16 de outubro de 2012

Tudo somado, é isto que sobra do OE 2013

Depois de tanta conversa, tanta tinta, tanta politiquice e tanto tribunal à mistura, é isto que sobra para 2013 em comparação com 2012:
Página 91 do relatório do OE2013:


Gaspar ainda acredita que a receita total subirá de 73,7 mil para 74,6 mil milhões.

Os juros da dívida representam o monstro da despesa, como já tantas vezes falámos aqui no Contas.
8,6 mil milhões de juros para 2013 parece-me otimista. Talvez Draghi tenha prometido a Gaspar que os juros descerão à força, nem que com isso o BCE tenha que comprar o papel quase todo da dívida portuguesa.

A despesa, essa, não tem forma de baixar, nem em 2012 nem em 2013. Baixar 30 milhões de euros em 2013 face a 2012 é ridículo.
Por muito que Gaspar tente, está tudo armadilhado.
Se despede, gasta mais em SS
Se reduz pensões/salários e a economia cai, o desemprego sobe e gasta mais em SS.

E o défice só baixa dos 8 mil  milhões sempre que se inscrevem MUITAS receitas extraordinárias. Não fossem os fundos de pensões, e 2011 acabaria com 8 mil e 2012 com 10,6 mil milhões de défice

A barreira dos 8 mil milhões no défice está a ser muito difícil de superar, indiciando a tal expiral recessiva: baixa-se na despesa e/ou aumentam-se os impostos, e a economia dá um trambolhão, tirando mais receita ao Estado e voltando tudo à estaca zero.
Se a dívida pública chegar aos 200 mil milhões em 2012, poderemos contar para 2013 com mais 7 ou 8 mil milhões a mais, que é tão só o défice desse ano que é financiado na sua totalidade pela emissão de dívida.
2013:   200 + 8 = 208
2014:   208 +8 = 216
2015:   216 + 8 = 224 ... e por aí fora
E o PIB para 2013, caso se verifique recessão de 2%, será de 162.
A distância entre estas 2 grandezas não pára de aumentar, como prova o rácio de dívida de 119% do PIB para 2012.

Não se esqueçam que as mesmas vozes ilustres que já criticam abertamente este orçamento, são as mesmas que criticaram o aumento da TSU, o corte dos salários, etc, etc.
Refiro-me obviamente a Cavaco Silva, a Manuela Ferreira Leite, a Jorge Sampaio e até a Bagão Félix, entre muitos outros.
Ninguém quer assumir a dor, e todos preferem adiá-la para algures no futuro.

Tiago Mestre

7 comentários:

Pedro Miguel disse...

Apesar de tudo há algumas situações que os números do orçamento não mostram.

A despesa pública desce apenas em 30 milhões de euros, mas não podemos esquecer o efeito de aumento de despesa feita pela reposição de subsídios: 1.600 milhões de euros.

Tiago, onde foste buscar esta informação?

"E o PIB para 2014, caso se verifique recessão de 2%, será de 162."

É que do que tenho visto e analisado nada aponta para isso, antes pelo contrário.


Tiago Mestre disse...

Miguel enganei-me ao escrever 2014. Queria dizer 2013. Terei que corrigir e atualizar o post.

Em relação à recessão para 2013, as estimativas "oficiais" de agora apontam para 1%, contudo não acredito que seja dessa ordem. O governo em 2011 referiu que a recessão em 2012 seria de 1,8% (estou a citar de cor), e afinal será de 3,3%. e dizia que para 2013 já haveria crescimento: 0,qq coisa.

Se agora vêm dizer que afinal a recessão é de 1% para 2013, acredito plenamente que a margem de erro ande pelo dobro, ou seja, caímos nos 2%.
Mas qualquer estimativa que se faça do PIB para 2013 e daí em diante será SEMPRE grosseira. Não há fórmulas para calcular e prever, apenas impressões, dados estatísticos e perspetivas de futuro.

No Outono de 2010, ainda esta década não tinha começado, compilei dados desde o início do século XX acerca do PIB português, e conclui que, baseando-me no passado, Portugal terá uma recessão média de 0,77% ao ano na década em que estamos. Poder ver aqui, foi o meu primeiro post do Contas:
http://contascaseiras.blogspot.pt/2010/12/portugal-e-proxima-decada-2011-2020.html
E
Salvo erro em 2011 a recessão foi de 1,8%, 2012 será de 3,3% e 2013 de 2%, presumo eu. Mas mesmo que a recessão seja de 1% em 2013, o que é relevante é que numa década, o crescimento projetado é de -0,77% ao ano. Poderá haver anos de crescimento: 0,x aqui ou até 1,x acolá, mas em média o resultado é muito mau e totalmente insustentável. Em 2013 a recessão poderá ser de 1%, 2% ou até 0%, mas no contexto mais lato, não é assim tão relevante, apesar de que 0 é melhor do que -1 ou -2. A tendência é que é mesmo importante, e essa é de arrepiar.. Oxalá esteja enganado

Pedro Miguel disse...

Estás um pouco equivocado nos números.

A previsão do governo para recessão este ano era de 2,8% e não de 1,8%. Fui confirmar no documento de Outubro de 2011.

Espera-se neste momento que o PIB caia 3% este ano e não 3,3%.

Continuo a não concordar com o número de 2% que apontas, porque não há nada aparente que mostre um tal desvio de previsões, antes pelo contrário.

Uma das bases para a tua previsão era um desvio de 1,8% para 3,3% quando na realidade é previsto que seja de 2,8% para 3%.

Tiago Mestre disse...

Pedro, se fores ao Documento de Estratégia orçamental 2011-2015, de Agosto 2011, a recessão prevista para Portugal em 2012 é de 1,8%.
Pesquisas no Google e aparece-te logo. Página 24.
Foi revista em Outubro, para 2,2% como referes, mas já tendo em conta novos desenvolvimentos.

PIB para 2012: 3 ou 3,3%
No documento de estratégia orçamental para 2012-2016, está referida uma queda de 3%. Podes consultar também no google.
3,3% foi uma percentagem que ouvi algures e que retive.

Mas este é o risco que se corre de errar quando lidamos com tantos números, com proveniências tão distintas e ainda por cima nos expomos à sociedade ao referi-los em público. Nada a que não esteja habituado.

Não concordas com a recessão de 2% para 2013. Pedro, sinceramente, o que é que isso interessa? Estamos no domínio da sugestão, a não ser que tenhas informações que eu não tenho.
O que interessa é que tu estejas CERTO e eu esteja ERRADO, porque recessão de 2% é muito pior do que 1%.
Mas infelizmente há uma tradição histórica dos políticos em pintar a realidade mais cor-de-rosa do que ela é. Oxalá o Gaspar esteja certo e eu errado, porque quando se erra nesta previsão do PIB, há todo um conjunto de indicadores que ficam logo errados também, e a credibilidade do executivo cai logo pelo cano de esgoto. Baseio-me na tradição e não naquilo que gostaria que acontecesse ou deixasse de acontecer.

A minha sugestão é que se aponte para cenários macro-económicos tendencialmente pessimistas, beneficiando as contas públicas caso a realidade se prove mais favorável. Mas para isso é preciso coragem política.
Tenho um passado favorável na minha empresa por pensar e decidir desta forma, o que me deixa mais confortável ao defendê-la.
Não conto com os ovos no cú da galinha..

Pedro Miguel disse...

Tens razão sobre o valor nesse documento, mas eu estou a comparar valor de previsão inscrito em orçamento.

Devo-te dizer que também aponto para cenários pessimistas e também por isso nem um pouco fui afectado pela crise.

Tens toda a razão no que dizes quanto a ser tudo cenários.

A minha expectativa quanto ao próximo ano é que há indicadores fortes de alguma mudança.
Alguns desses indicadores inclusive podem ter efeito ainda este ano e talvez a recessão fique muito ao de leve abaixo dos 3%.

Mas só daqui a uns meses podemos ter a certeza.

Tiago Mestre disse...

Pedro, tenho uma sugestão para ti.

Desconheço a tua formação académica, não obstante, sinto que a tua "vontade" de que a recessão em 2013 não ultrapasse os 1% é forte. Eu tb me formei em Eng Eletrotécnica e meti-me nesta alhada.
Como tal, exorto-te a realizar o seguinte exercício que me lembrei agora enquanto fazia o jantar (desculpa-me a sobranceria):

Tenta encontrar os argumentos tão técnicos quanto possíveis que consubstanciem a tua vontade de que a recessão não ultrapasse os 1%.
Ou seja, tenta provar-me que a formação do PIB em 2013 apenas descerá 1% face a 2012.

Já sabemos que o PIB é constituído por várias parcelas, e também é possível obter os valores de cada uma delas na net para anos anteriores e assim formares o teu caso.
Que dizes a efetuar esta compilação e compreender a tendência de queda ou de subida nas várias parcelas ao longo dos anos?
Consumo Privado
Consumo Público
Investimento
Exportações
Importações

A par desta sugestão, se houver indicadores económico/sociais que sejam relevantes para formar a tua opinião para 2013, utiliza-os como achares melhor. Certamente que o aumento de impostos para 2013 é algo de muito relevante.

Eu desconheço como é que o governo faz os seus estudos macro-económicos para o PIB, mas presumo que também ninguém saiba, à exceção da malta no Ministério, no BdP e nas instituições internacionais.
Mas gostaria de saber para também poder avaliar.

Sobre a minha perspetiva do PIB cair em 2013 2%, apenas me baseio nos dados atuais de 1% e na tradição histórica dos políticos em errarem sempre para cima nestas matérias. Em termos objetivos e concretos, os meus argumentos são fracos, já que não se baseiam em dados estatísticos nem de estudo da realidade nas suas múltiplas dimensões.
Já te mostrei a vulnerabilidade do meu caso, e se me provares que os teus argumentos são melhores do que os meus (presumo que não seja difícil), eu mudo de opinião e passo a referir o teu estudo como base para a minha avaliação do PIB para 2013, independentemente da recessão for superior ou inferior a 1%..

Fica a sugestão, não tens que dizer nem sim nem não, já que nem tens sequer o dever de responder a esta minha provocação.

Pedro Miguel disse...

Não encaro como provocação Tiago.

Tendo tempo vou procurar fazer isso, mas certamente não será nos próximos dias.