22 de outubro de 2012

Como poderíamos tentar prever o PIB? (Parte 2)

O Pedro Miguel deu uma ajuda bem boa ao ver na Pordata séries a partir de 1960 de 3 das 5 rúbricas que compõem o PIB:
Despesa Pública
Despesa Privada
Investimento (Formação Bruta de Capital)

... e depois descobri eu as Importações e Exportações desde 1996.

Relembrando a fórmula do PIB:
Consumo Público + Consumo Privado + Investimento + Exportações - Importações

Os gráficos abaixo revelam a variação anual destes vários componentes, sendo que o segundo gráfico revela a variação anual, mas baseada na média dos últimos 5 anos. Desta forma obtêm-se uma linha mais "serena" e menos sujeita a epifenómenos anuais:



No primeiro gráfico é difícil perceber tendências pelo que decidi usar as médias dos últimos 5 anos no segundo gráfico.

E o que se vê?
É que o PIB cai em TODAS as suas rúbricas, com menor incidência nas exportações.
Sendo as Importações uma coisa MÁ para o PIB, porque subtrai ao valor deste, a sua queda não é suficiente para compensar a queda de todos os outros. Mas há rúbricas que caiem mais do que outras.

A trajetória do Investimento é arrepiante.

A afirmação que vou fazer é discutível, mas sabe-se que esta rúbrica, também referida em alguns meios como Formação Bruta de Capital, serve hoje de radiografia para se perceber o que será a economia portuguesa amanhã.
Se não houver investimento hoje, dificilmente haverá novos postos de trabalho amanhã.

Quando estas variações das várias rúbricas, quer as anuais, quer as médias a 5 anos, se aproximam do zero, isso significa que estas rúbricas começam a deixar de crescer em valor real. Atingem o seu pico. E crescer tem sido o paradigma da civilização ocidental desde a 2ª Guerra Mundial, com anos de recessão pelo meio, mas rapidamente corrigidos nos anos subsequentes, retomando o crescimento "habitual".

Também elaborei o gráfico com médias a 10 anos, para se perceber se a tendência de queda generalizada foi um fenómeno da última década ou se já vem de trás:


Nas exportações e importações só arranjei dados a partir de 1996, pelo que a média destes não reflete uma tendência tão profunda como os restantes.
Relembro que nas restantes rúbricas os dados no ano 2000 refletem a média da década anterior, ou seja, desde 1990.

Apesar de se perceber uma tendência generalizada de queda em todas as rúbricas, só a rúbrica Investimento é que desce abaixo do zero, no ano de 2008, refletindo a média das variações anuais desde 1998.
Em 2011, a média dos últimos 10 anos já se aproxima dos -4%.

Não obstante, o Investimento é a rúbrica com menor importância no PIB em 2011:
Consumo Público:   19,64%
Consumo Privado:   67,11%
Investimento:        16,43%
Exportações:           35,98%  
Importações:           39,15%

Ou seja, não é a sua importância relativa face aos restantes "colegas"que merece relevo, mas antes a sua capacidade intrínseca de ser o motor do crescimento nas restantes rúbricas algures no futuro.

Enunciado:
Poderá ser a trajetória do Investimento uma ante-câmara para a projeção do PIB ?

Pedro e pessoal "encarteirado". Digam de vossa justíça

Tiago Mestre

8 comentários:

Filipe Silva disse...

A relação do investimento na minha opinião é que este se encontra muito elevado.

Se é verdade que temos um poupança negativa, segundo vi no BP a poupança das empresas e familias era negativa, sendo assim o investimento que é feito é via crédito.

Logo via mais divida, seja das empresas seja das familias.

O modelo keynesiano que vigora em Portugal, assenta na criação de nova moeda via emissão de divida, como não temos moeda própria, o Estado planeador depende do sistema financeiro para que este conceda crédito à economia, este consegue-o via emprestimos do BCE e do mercado interbancário (conseguia até crise de 2008).

A realidade é que o investimento, irá cair no futuro, dado que não existe poupança que o suporte,

O consumo e o investimento são concorrentes, o investimento pressupõe poupança, deveria ser assim:

As famílias poupam (prescindem de consumo presente, para terem mais consumo no futuro), os bancos emprestam aos empreendedores que fazem o investimento.

O investimento deve ser capaz de gerar lucros que garantam o pagamento do empréstimo bem como o lucro para o empreendedor.

O problema é que os bancos criam dinheiro do nada, criando uma bolha crediticia, que mais cedo ou mais tarde se esvazia, que foi o que aconteceu no ano de 2008, ja sabes o que os países fizeram, mas a realidade é que se tem procurado continuar a festa.

Como não temos moeda própria, não "temos" (o panejador central) capacidade de jogar com as taxas de juro, somos price takers.

O crédito não chega À economia porque o BCE para poder financiar os estado, usa o sistema bancário, assim não incorre numa violação tão directa do tratado de Lisboa.

Penso que o investimento deveria estar a cair muito mais, as empresas e as familias, deviam estar a pagar as suas dividas, para depois recomeçarem a poupar para que o investimento seja sustentável.


Já sei que a visão keynesiana e monetarista é diferente, e que o Banco Central devia estar a injectar ainda mais liquidez, mas isso não resolve nada adia o problema.

O PIB é uma medida keynesiana, na minha modesta opinião, ceteris paribus no próximo ano o investimento vai dar um trambolhão não esperado.

Não existe poupança para sustentar o actual nível de investimento.

Pedro Miguel disse...

Tiago gostei dos dados, infelizmente tenho andado com menos tempo.

Falando para o Filipe (e para todos), as famílias e empresas podem poupar, mas não é na minha opinião a altura certa.
Agora devem consumir para subir o PIB e criar mercado.
Mas esse consumo deve ser diferente, devem consumir nacional, de forma produtiva.

No caso das famílias, as que tem dinheiro não devem poupar como poupança, mudem para produtos nacionais, reinventem no que eram desperdícios, gastem menos energia/combustíveis e em tudo o que tenha que ser importado. Se tem espaço façam uma horta, mesmo nas varandas podem criar alguns vegetais. É certo que isso vai reduzir o consumo, mas não se preocupem que esse consumo era nulo no PIB pois são importações. Com essas medidas ganham margem de manobra.

No caso das empresas, reinventem, procurem oportunidades, procurem dimensão porque as fronteiras deixaram de existir, mas isso não pode só significar mais concorrência, deve significar mais mercado. Há tantas importações para substituir e há tanta produção que pode ser competitiva no exterior, não nos podemos esquecer que há economias de escala para serem criadas. Planeiem, é possível criar dívida muito sustentável, os erros do passado podem ser ultrapassados com planeamento.
É certo que não há muito dinheiro para as empresas se financiarem e é certo que por isso os juros são altos, mas vejam as grandes empresas que finalmente conseguiram umas centenas de milhões a preços atractivos porque o juro das OTs sinalizou que o risco é menor.
Com a balança de pagamentos finalmente positiva há dinheiro que vai ficar no país e que vai sobrar para uso.

BP Jan-Aug/11 -7 321
BP Jan-Aug/12 751

Há neste momento uma diferença de 8000 milhões quando comparado com o ano passado, são valores que não vamos precisar ir buscar ao estrangeiro na economia (podemos esperar mais de 10 mil milhões no final do ano). Esse dinheiro pode financiar a economia, mas sem necessidade de dívida externa, que é questão principal.

Portugal conseguir manter objectivos de défice próximos e PIB aceitáveis para 2013 é a única forma de pensar em redefinir o papel do Estado na economia.
Não estou a ver qualquer outro governo a querer "abdicar" de certas improdutividades e a querer reduzir o poder do Estado.
Qualquer outra governação dentro dos nossos moldes democráticos será pior neste momento.

Filipe Silva disse...

O Pedro acredito que seja uma pessoa séria e bem intencionada, mas quer continuar a apostar no sistema que nos trouxe até aqui.

As famílias não iram poupar (apesar de que o deveriam fazer), dado que segundo os dados do BP demonstram terem à volta de 120% do Rendimento disponível logo antes de poupar iram ter de reduzir este montante.

O problema de Portugal foi um consumo excessivo para a produção que realizava-mos então a solução é continuar a fazer o mesmo que fizemos até aqui.

Devido a uma má distribuição da riqueza (o sistema socialista leva a isso), a maioria está sem capacidade de poupar ou consumir, dado que o último era realizado via crédito.

A principal preocupação das pessoas não deve ser consumir, mas sim livrarem se da divida que poderão ter o mais rapidamente possível.

Os que tem para consumir deverão poupar assim obrigam a economia a reajustar que os politicos e economistas da praça tem esforçado para que não ocorra.

A intenção do Pedro apesar de nobre é errada, o que o Pedro defende e muitos outros é a manutenção de empregos que deixaram de ser sustentáveis para as actuais circunstâncias.
Impedindo que o ajustamento micro ao nível do emprego seja realizado, actualmente o desemprego nos sectores de bens de primeira ordem devia(como tem vindo a ocorrer) a aumentar e os empregos nos sectores de ordem maior a aumentar (o que temos verificado que tem acontecido), este é o caminho para o ajustamento que apesar de tudo, as forças da economia o tem realizado, a um ritmo muito mais lento que seria desejável e normal, se o Estado não intervier-se.


O ajustamento vai se dar mesmo que não se queira, que se faça tudo e mais alguma coisa para o impedir, a escolha é fazemos por decisão própria ou por que o mercado nos obriga

As empresas sempre o fizeram, por isso é que vemos um aumento das exportações apesar de uma conjuntura desfavorável a nível interno, principalmente a nível de financiamento.
O papel do empreendedor é fundamental, a informação já está disponível no mercado, este é que ainda não a descobriu.

O que há para produzir, criar mercado, etc... é o empreendedor que deve descobrir, se não aconteceu ainda é porque estes ainda não descobriram a informação necessária.

Faz me lembrar as energias verdes, por decisão politica investiu-se fortemente, o Estado deu subsidios, meteu os clientes a pagar los, etc...
Tudo bem intencionado, ia ser uma revolução tecnologica, hoje verificamos que o custo foi uma loucura, que custa aos consumidores substancialmente mais que se não existissem, o carro eléctrico a mesma coisa, as empresas estão a desinvestir para já (a tecnologia ainda não consegue competir com os de combustão ou hibridos).
É impossível fazer calculo economico via planeamento central, o burocrata não tem capacidade para perceber o que as pessoas querem, o empreendedor é o responsável por essa função, ele com o seu know how, consegue realizar o calculo economico necessário a aproveitar as oportunidades presentes no mercado.

O caminho é a recessão permitir que esta faça o que tem a fazer, os maus investimentos sejam liquidados, que exista uma diminuição real dos salários, que ocorra um aumento da poupança, um pagamento da divida.

O problema hoje é um problema de teoria economica, os neokeynesianos e monetaristas de um lado, e a pequena comunidade de austríacos do outro.

O raciocínio do Pedro está correcto, e há uns largos meses atrás concordaria com ele, hoje tenho uma visão completamente diferente.

O caminho passa pela economia se ajustar, mas não porque o Governo traça um caminho (como se houve muito atrasado mental dizer), mas porque as pessoas escolhem o seu caminho, só elas sabem o que gostam o que querem, a nossa vida está nas nossas mãos, devemos nos livrar das amarras do Estado paternalista e todo poderoso, sim este caminho é que leva à verdadeira Liberdade



Pedro Miguel disse...

Olá Filipe,

posso não me ter expressado bem, mas não foi isso que eu disse.

O que eu queria dizer é que os particulares podem reduzir a sua dívida consumindo mais ou igual.

Eu desde sempre fiz algo que muita gente se calhar não faz.
Em minha casa se sobra comida é reutilizada, produzimos uma parte do que consumimos, produtos com muito prazo de valida são comprados em períodos de grandes promoções.
O que acontece? Conseguimos para o mesmo consumo que muitos outros portugueses, poupar 20/30 %, não sei.
A minha casa nunca teve grandes rendimentos e não tem sequer um único crédito, sem heranças, sem ajudas.
O que faço com esses 20/30% que se poupam? Podemos fazer duas coisas, consumimos o que nos apetece ou metemos no banco.
Queres apostar como consigo poupar mais e consumir mais do que os portugueses nas mesmas condições?
Queres apostar como podia gastar bastante acima do que os portugueses nas mesmas condições porque soube poupar nas vacas gordas para manter ou subir se me apetecer agora em período de vacas magras?

Posso-te dizer que eu sou o primeiro a perceber que a economia se tem que ajustar, que os empregos a mais nunca deviam ter existido e é preciso reduzir.
Mas também sou o primeiro a ter feito isso, sempre, por isso não podes dizer que fazer como eu faço é o que não se deve fazer.

Há algo básico e todos os portugueses deviam ter noção, principalmente os iluminados que acham que despesa aumenta de forma sustentável a riqueza.

Em período de vacas gordas, poupar, não devemos fazer o PIB crescer de forma insustentável porque esse desajuste vai mais cedo ou mais tarde ajustar com recessão. Em período de vacas magras, porque se poupou, podemos gastar no mesmo nível, a recessão é um efeito de bola de neve e é muitas vezes é aumentada por causa da brusca mudança de hábitos, desnecessariamente.

Eu não tenho créditos, já o disse, mas neste momento que estamos em crise, o que levou a uma descida da Euribor.
As mensalidade dos créditos indexados devem ter descido bastante, diria que uns 20% (estou a lançar números), se isso resultar em poupanças de 60 euros por mês o que fazer com essa poupança? Poupar ou pagar o dívida? Em meu entender é pagar a dívida!

O que quero dizer com isto tudo é que podemos consumir os mesmos valores que sempre consumimos, se formos financeiramente inteligentes e se soubermos não desperdiçar.
Quem não tem dinheiro não vai mesmo poupar, a classe média deve pensar em não viver como rico, mas isso não quer dizer que viva pior, quer dizer que precisa viver diferente e quem tem dinheiro são sempre menos afectados.

vazelios disse...

O que eu acho em relação ao nosso PIB é que é claramente desiquilibrado.

É como ter na carteira de investimentos 4 tipo de investimentos, em que um só pesa 65% do total ou mais.

Obviamente que se este der para o torto, a nossa carteira vai por aí abaixo, será preciso forte valorização dos outros 3 para compensar a descida.

Trata-se de diversificar certo? Pelo menos para alguns. Aqui no PIB passa-se o mesmo, mas pior.

Somos dependentes do consumo privado e publico, que todos aqui sabemos estar baseados na divida. Logo, um consumo desenfreado e insustentavel, visto que a divida sobre a ele subjacente aumenta exponencialmente cada vez que este aumenta. Era só esperar o dia em que as pessoas não pudessem consumir ainda mais.

É a mesma coisa para os países muito dependentes das exportações.

Não conheço assim muito bem nenhum mas escolhendo ao calhas, China, Indonesia, muitos países de Africa.

Estes países se virem as suas exportações cairem por razões esperadas ou não, ficam muito vulneraveis. Daí ser importante a China crescer via consumo. Mas isso é outrs história.

O que quero dizer é que o nosso PIB tem de estar mais equilibrado, para podermos compensar consumo com exportações, e ter mais impacto. Consumo com investimento, com mais impacto.

Investimento vale 16%? Quanto aumento de investimento será necessario para compensar quebras de consumo? Uma brutalidade.

Assim fazendo contas por alto, para uma quebra de consumo privado de 1%, necessitamos de incrementar o investimento em mais de 4%.

Se sabemos que muita coisa tem de mudar, pelo menos isto está a mudar para o bom sentido, a meu ver.

Filipe, sabia desses 120% de divida das familias, mas também vi dados em que a taxa de poupança aumento de 9% para 12% desde que a troika anda por cá.

Essa taxa de poupança é importante pois como já li no blogue economico-financeiro, países com alta taxa de poupança tendem a crescer muito mais que países com taxa de poupança baixa.

vazelios disse...

"Se sabemos que muita coisa tem de mudar, pelo menos isto está a mudar para o bom sentido, a meu ver."

O que eu me referi como aspecto positivo foi a queda do consumo, porque nestes gráficos vemos muito pouca coisa ou nenhuma positiva.

É uma pena ver o investimento cair tanto, e só com poupança poderemos voltar a fazer crescer este indicador

Vivendi disse...

O problema é a dívida. E só a dívida.

Esta década que passou Portugal andou numa economia apoiada de sapatos altos com um tacão que não serviu de jeito algum à economia portuguesa.

Uma opção cara demais (endividamento) e sem retorno (crescimento económico era ilusório).

Assim resta a Portugal descalçar os sapatinhos(o PIB cai) e tornar a caminhar com os pés no chão. Ou seja cair na real.

Filipe Silva disse...

O problema é que o Estado nos últimos 20anos de 1990 até 2010 (mas mais fortemente a partir de 1995) induziu as pessoas em erro, antes do 25abril Portugal tinha das maiores taxas de poupança da Europa, se memória não me falha acima dos 40%

Como o Vazelios mencionou o Prof Cosme da FEP, tem um post no seu blog em que demonstra que o facto do povo chinês viver em profunda austeridade (poupam 50% do PIB) levou a que o salário chinês em PPC se aproxime muito do nosso salário mínimo e se tudo se mantiver constante em 2050 a China terá níveis salarias superiores ao nosso.

O meu problema é que o Estado social contribui para o que o Pedro fala, para o desperdício, as pessoas como o Estado dá tudo, sub desemprego, pensão, sub doença, abono de familia, etc... as pessoas não vêm beneficio em poupar

(não digo que as pessoas não paguem para a SS, o problema como vemos é que não pagam o suficiente, por isso existe deficit)

Eu não desperdiço nada dado que programo o que como , i cont calories, e estruturo o que como e nunca existe desperdicio,

É natural que a crise leve a que as pessoas comecem a ter comportamento similares ao teu.
Por exemplo a restauração fala do IVA, contribui mas o grande problema deles é a mudança de habitos das pessoas, que começam a levar a comida de casa para o trabalho, deixando de comer tanto fora, substituindo os restaurantes pelos take away, etc...

Isto são comportamentos de mudança de formas de gastar o €, a troca de carro passou de 2 ou 4anos para secalhar 8 ou 10anos,

Acho que devemos aconselhar e ajudar com os blogs, as nossas intervenções publicas as pessoas a abrirem a pestana e mudarem hábitos.
Mas devem ser as pessoas a fazerem no de forma voluntária.

As importações baixaram porque o pessoal está sem rendimento, via o aumento dos impostos, basta os impostos descerem e o pessoal vai a correr importar.


Nas alturas de crise existem inumeras oportunidades, principalmente poder comprar se activos a preços de saldo.