Por terras americanas é hábito apelidar com termos e acrónimos todos os fenómenos económicos e programas que o governo e a FED lançam cá para fora.
Desde há uns meses que alguém se lembrou da expressão Fiscal Cliff, e o termo ficou.
Basicamente refere-se à promessa do Congresso em reduzir despesa e aumentar impostos no dia 1 de Janeiro de 2013.
Aparentemente, este plano foi um jogo de promessas entre democratas e republicanos no Verão de 2011, aquando do aumento do teto da dívida e a descida do rating pela S&P.
Ficaram as promessas de se fazer algum coisa, mas só lá para 2013, bem depois das eleições. Mas algum dia o futuro se torna presente, e o debate há meses que já começou. Ninguém quer que o Congresso fique quieto, e todos pedem que algum tipo de solução intermédia seja obtida para que a dor não se instale.
O nível do debate está bem atrás do nosso aqui na Europa, já que não há ninguém com poder para exigir austeridade, e a Reserva Federal, entidade que poderia impor alguma austeridade monetária, não está para aí virada.
O drama que eles agora estão a viver por antecipação é aquele que tem dividido os políticos e os povos europeus: Austeridade vs Estímulo
A austeridade tenta reduzir o défice e mais tarde a dívida com recessão na economia e mais desemprego no curto prazo. Contudo, corrige os maus investimentos e a má alocação de capital em investimentos que devem desaparecer, fundando as bases para uma economia mais saudável num futuro algo distante.
O estímulo obriga a manter défices elevados e a amontoar mensalmente mais 100 mil milhões de dólares na dívida. O rating da dívida descerá certamente, contudo o desemprego não sobe de forma tão agravada e a recessão pode ser ligeira ou inexistente no curto prazo. No longo prazo? who cares?
É este o dilema existencial que os EUA terão pela frente nos próximos tempos, dando mais algum tempo para a Europa continuar o seu processo de kick the can down the road, adiando o dia D mas empilhando cada vez mais dinamite em Bruxelas.
E já agora, parece que Rajoy e Hollande combinaram as linhas gerais dos seus orçamentos para 2013.
Muitos mais impostos, pouca redução da despesa e previsões de crescimento das economias a roçar o delírio.
Sendo mauzinho, o que estão a fazer com os ricos franceses começa a assemelhar-se às primeiras perseguições dos judeus, esses "porcos avarentos", na Alemanha nazi.
Num país em que a despesa do Estado representa 56% do PIB, estou para ver onde irão encontrar investidores com vontade suficiente para enfiar o seu dinheiro numa sociedade polarizada e profundamente rancorosa para com o capital e os capitalistas.
Lá para Agosto de 2013 estaremos a ver Hollande a contorcer-se na cadeira com uma execução orçamental tão deficiente que a barreira dos 100% do PIB de endividamento estará já ali ao virar da esquina.
Tiago Mestre
3 comentários:
O nível de debate é com muito mais nível do que por aqui.
Verdade que quer os Burros quer os Elefantes dizem mais ou menos o mesmo.
Mas existe o Ron Paul que conseguiu várias coisas, uma delas uma auditoria à FED, outra foi começarem a falar sobre uma regresso ao padrão ouro, os republicanos vão formar uma comissão para estudar o caso, provavelmente não vai dar em nada, mas é a step in the rigth direction, aindahá uns meses isso era considerado uma idiotice.
OS jovens estão muito mais interessados na politica do que por aqui, Ron Paul falou a milhões de jovens, percorreu os Campus universitários e teve sempre audiência cheia.
É verdade que Washinton é corrupta e os lobby´s muito fortes, mas começa-se a ver alguma coisa, se seguires apenas as CNBC Bloomberg e companhia sim verdade parece que vivem noutra realidade, mas se vires a realidade não é essa, e existe muito mais participação do que aqui.
Por exemplo basta ver a quantidade de convidados diferentes que vao ao Kaizer report.
A austeridade se fosse aplicada, não seria mais do que o Estado deixar de gastar o que não lhe pertence, permitindo que o mercado se ajuste.
Ao contrário do que muitos especialistas pensam o salário tem mesmo de cair, bem como tem de haver mesmo muitas falências, muitos despedimentos e o processo natural de reorganização da economia, passar de uma economia insustentável para uma sustentável leva muita dor.
A sociedade portuguesa ao não aceitar isso e lutar contra só vai lutar a losing battle, vai perder e vai se formar muita mais dor, porque empresas que sobreviveriam iram morrer e vamos demorar muito mais tempo a sair da crise e vamos sair em muito pior estado.
Ler a interpretação da crise de 1929, ver o que na realidade foi feito, ver que o New Deal não safou ninguém, estudar a de 1920/21 e perceber que numa economia capitalista o Estado não tem nenhuma função.
Em frança nada de novo, a história deles é de impressão, o banco de frança fartava-se de monetizar os deficit, ideia destes é vamos fazer isto se correr mal o BCE dá uma ajudinha.
Espanha o Rajoy tem medo da rua, se cortar na despesa os anarquistas e socialistas vão sair À rua, e vão causar danos muito acentuados,
Mas por lá ainda existe uma réstia de esperança, existem economistas em condições, o vivendi postou um abaixo assinado de 50personalidades contra o aumento dos impostos e a favor de corte nos gastos, em Portugal lembro me que foi o contrário a favor de tgv e aeroportos.
Tiago nada vai ser feito, o sistema vai implodir, as pessoas estão completamente dependentes, a lavagem ao cérebro muito grande.
Enquanto não se perceber que quando o Estado da algo a alguém retira de outro, não vamos a lado nenhum.
Que um salário de um médico é pago pelos impostos de um sapateiro, que um medicamento comparticipado é pago à custa de um emprego no privado estamos condenados a ser pobres
Filipe, nem me lembrei do Ron Paul enquanto escrevia.
Também existe a petição do Grover Norquist assinada por vários congressistas que os impede de autorizar aumento de impostos.
Existe o Tea Party, e por aí fora.
Contudo, o gato é este:
as pessoas que apoiam Ron Paul e o corte de despesa não têm a perceção real da dor que tais medidas irão já hoje provocar na sociedade americana. Esta já passou o tipping point e austeridade significará muito mais desemprego e forte recessão já no presente. O Estado já está demasiado imiscuído na sobrevivência de uma parte da sociedade.
Food Stamps: 40 milhões
Segurança Social com défices sucessivos
Orçamento com receitas 1,5 triliões e despesa de 3 triliões.
Mexer agora será abrir um rombo de consequências catastróficas no curto prazo. Lidar com essa dor na esperança de que a economia se reorganize lá algures no futuro parece-me um exercício só para aqueles com a consciência mais aguçada, como Peter Schiff, Gerald Celente e talvez Ron Paul.
Talvez tenhas razão, mas a dor já não é possível de evitar, quanto mais tempo se demorar maior será a dor no futuro.
O Ron Paul tem perfeita noção do que defende, apesar de ser médico, percebe muito melhor como uma economia opera do que a maioria dos Economistas.
Temos de pensar que existe muita despesa que seria cortada com o Ron Paul que pouco afectaria o americano comum.
Se o exercito reduzi-se a sua presença no estrangeiro como defende o Ron seriam alguns milhões,e depois a sua politica externa teria uma acentuada redução da despesa.
A forein aid é claramente anti constitucional, e são muitos milhões só nestes dois seriam um corte de despesa muito considerável.
Existem muitos biliões das companhias americanas que não regressam aos USA devido ao IRC ser de 35%.
A economia americana tem uma capacidade de reorganização muito superior À Europeia, basta ver o caso de 1921, sim a dor seria brutal, mas em muito pouco tempo estaria reorganizada.
O americano actual esta a mudar, antes era uma vergonha estar na assistencia e hoje começam a ser uma sociedade mais europeia nesse aspecto, é necessário fazer alguma coisa depressa.
O Ron Paul seria o único capaz de lixar o esquema financeiro, é preciso fazer o que é necessário o mais depressa possível, a continuar a coisa 1929 e restantes vai parecer um sonho.
Convém não esquecer a história do império romano.
E Ron Paul conhece-a.
O Romney quando disse que havia 47% que ia votar Obama porque depende do dinheiro do Estado, estava a falar a verdade.
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