12 de março de 2012

A distribuição de terras pelo Estado à população já foi tentada em 1975. Convêm que a história não se repita desta vez.. (Parte 1)

Caros leitores e leitoras, temos ouvido da Ministra da Lavoura algumas afirmações na televisão sobre a distribuição de terras para quem se candidatar a arrendá-las.

A forma ligeira com que a afirmação está a ser passada cá para fora dá a sensação de que esta "coisa" de semear, plantar e colher é tarefa simples e acessível a qualquer um. Não é! E em jeito de conselho à Ministra, colocamos em 3 posts algumas questões que devem ser respondidas nos gabinetes do Ministério antes que saiam leis que depois não se adequam à realidade. (perdoem-nos a falta de modéstia)

As terras que estarão disponíveis para arrendar podem ser analisadas da seguinte forma:

1. Características fisico-químicas, de temperatura e de humidade do terreno, para se perceber o que é preferível semear:
Hortículas de ano inteiro - necessitam de água na primavera e no verão. Se há ocorrência de geada, apenas as couves e algumas espécies de alface aguentam.
Hortículas de primavera/verão como tomateiros, pepineiros, pimenteiros e feijão - não podem ter temperaturas frias de noite, necessitam de água em abundância
Tubérculos - necessitam de terras com humidade, e devem ser regados na primavera/verão;
Cenouras - necessitam de terras tendencialmente arenosas e não as do tipo barrento.
Cereais de sequeiro - necessitam de terras com humidade e que chova pelo menos na primavera
Cereais de inverno - necessitam de água durante o Inverno e Primavera
Morangos - necessitam de pouca terra (podem ser cultivados em estruturas tipo vasos ou recipientes). Devem ser regados na Primavera e no Verão.
Árvores de fruto para terras mais frias, como pereiras e kiwis - necessitam de água no inverno, na primavera. e no verão, sobretudo se forem árvores novas
Árvores de fruto para terras mais quentes, como laranjeiras, limoeiros, macieiras - necessitam de rega na primavera e no Verão.
Oliveiras - necessitam de água nos primeiros 2 anos de vida, sobretudo se for em terras mais arenosas que deixam escapar mais a água.

2. Grau de pluviosidade na região, linhas de água e lençois freáticos.
Para culturas menos exigentes de água, como o cereal (milho) de sequeiro, bastará saber as probabilidades de chuva para o trimestre da Primavera, e se a terra for boa a reter humidade (terras fortes, tipo barrentas) pode não haver necessidade de regar, tornando a cultura bastante eficaz e com custos muito baixos
Para culturas mais exigentes de água, como hortículas e árvores de fruto, é preciso saber onde se vai buscar a água, já que a água da rede pública não é a mais adequada. É preciso saber se há linhas de água perto, lagoas, barrancos, e caso não haja, ter-se que se optar por furo ou poço. Qualquer uma destas opções requer investimentos avultados, dificultando a execução deste tipo de culturas, sobretudo num sistema em que as terras são arrendadas, em que cabe ao senhorio realizar este tipo de investimentos.

3. Tipos de rega
Consoante a cultura e a dimensão da mesma, o tipo de terreno, o grau de pluviosidade da região e o acesso a água, deve-se adaptar o sistema de rega mais adequado e com menores custos.
Caso estes assuntos não sejam estudados, o pequeno arrendatário ver-se-á obrigado na sua ignorância a regar de forma manual, com regador ou com mangueira, tornando a sua cultura bastante cara e com um desaproveitamento enorme de água.

Rega de gota a gota é adequada para todo o tipo de árvores de fruto e tubérculos. Se o terreno for desnivelado ou o depósito de armazenamento de água estiver num ponto mais elevado, é possível regar sem recorrer a bomba eléctrica ou a gasolina, poupando nos custos de exploração. Este tipo de rega poupa muita água, contudo requer investimento inicial.

Rega com fita ou tubo perfurado é adequada para todo o tipo de hortículas, sobretudo as trepadeiras, como tomateiros, pepineiros, pimenteiros e feijão. Também é ideal para tubérculos. Se o terreno for desnivelado ou o depósito de armazenamento de água estiver num ponto mais elevado, é possível regar sem recorrer a bomba eléctrica ou a gasolina, poupando nos custos de exploração. Este tipo de rega poupa muita água, contudo requer algum investimento inicial.

Rega com aspersor é adequada para hortículas rasteiras, sobretudo as que "gostam" de receber água na folha, como alfaces, couves, abóboras ou courgettes. Necessita de água com pressão superior a 2-3 bar, exigindo maior consumo de água e bomba eléctrica ou a gasolina para garantir a pressão mínima do aspersor. Este tipo de rega não poupa muita água e requer investimento inicial avultado. Promove o aparecimento de ervas daninhas, exigindo ao produtor que faça monda manual ou monda química.

Rega com pivot serve grandes áreas de cultivo, como pasto e cereais de regadio. Apenas acessível a lactifundiários devido ao investimento e às grandes áreas de cultivo exigidos.

Continua no próximo post


Tiago Mestre

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