8 de outubro de 2012

Cantiga Esteves precisa de se decidir, e depressa, a bem da Nação

Ouvimos novamente hoje de manhã o economista Cantiga Esteves, desta vez na Antena1.

Se bem se recordam, quando Sócrates "reinava", o monstro da despesa não era atacado e Sócrates deveria sofrer por isso, e sofreu claro. Lembro-me muito bem de Cantiga Esteves na SIC Notícias com Mário Crespo a moderar.

Entretanto chega Passos Coelho, e era tudo estrada. A despesa seria cortada num ápice e o défice estaria no bom caminho.
Passados uns meses, uupps, afinal o corte na despesa é demasiado recessivo. A austeridade mata. É preciso folgar as metas da troika e ser mais brando. Foi nesta fase que ouvi novamente Cantiga Esteves, ali algures pela Primavera, não sei precisar, a dar o volte-face, julgo que também na Sic Notícias. Fiquei surpreendido e desiludido, claro.

A troika até folgou no défice, mas o desvio é tão grande que mesmo para cumprir as metas é necessário mais austeridade: um "enorme aumento de impostos", citando Gaspar.

E como os impostos já estão no limite dos limites, vem agora Cantiga Esteves dizer que afinal é preciso cortar na despesa!

Não há pachorra. Se defende a austeridade, tem que defender as consequências negativas desta. Se defende o corte da despesa tem que defender a recessão que se lhe segue. Querer uma coisa e evitar a outra é que não dá.
Não pode ir mudando de opinião sempre que as consequências se revelam más e desagradáveis.Sujeita-se a ser incoerente e ver a sua credibilidade ir por água abaixo. Falar de caminhos fáceis é fácil. Estou à espera é de ouvir falar dos difíceis, daqueles que ninguém quer percorrer.

E sobre a queda das taxas de juro da dívida soberana portuguesa, Cantiga Esteves refere que tal fenómeno é uma boa notícia, e como boa notícia que é, também deve ser referida. Queremos relembrar ao distinto economista que tal queda não se deve a fatores nacionais, nem de caráter orçamental, nem económico, mas antes à política de Draghi e ao volte face de Merkel quando veio das férias de Verão:

- LTRO em Dezembro 2011 e Fevereiro 2012 (foram SÓ 800 mil milhões de euros que entraram nos cofres dos bancos. estou a citar de cor)
- Abaixamento da taxa de juro principal de 1% para 0,75%
- Abaixamento do juro dos depósitos dos bancos privados no BCE (de 0,25% para 0%)
- Resgate aos bancos portugueses (que são quem compra dívida portuguesa) com injeção de capital público a rondar os 5 mil milhões (estou a citar de cor), que por sua vez foi emprestado pela troika
- Anúncio do BCE em Setembro de que estará disposto a comprar toda a dívida soberana que for necessário desde que o país peça um resgate. Portugal is on e Merkel também.

Meu caro Cantiga Esteves, nestas condições totalmente manipuladoras por parte do BCE, queria o quê? Que ninguém comprasse dívida soberana?
Será isto capitalismo?
Não, é uma cleptocracia disfarçada de democracia, em que se rouba pela calada a uns para entregar de mão beijada a outros.
Era isto que eu gostava de ouvir falar por parte dos economistas da nossa praça.

É que investir em dívida soberana portuguesa voltou a ser virtualmente seguro, e os bancos portugueses, ávidos de yield para remunerar depósitos e liquidar os empréstimos delinquentes que não param de aumentar, encheram-se de crédito barato junto do BCE (a 0,75%) para vendê-lo a 4% e a 5% nos leilões de dívida portuguesa. O tal carry trade que já tantas vezes aqui falámos no Contas.
Uau, que milagre, que boa notícia, que rejúbilo. Até parece impossível.

Ainda hoje se soube que os bancos portugueses continuam a encher-se de dinheiro do BCE. notícia aqui

O discurso na praça pública, mesmo quando proferido por economistas, tornou-se num filme proibido para pessoas com mais de 10 anos.

Eu sei que de todos os economistas que comentam na praça pública, Cantiga Esteves ainda lá vai falando da necessidade do Estado meter as contas em ordem, e o Vivendi tem dado visibilidade a esse facto no seu blog. Prezamos tudo isso, mas caramba, esta lenga-lenga já chateia.

Tiago Mestre

7 comentários:

Vivendi disse...

Não percebi as tuas críticas à austeridade de João Cantiga Esteves. É dos economistas mais assumidos pela austeridade e mesmo na entrevista a que te refere também deu preferência à despesa do que aos impostos.

Quanto ao BCE ninguém quer destapar essa fossa.

Tiago Mestre disse...

Não podemos defender austeridade pela despesa às 2as e 4as, pela receita às 3as e 5as, e guardar o resto dos dias para o que der e vier em função das consequências de um tipo de austeridade ou de outro.

Se ele acredita genuinamente que é pela despesa que o Estado tem que ir, então que a defenda mesmo nos momentos em que mais ninguém a defende só porque os resultados na economia são catastróficos.

Achavas bem que eu ou tu, que tanto defendemos a redução brutal da despesa, viéssemos agora postar que afinal a despesa não pode ser cortada assim tanto porque mata a economia?

Nós temos a consciência que vai doer, mas sabemos que não há outra solução melhor, e mesmo nos piores momentos, em que ninguém quer corte da despesa, continuamos a acreditar e a defender que esse é o único caminho.
Isso sim, é de homem, e para o bem ou para o mal, continuamos íntegros e coerentes..

Achas que estou a pedir demais ao homem? sendo ele já próximo das nossas ideias?
Posso estar a abusar, claro

Vivendi disse...

Quando se opina na comunicação social e se carrega demasiado no acelerador do não entendimento público o comentador arrisca-se logo a desaparecer da opinião pública.

Medina Carreira na vontade de muitos esteva quase para ser internado num manicómio.

Nós somos outsiders e podemos falar abertamente e ir abrindo as mentes a quem assim o quiser.

Ricardo Anjos disse...

Ora aí está... quando se começam a dizer as verdades... é-se corrido dos "Media".
Mas não se iludam... tanto o Cantiga Esteves como o Medina Carreira, ainda idealizam que pode haver crescimento económico (se a justiça funcionar; se não houver economia paralela; se não houver evasão fiscal; se erradicarmos a corrupção; se cativarmos investimento estrangeiro "a potes";... - e acrescento eu- se o pai natal nos visitar no Natal; e se descobrirmos elefantes cor-de-rosa voadores com chifres!).

O que nos aconteceu, foi deslumbramento. E à conta deste deslumbramento, pensou-se que o crescimento económico adviria - pasme-se- de investimento público e ainda por cima com recurso a crédito.

Entre muitas mentiras que se dizem... tenho a certeza de que há muita gente que ainda vota no CDS-PP por ser "o partido da igreja", e há muitos comunistas que ainda acreditam que temos dezenas de toneladas de OURO no BDP!...

Por isso, mesmo dentro de algum pragmatismo, mesmo estes economistas/comentadores são idealistas Keynesianos. Por isso culparam "Sócrates", e agora ficam sem argumentos... dizem que o programa de ajustamento é muito exigente... que a culpa é da TROICA... Balelas (leia-se bullshit)!

É precisamente por toda a gente(70% da população) querer estar nos Serviços(refiro-me ao sector terciário), no controle destes mesmos Serviços, e a sacar dos Serviços como e quanto pode, que as coisas vão correr mal. Quero ver como vamos sobreviver a comer Serviços por um lado, e a "Vender" (leia-se emitir) Dívida aos nossos credores!

E se somarmos a isto tudo... as eólicas e o choque tecnológico- de que é pai J Sócrates, e padrinhos os ilustres M Pinho; C Zorrinho; e last but not least A Cavaco Silva- temos o coctail MOLOTOV que vai rebentar com isto tudo!

Para o país funcionar, tem que haver mais pessoas a abastecer (Produção Agricola e Industria) do que a abastecer-se (leia-se "Roubar").

disse

vazelios disse...

Eu ando com falta de credibilidade junto do meu circulo familiar e de amigos porque defendo austeridade via queda da despesa.

O ano passando defendi que em 2011 era preciso aumentar impostos porque para cumprir o défice tinha de ser com medidas de curto prazo, o baixar a despesa ia demorar muito tempo para se refletir no défice de 2011. E sem dúvida que aumentar impostos(mais as medidas extraordinárias é certo) ia ajudar a cumprir o défice.

Em 2012 defendi manter a politica fiscal elevada, mas não aumentá-la, para tentar manter a receita e não a deixar cair muito. Mas defendi que era crucial, a "hora h", o "ano D" o que lhe quiserem chamar, para o governo mostrar que sabia cortar na despesa.

Se cortou o suficiente não sei, cortou nos salarios claro, na saúde, algumas migalhas aqui e ali nos institutos publicos e fundações, outras promessas nas PPP's, enfim, mas o que foi realmente feito eu não sei.

O Vivendi colocou um video, pouco imparcial é certo, do PSD, a mostrar alguns cortes na despesa.

Mas porquê um video oficial do PSD e não uma entrevista em horario nobre do Vítor Gaspar para se avançar com estes números? Uma entrevista SÓ sobre a despesa?

A população não aguenta mais medidas sem saber que se está a fazer algum trabalho no que consideram unanimemente como "injustiça e roubo".

Porque não uma declaração oficial sobre isto?

Para mim porque realmente não foi feito o que se disse no Video e porque pode por o dedo na ferida de muito magnata e infelizmente este governo não mostra coragem para tal.

Não se podem comprometer a esse ponto.

Acho crucial fazer-se alguma coisa.

O que eu defendia e continuo a defender para 2013 era baixar os custos das empresas (isso o Tiago saberá melhor pois não tenho uma), com TSU, IRC ou outra medida qualquer, manter os impostos sobre o rendimento e consumo das pessoas (e não aumenta-los como vem aí) e dimiunuir fortemente a despesa.

Penso que se fosse feito isto como deve ser, poderiamos entrar num rumo mais sustentável, o mais sustentável possível. Isto todos nós sabemos.

Em 2014, mantinha-se o tonico de 2013 e em 2015, quem sabe, talvez se pudesse baixar impostos sobre as pessoas. Antes disso não concordo. Mas aumentar é uma desilusão. Desiludem-me bastante.

Quando defendi que em 2011 o corte na despesa não se ia refletir, defendi o governo. Agora já passou tempo suficiente para se mostrar trabalho feito...

Filipe Silva disse...

Muita confusão vai na cabeça dos economistas mais conceituados na nossa praça.

Vamos analisar as coisas com calma.

O processo que nos trouxe aqui foi uma bolha crediticia, desde 1992 com o processo de convergência ao Euro, tivemos acesso a taxas de juro ao nível das da Holanda, o Tiago num post a semana passada demonstrou isso mesmo, com o montante de divida e com as respectivas taxas.
Em 1996 pagávamos 8,1% em 2011 pagávamos 3,2%.
Pelos dados acima citados verificamos que tivemos acesso a taxas de juro muito baixas.

A despesa disparou de 55mil milhões para 185mil milhões este dado demonstra a loucura da acumulação de divida.

Já trocamos impressões sobre estes fenómenos por isso não tem grande interesse alargar me sobre esta temática, convêm recordar que endividamento privado é de exclusiva responsabilidade política.

O PIB na sua óptica de despesa é o seguinte

PIB=C+I+G+X-M

Pegando nesta formula verificamos que o caminho não é mais que a diminuição do PIB.

G-Gasto do Estado
I-Investimento
C-Consumo.

Se o Estado diminuir o seu gasto, a sua despesa levará que o PIB caía

O investimento das empresas como o Tiago já mais que uma vez focou , é realizado não com recursos a capitais próprios mas sim com recurso a crédito.
Como a banca tem vindo a não conceder crédito, por motivos já discutidos no blog, leva a que o Investimento caía.

Consumo das famílias muito deste era via crédito, como o crédito ao consumo praticamente desapareceu, aliado a que as famílias estão hoje a pagar as suas dividas, diminuindo o seu endividamento leva a que esta parcela caia.

As Exportações tem aumentado mas não temos capacidade instalada para que esta seja motor de crescimento.

As importações tem vindo a cair por factores óbvios.

O que podemos retirar daqui é que qualquer que seja a medida levada a acabo pelo Estado, seja corte de despesa, aumento dos impostos o PIB cairá.

Agora que caminho é melhor no médio longo prazo?

O aumento de impostos é possível, mas isso implica caminharmos para uma sociedade socialista, em que o Estado fica dono de toda a propriedade, como acontecerá? bem se o povo ficar sem capacidade para pagar os impostos irá entregar os seus bens como dação em pagamento, ficando o Estado dono de tudo. Teoricamente possível.

O Estado diminuir a sua despesa, e retirar se da economia libertando o sector privado para que este faça o que faz de melhor CRIAR RIQUEZA.

O empobrecimento não vai ocorrer, dado que isso implica que as pessoas fossem ricas, como o Tiago mais que uma vez já demonstrou não o eram, apenas consumiram no presente por conta do futuro.

Na minha óptica devia-se ir pelo corte de despesa do Estado, esse corte não vai gerar crescimento, mas antes uma recessão ainda maior, mas o que irá ocorrer é que a economia vai se reajustar, este reajustamento vai ser sempre micro, mesmo que macro pareça que a economia não arranca, esta estará a ser dinâmica, investimentos que agora não são rentáveis serão liquidados, o desemprego nos sectores não rentáveis irão aumentar, mas o emprego vai aumentar nos sectores que agora são economicamente mais sustentáveis.

O problema é que os "especialistas" só vêm macro há sua frente, esta coisa do planeamento central é assim.

Não existe macro, só micro, o que quero dizer com isto é que para que a macro economia funcione, isto é que um grupo de burocratas consiga prever com exactidão e que as coisas se desenrolem como pretendem temos de viver numa tirania, em que ninguém tem liberdade de fazer o que entende ser a sua vontade.

Filipe Silva disse...

A analise anterior utiliza o PIB, mas é um instrumento keynesiano que dá primazia À despesa, mas utilizo-o para demonstrar mais facilmente o argumento.

O PIB pode estar a cair e a economia estar a arrancar, como disse anteriormente o fenómeno micro é o mais importante.

A economia deve ser deixada ajustar, a realidade modificou se, o status quo já não é possível ser mantido, e o keynesianismo já está morto, apesar de ainda ser rei e senhor do pensamento main stream está morto.

Temos de perceber que a riqueza é algo complicado de ser criada, e que temos de competir à escala global, por isso a China, Índia e companhia são nossos adversários.

O Estado não cria riqueza apenas a tranfere de um lado para o outro, a redistribuição, leva a que a riqueza seja menor.

A realidade é uma temos um estado muito forte e somos dos países mais desiguais, o mito do capitalismo criar desigualdade em Portugal foi provado o contrário.

A grande depressão perdurou no tempo porque foram levadas a cabo politicas de manter os salários elevados, acima do seu valor de mercado, o que gerou desemprego e recessão.

No blog do Professor Cosme ele demonstra que Em Espanha o salário médio é 11% superior ao Salário médio da Alemanha, sendo que Pib per capita é 80% do Alemão(se memória não me falha), a Alemanha tem 5% de desemprego e Espanha 25% este indicador oferece uma parte da explicação.

Claro que é duro perder rendimento, depois de anos habituados a este ser sempre a crescer, este diminuir é duro, mas é uma necessidade.

A carga fiscal terá de diminuir, mas a despesa terá de diminuir ainda mais que a diminuição dos impostos.

São dezenas de anos a montar um sistema, e este terá de ser desmantelado, existem 2 formas, ou o fazemos conscientemente ou mais cedo ou mais tarde ele implode.

A impressão monetária não vai resolver nada, antes irá criar mais problemas futuros, os keynesianos vem o dinheiro como riqueza, mas isso não é verdade, o dinheiro não é mais que um meio de troca, não é muito bom meio de reserva de valor porque perde valor todos os anos,

A inflação como sabemos não atinge todos os produtos de igual forma, uns mais que outros.

A impressão que tem sido levada a cabo tem safado os mais ricos, os mercados de capitais tem atingido máximos, permitindo a recuperação de perdas.

Mas temos assistido as commodities atingirem niveis elevados, os bens de primeira necessidade tem subido acima da inflação relatada pelos organismos estatais, este fenomeno atinge de maneira muito dura os que menos tem.
Os keynesianos defendem esta via de forma a dizem eles, salvar a economia, mas a realidade é que isto só cria condições para um estoiro ainda maior, e atinge gravemente os que menos tem.

a Austeridade não é mais que permitir que a economia ajuste para o seu real valor, temos de andar para trás para podermos andar para a frente.

Vai ser muito doloroso? sim muito, mas por muito que se revoltem a realidade não se irá alterar.

O Estado terá de ser diminuido para não mais que segurança defesa e justiça.

O resto terá de ser a economia privada a resolver, as pessoas a resolverem as suas situações.