Caros leitores e leitoras, muita especulação se tem feito sobre a questão de ser justa ou injusta a queda da avaliação das dívidas públicas pelas agências de notação financeira. Para nós aqui no Contas também tem sido objecto de curiosidade tentar perceber quais os critérios e qual a fronteira que a partir do qual se considera uma dívida soberana como insustentável.
Há um critério que julgo ser para todos nós elementar:
Quando a dívida pública aumenta ano após ano mais do que o PIB. Utilizando este critério percebemos que a maior parte dos países do ocidente está numa trajectória insustentável. Mas como há países que partiram duma base muito baixa, ou seja, com pouco endividamento, este aumento da dívida face ao PIB não é grave desde que seja transitório.
Existe outro critério, mais técnico, que é o mais utilizado pelas agências de notação financeira:
O custo com os juros da dívida não deve ser superior a 10% da totalidade das receitas do Estado
Usando este indicador como "bom", apresentamos abaixo um estudo realizado por nós para o ano de 2010, baseado em dados do Eurostat e do US Debt Clock:
A "Taxa de juro média" é uma aproximação das várias taxas de juro que cada país possui, na medida em que existem dívidas de curto, de médio e de longo prazo, todas elas com taxas de juro diferentes.
Com o primeiro quadro podemos tirar as seguintes conclusões:
1. Portugal, Grécia e Irlanda, financiando-se com taxas de juro a rondar os 5% já se encontram num patamar insustentável. Quando a crise da dívida "rebentou", os custos de financiamento destes 3 países estavam um pouco abaixo dos 5%, o que significa que já estavam na iminência de se tornarem insustentáveis. Bastou as agências de notação baixarem a avaliação destas dívidas para as tornar imediatamente insustentáveis.
2. Itália também já se encontrava numa posição insustentável, mesmo com uma taxa de juro média de 4%.
3. Os Estados Unidos, com uma taxa de juro média baixíssima de 1,8%, também já se encontram numa posição insustentável.
4. A UE17, ou seja, a Euroarea, apresenta um rácio abaixo de 6%, considerado sustentável.
Com o segundo quadro podemos tirar as seguintes conclusões:
1. Recorrendo às taxas de juro que são hoje praticadas no mercado secundário, mesmo dos países que estão ao abrigo do plano da troika, percebemos que o rácio sobe brutalmente para a maioria dos países:
Grécia torna-se um investimento totalmente especulativo;
Portugal Irlanda e Itália agravam fortemente a sua condição;
França com juro de 4% e Espanha com 5,5% ficam no patamar de países com dívidas quase insustentáveis.
2. A Euroarea sobe o seu rácio para 8,4%, aproximando-se perigosamente dos 10%.
Talvez com esta informação fique mais claro porque é que há países que viram as suas notações caírem e outros não.
Tiago Mestre
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