Caros leitores e leitoras, mesmo em quadra natalícia, período de maior reflexão e reserva no que se deve dizer e no que se deve fazer, fomos presenteados com as afirmações de alguém, que, sendo desconhecido para nós, ainda é membro do painel do Banco Central Europeu. Este personagem chama-se Lorenzo Bini Smaghi e teve a ousadia de referir na comunicação social que o BCE deverá agir como a Reserva Federal Norte americana, e que estranha as "declarações quase religiosas a propósito da impressão de dinheiro". A notícia foi avançada pela edição online do Diário Económico.
Sobre a impressão de dinheiro já várias vezes abordámos aqui no Contas as consequências nefastas de tais operações.
Sobre aqueles que não querem imprimir dinheiro posicionarem-se num patamar "quase religioso", talvez o senhor Smaghi se deva recordar do Artigo 123º do Tratado de Lisboa e os deveres do BCE, onde nada refere que se deve imprimir dinheiro para liquidar as dívidas dos banqueiros e dos políticos irresponsáveis e indisciplinados à custa do cidadão comum, que vê o dinheiro perder valor devido à inflação que tais operações acarretam.
Mais, considera que tudo se deve fazer para evitar deflação !!!! Evitar deflação? Então nos últimos anos fomos brindados com inflação bem acima dos 2-3%, que é o valor de referência do BCE, e ainda nos fala do risco de deflação?? Este é o argumento típico de quem quer "preparar o cenário" para fazer valer as suas ideias, ou seja, usa a deflação como desculpa para sugerir políticas que têm como objectivo outra coisa, que é salvar os banqueiros em apuros.
Mas não acaba aqui, porque para este senhor, a deflação é uma coisa má. E perguntamos nós: É má porquê? A resposta "oficial" é que se os preços baixam então os consumidores deixam de consumir à espera que venha uma melhor oportunidade, e a economia sofre com esta suposta espera.
Este argumento é tão falacioso que até arrepia, então vejamos:
Algum de vós alguma vez esperou que o preço das televisões baixasse para a comprar? Ou quem comprou o iPhone 1 esperou que este baixasse de preço? ou ainda quem comprou um computador portátil esperou que este baixasse também de preço? A resposta esmagadora será: NÃO. Ou seja, temos assistido a deflação nos preços de bens de consumo electrónicos deste há décadas e O QUE ACONTECE É EXACTAMENTE O OPOSTO: MAIS GENTE COMPRA E MAIS A ECONOMIA BENEFICIA COM ISSO, SOBRETUDO QUEM PRODUZ.
É vêem estas "aves raras"dizer estas barbaridades para a comunicação social. Repudiamos tão veementemente quanto possível declarações falaciosas de gente que ocupa lugares cimeiros na instituição que gere a moeda Euro.
Gente desta a dizer (e a querer fazer) estas coisas é um perigo para cada um de nós, e não admira o lamaçal financeiro em que a Europa está medida. Os banqueiros quando ouvem esta malta dizer que está disposta a imprimir o dinheiro que for preciso para os salvar, não haja dúvida que mais apostas arriscadas farão com o dinheiro dos outros na tentativa de obter mais lucro, e caso corra mal, no problem, o BCE compra-nos os "activos tóxicos". E assim ficámos com bancos gigantescos, sem capitais próprios suficientes para cobrir as más apostas, e prontos a ruir a qualquer brisa que passe.
A má moral entrou no sangue das instituições europeias tal e qual como um vírus, que se espalha a uma velocidade exponencial rebentando com tudo à sua passagem.
Tiago Mestre
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