar-se-á MUITO MENOS. As viagens de passeio ao fim de semana e férias são já hoje uma pálida imagem do glorioso passado.

Lamento esta condição pela ferrovia, e muito me entristece esta minha opinião, mas é o que eu interpreto da realidade que conheço.

Vivendi disse...

Tiago,

Eu penso que ainda pode vir a ser um transporte de futuro. Quando o petróleo andar bem lá em cima!

Tendo uma linha adequada de vigo a faro e duas linhas com primacia para mercadorias, do porto de sines, e dos portos de leixões e aveiro com espanha.

Quanto às ligações ao interior exceptuando as linhas de mercadorias que podiam ter alguma vertente comercial é realmente bastante difícil a sua viabilidade, basta ver os exemplos das magníficas ligações ferroviárias turística do douro e a já esquecida linha do Tua.

Mas é triste saber que o país já teve um mapa ferróviário e sucessivos governos terem esquecido em benefício de auto-estradas que agora já não nos levam a lado nenhum.

Em termos de eficiência energética o comboio ganha a pontos.

Outro fator triste foi quando tentaram vender comboios históricos a museus ferroviários europeus e estes terem recusado por ser um atentado à cultura portuguesa.