Caros leitores e leitoras, após termos obtido um documento muito interessante do Eurostat que nos dá uma visão das contas públicas até 1996, verificámos a seguinte evidência e que já está evidenciada no nosso painel lateral das Contas Nacionais.
Dívida 1996: 54,2 mil milhões
Juros pagos: 4,4 mil milhões
Juro médio: 8,1%
Dívida 2011: 185 mil milhões
Juros pagos: 6 mil milhões
Juro médio: 3,2%
Foi esta queda vertiginosa no juro médio que nos permitiu mais do que triplicar a dívida em 15 anos sem que os custos dessa mesma dívida aumentassem consideravelmente.
15 anos a endividarmo-nos sem sofrer as respetivas consequências ao nível do custo dos juros induziu toda a sociedade, e principalmente os políticos, de que o sistema poderia continuar assim para sempre.
15 anos é muito tempo no ciclo político. Esqueceram-se que já tinha havido nos anos 80 juros e inflações a roçar os 20%.
E já todos percebemos porque é que ocorreu esta queda vertiginosa no juro soberano português e se manteve durante assim tanto tempo, mesmo sem crescimento económico, aumento do desemprego, aumento da dívida, balança externa desequilibrada 15 a 20 mil milhões ao ano, etc.
Se contássemos apenas connosco e se os investidores soubessem disso, hoje não estaríamos com 8 mil de juros anuais e muito menos com 200 mil de dívida pública nem 650 mil de dívida total ao exterior.
Os políticos já teriam que ter tomado as decisões difíceis HÁ MUITOS ANOS, quer gostassem ou não, quer fosse popular ou não, quer ganhassem ou perdessem votos.
Assim não, foi tudo à grande e à francesa.
Será que seremos capazes de analisar agora, em 2012, este passado bem recente, tirar conclusões e propor soluções realistas para o futuro?
Tiago Mestre
3 comentários:
Caro Tiago Mestre,
Primeiro queria agradecer-lhe o trabalho que tem a recolher estes vários dados autênticos retratos da nossa triste situação.
Posso pedir-lhe que vá colocando os links das fontes públicas que usa? Infelizmente não existe um local que centralize todos os dados estatísticos conhecidos da economia portuguesa, e sempre ajudava aos raros interessados que ainda tentam perceber o buraco onde estamos metidos...
Obrigado pela atenção,
João Pedro
A canela...
Fez-me lembrar um poema de Sá de Miranda, poeta do séc. XVI:
"Não me temo de Castela
de onde a guerra inda não soa.
Mas temo-me de Lisboa
que ao cheiro desta canela
o reino nos despovoa."
Claramente um poema muito actual, até pelo período da altura.
Portugal, na época abandonou a agricultura, a produção, porque era fácil ir buscar especiarias às Índias, vender na Europa e usar esse dinheiro. Não foram criados os alicerces para uma economia forte.
Mais tarde, a mesma história com o ouro do Brasil, produção abandonada, ouro vendido para a Europa e economia financiada sem produzir. Quase tudo era importado.
A canela agora foram os juros, a facilidade de pedir emprestado para consumir e desbaratar levou o país a uma situação delicadíssima!
Não quero fazer considerações sobre quem aumentou a despesa, quem pediu para gastar, mas... a canela tem um preço e em 500 anos nada se aprendeu.
João, se quiseres envia-me o teu email e remeto-te todos os PDF's da DGO, do Eurostat, etc, etc
o meu mail é: tiagomestr@gmail.com
Enviar um comentário