14 de março de 2012

3, 2, 1... Start your printers ! (Parte 2)

Em Outubro de 2011 publicámos um pequeno post que refletia sobre a vontade dos governadores de bancos centrais em imprimir dinheiro como forma de manter as economias e o sistema bancário à tona de água. Na altura o BCE já comprava grandes quantidades de dívida soberana, o Banco de Inglaterra a mesma coisa mas apenas para as obrigações inglesas, o Banco do Japão idem, a China idem e a Reserva Federal, de forma mais velada (manipulando as taxas de juro nos leilões de dívida americana) também. O Banco Nacional Suíço também decidiu imprimir moeda para conter a subida do franco suíço, etc, etc.

Percebemos hoje que os motores das impressores nessa altura começavam apenas a aquecer. Com todo o nervosismo que se acumulou em 2011 e que "explodiu" em Novembro, sobretudo na Europa, o recém-chegado presidente do BCE Mario Draghi decide atuar com mais veemência no mercado bancário, emprestando ainda mais dinheiro e em condições bem mais favoráveis a qualquer banco, desde que apresentasse como colateral ativos que já pouco ou nada valem. A operação LTRO teve a primeira fase em final de Dezembro e a segunda fase em Fevereiro. Houve bancos que aceitaram a "oferta" e outros houve que acharam o risco de dependerem do BCE mais prejudicial do que benéfico. Enfim, com esta injeção massiva de dinheiro no mercado bancário, muito do nervosismo do dia-a-dia dissipou-se.

Com o passar de Janeiro e Fevereiro, o mundo financeiro apercebeu-se de que afinal alguma da relutância que havia por parte da Alemanha na impressão de dinheiro pelo BCE era afinal mais "letra" do que ação. Era isto que faltava aos investidores e aos banqueiros para voltarem a fazer o que sempre fizeram: comprar ações de outras companhias e das suas próprias, investir em dívida soberana de países insustentáveis, emprestar sem regra, agigantar ainda mais os próprios bancos tornando-os cada vez mais frágeis.

Ou seja, o BCE com o consentimento dos restantes bancos centrais deu mais um balão de oxigénio ao mundo financeiro, evitando reformas e preservando o modo de actuar business as usual.

Dito isto, fica a sensação de que não mais haverá no curto prazo problemas de liquidez nos bancos, mesmo os que estão falidos, na medida em que os bancos centrais, perante o aperto de Novembro de 2011, aliviaram tudo o que era regra de boa arte no negócio bancário.

Já em Março de 2012 Mario Draghi afirmou que caso o colateral oferecido pelos bancos para a obtenção de empréstimos seja de qualidade inferior às exigências do BCE, Draghi baixará essas mesmas exigências. Tudo está feito para que o risco sistémico dos bancos se transfira para o sistema público e para a moeda que todos nós utilizamos e que supostamente deveríamos confiar. Até sugerimos a Draghi outra coisa: elimine a necessidade de colateral! Empreste simplesmente o que os bancos precisarem sem pedir garantias de espécie alguma, e assim, de uma só vez, transfere todo o risco do privado para o público.

Todas estas benesses foram do agrado dos investidores e a corrida às bolsas e à dívida soberana dos países que estão no limbo (Itália, Espanha, Bélgica, etc) voltou novamente.

Conclusão: Se Trichet já era um mãos largas, Draghi é muito mais, e talvez fosse esta a engrenagem que faltava na mega impressão de dinheiro que se espera neste planeta Terra nos próximos anos.

Sempre que houver um aperto já sabem, os governadores dos bancos centrais (políticos) sucumbirão aos princípios morais que devem reger qualquer cidadão, só para que se salve mais um dia.

Tiago Mestre

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