Ainda há tempo para nos tornarmos produtores, consumirmos essa mesma produção e assim reduzir o nosso consumo sobre bens que adquirirmos, sobretudo aqueles que importamos ao estrangeiro.
Sobre os acontecimentos recentes, nomeadamente as conclusões desta última cimeira europeia, parece-nos que a proposta alemã, que foi acordada por (quase) todos os países, exigirá a estes uma morte lenta, ao invés de um colapso rápido e totalmente caótico.
A proposta alemã exige aos países que ajustem as suas despesas públicas às receitas dos impostos, a fim de evitarem endividamentos excessivos. Esta será a receita que os países tentarão seguir, e pelo caminho perceberão que os povos não conseguirão aguentar tal regeneração (morte lenta). Com a redução do Estado na economia, o PIB será reduzido fortemente ano após ano, e assim teremos cada vez menos receitas a entrar nos cofres do Estado. Toda a população dependente do Estado (reformados, desempregados, funcionários públicos, empresas que vendem para o Estado, etc) verá as suas perspectivas de continuidade e progresso no sistema público irreversivelmente abaladas.
Com menos receitas a entrar nos cofres do Estado teremos maiores dificuldades em pagar os juros das enormes dívidas já contraídas no passado e as que estão a ser agora contraídas. O fardo das dívidas será insuportável, com o custo dos juros muito acima dos 10 a 15% das receitas públicas, que é o rácio utilizado pelas agências de notação para definirem uma dívida pública como insustentável. Este factor não permitirá às agências de notação financeira levantarem a notação de países como Portugal, impedindo financiamentos decentes no mercado bancário e agravando a espiral da desgraça.
Esta total incapacidade de movimentos dos países mais frágeis soará alarmes na União Europeia, e quando o FMI não disponibilizar mais empréstimos, acreditamos que os políticos irão bater à última porta que falta: o Banco Central Europeu, que já de si está insolvente, mas como pode imprimir indiscriminadamente, os políticos vão fechando os olhos ao "pormenor" da insolvência da instituição.
Ou seja, faremos a vontade à Alemanha aplicando austeridade, não chegaremos a declarar bancarrota parcial ou total das dívidas (à excepção da Grécia) porque tal cenário e impensável para os líderes europeus, e após alguns anos de esforço constataremos que a solução não resultou para países como Portugal, que já tinham perdido agricultura e muita da indústria que servia de coluna vertebral à capacidade regenerativa do país em caso de crise no sector público. Esta é a grande diferença face aos 2 últimos resgates de Portugal pelo FMI, em 1977 e em 1983.
O país ficará basicamente em farrapos sem saber se há dinheiro para o dia de amanhã. A Alemanha ficará sem argumentos para evitar a entrada em força do BCE, já que a sua solução não resultará. Com o BCE a chegar-se à frente, a Europa voltará a comprar mais algum tempo, mas com os resultados que a economia europeia já hoje apresenta, perspectiva-se que as coisas degradar-se-ão muito mais e o desemprego, barómetro da saúde económica dos países, não parará de atingir novos recordes.
Com o BCE a imprimir dinheiro não teremos outro remédio senão entrar numa espiral inflacionista, e com o resto do mundo a tentar sobreviver para se safar do dia de hoje, a impressão de dinheiro afigurar-se-á como a solução mais rápida para desenrascar/atamancar o problema em todo o planeta. A Reserva Federal há vários anos que imprime dinheiro, o Banco Central do Japão e da Inglaterra também e mais recentemente o Banco Central Suíço. Só quando tivermos muitos bancos centrais a imprimir muito dinheiro é que teremos criadas as condições para o surgimento de inflação em grande escala e de forma irreversível, ou seja, poderá tender para um fenómeno de hiper-inflação.
A Inglaterra excluiu-se deste acordo por que sabe muito bem que não conseguirá implementar a austeridade que a Alemanha exige devido ao enorme défice público que acumula, às dívidas impagáveis que o sector privado e público contraíram e por ter moeda própria e banco central autónomo do BCE, podendo "sempre que quiser", imprimir mais umas libras para liquidar umas dívidas do Estado.
Toda este exercício de prospectiva vai no sentido de concluir que cada um de nós ainda tem tempo (talvez alguns anos) para se tornar mais produtor e menos consumidor de produtos importados, ou seja, a agricultura e o cultivo de bens alimentares em pequena escala é possível mesmo para quem não possua terreno. É possível cultivar em apartamentos, em varandas, em vivendas com pequenos quintais, etc. Basta ter consciência dos problemas que atravessamos (para isso basta ler o site Contas Caseiras !!) e ter a vontade suficiente para fazer algo de diferente.
Tiago Mestre
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