23 de março de 2012

(Aparentemente) o problema europeu está resolvido!

Caros leitores e leitoras, em múltiplas declarações, líderes europeus têm referido que o pior da crise europeia já passou, apesar de ainda gravitarem alguns riscos pendentes.

Este tipo de sentenças, como ouvimos da boca de Draghi ou de Barroso, reflectem o modo desesperado dos líderes europeus em se quererem ver livres desta embrulhada e chutar o problema lá mais para a frente, de preferência para um futuro tão distante que nenhum deles ainda cá esteja a gravitar.

Não há almoços grátis, mas quando Draghi decidiu soltar os cordões à bolsa imprimindo 1 trilião de euros num espaço de 3 meses, é óbvio que algo de transitoriamente positivo teria que ocorrer:

~ Mais dinheiro a perseguir os mesmos bens, subindo o valor destes. Tais operações reforçam o valor dos ativos dos bancos tornando-os menos arriscados.
Num parágrafo, foi isto que Draghi tentou fazer e, em abono da verdade, até conseguiu. Resta saber por quanto tempo. Esta operação financeira do BCE assemelha-se muito à injeção de drogas num paciente profundamente dependente e que desesperava há já alguns dias. O paciente ainda vive agora momentos de delírio e suposto bem estar, mas a realidade, mais cedo ou mais tarde, voltará a instalar-se, e com ela vem a ressaca e o desespero por mais. É esta a parte da história em que o empregado do restaurante vem cobrar o suposto almoço grátis.

Draghi talvez tenha subestimado que a injeção desta droga em doses massivas também afeta o preço de certos bens que nenhum de nós gosta, como o petróleo, por exemplo. Neste aspeto não é só Draghi o ator principal. Ben Bernanke, governador da Reserva Federal Norte-Americana, há muito que se iniciou nestes rituais manipulatórios. Ainda Draghi procurava emprego e já Bernanke influenciava ativamente os mercados de capitais com as suas ridículas taxas de juro de 0,25% e a aquisição de ativos tóxicos que "certos" bancos possuíam nos seus balanços mas que desesperadamente se queriam ver livres.

Draghi quer-nos fazer acreditar que agora as coisas irão correr melhor, e caso os mercados comecem a descarrilar, ele lá estará, qual cão raivoso, a influenciar, a manipular e a boicotar, se for preciso, o normal funcionamento do mercado, que apenas se deveria basear na percepção de risco de quem quer comprar e de quem quer vender.

Não é por acaso que desde há 4 dias consecutivos que as bolsas europeias registam perdas correspondentes aos ganhos das últimas semanas. Basicamente, o dinheiro fresco também se esgota. Quem comprou ativos que podem subitamente subir de valor (como ações) deve estar preparado para a sua súbita queda. O mesmo se aplica para a grande maioria dos bens que são hoje transaccionados nos mercados electrónicos/virtuais, nomeadamente as obrigações da dívida soberana.
Já estamos a ver o empregado do restaurante a deslocar-se para a nossa mesa com o talão de venda na mão.

Cortesia do site Zerohedge, abaixo publicamos a evolução do preço das "novas"obrigações gregas que os investidores trocaram pelas "velhas" a meio de Março deste ano:


Ui, faz lembrar as obrigações gregas "velhas" em Janeiro-Fevereiro de 2010. Oxalá estejamos enganados.

Tiago Mestre

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