Caros leitores e leitoras, numa notícia da SIC Notícias esta manhã, Francisco Louça informou a população portuguesa de que os empréstimos gregos possuem uma taxa de juro mais baixa do que os empréstimos portugueses. Não diz quanto, nem mesmo em termos médios, mas pior não explica as razões que possam estar por detrás.
O objectivo destas afirmações é dar a entender à população de forma velada que os bancos aproveitam-se mais em Portugal do que na Grécia, e que tal é "injusto" para o povo português, podendo assim o povo encontrar em Louçã o justiceiro e o verdadeiro zelador dos nosso direitos.
Para reforçar a mensagem, Louçã afirma que na Grécia as coisas estão muito pior do que em Portugal, nomeadamente ao nível do desemprego e portanto (concluímos nós) na Grécia os bancos até poderiam carregar mais nos empréstimos do que em Portugal. Não percebemos aonde Louçã quer chegar. Mas o que sabemos é o seguinte:
Há muitos meses que os bancos gregos vêem os depósitos desaparecerem, refletindo a necessidade da população recorrer às suas poupanças, e sobretudo retirar capitais para o estrangeiro.
Em Portugal, os depósitos têm aumentado, e se se lembram, até há pouco tempo havia publicidade na televisão a promover depósitos com taxas de juro muito, muito aliciantes. Tal fenómeno de remuneração elevada dos depósitos encarece naturalmente os empréstimos concedidos, na medida em que é na diferença que o banco ganha dinheiro.
Louçã esqueceu-se de referir que se taxas de juro mais altas nos empréstimos agravam a condição dos devedores, é porque os depósitos são mais bem remunerados, e se são mais bem remunerados, então estamos a favorecer aforradores e gente que poupa. E é exatamente este tipo de gente que deve ser apoiada porque país sem poupança é país sem capital para investir. Não podemos basear-nos apenas na "criação" de dinheiro pelos bancos através do sistema Fractional Reserve Lending, arte mágica que promove bancos maiores, com mais lucros mas muito mais frágeis e sujeitos a insolvência num abrir e fechar de olhos.
É preciso haver dinheiro parado (aforradores) para que os bancos peguem em parte (não muita) dele e o emprestem a quem não pode mas tem vontade.
Outro fenómeno que interfere com tudo isto são os empréstimos quase de graça que o BCE concede a todo o tipo de bancos, bons maus ou assim assim. Há anos que os bancos gregos dependem do financiamento do BCE, e não fosse esta manipulação grosseira do banco central, os bancos que supostamente emprestam a taxas de juro baixas já nem sequer existiam, dando lugar a outros que talvez favorecessem mais os aforradores gregos. Paralelamente, ficando os bancos gregos na mão do BCE, estes obtêm financiamento a 1%, e sem poderem recorrer aos depósitos (porque estão a desaparecer), acredito que façam empréstimos à população a 4, 5 ou a 6%, ficando com a diferença. Mas os portugueses voltaram-se há 1-2 anos para os depósitos como forma de obter mais solidez bancária e emprestar de forma mais segura, e tiveram que subir os juros para cativar depositantes. Ora, se remuneram os depósitos a 4, 5 e 6% como vemos todos os dias na televisão, parece-nos difícil que emprestem também a 4, 5 e 6%.
Acreditamos que o BCE também financia os bancos portugueses, e por aí estes até podem aliviar os juros cobrados, mas não acreditamos que isso faça muita diferença.
Moral da história:
Na Grécia os depósitos desaparecem por cada dia que passa, e os bancos voltaram-se exclusivamente para o BCE, que empresta a 1%.
Em Portugal a orientação dos bancos foi de captar depósitos e financiarem-se o menos possível no BCE, e com isso a taxa de juro para os empréstimos teve inevitavelmente de subir.
Para atrapalhar mais a situação, os bancos portugueses e presumimos que os gregos também registaram prejuízos recorde, tornando a vida dos banqueiros mais difícil e sujeitando-os a decisões que tendencialmente resvalam para cobrar juros e comissões para tudo e mais alguma coisa cada vez mais elevados.
Louçã, se quer informar a população sobre opiniões formadas na sua mente, deve dar o contexto, a informação e as conclusões de forma desassombrada. Ele (como nós), não tem que ser nem a favor de uns bancos nem contra outros. Basta apresentar os números e a informação estatística, fazendo jus à sua reputação de economista, e não de político à caça de mais uns votos.
Já agora, sugerimos a Louçã que reflita sobre esta forma de fazer política, não tanto pelo plano moral, que esse já nem discutimos, mas pelo simples facto que a população já não está para o aturar com estas atordoadas informativas, como se viu nas últimas eleições.
Algum pragmatismo para o economista que se tornou político não lhe fará mal certamente!
Tiago Mestre
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