8 de maio de 2012

Podemos aprender com o Estado Novo? Ou ainda é tabu? (Parte 4)

Caros leitores e leitoras, dando continuidade à série de 3 posts já publicados sobre as políticas do Estado Novo na década de 30, publicamos hoje mais um post sobre outro assunto que ainda hoje é objeto de discussão:

A falta de instrução do povo no período do Estado Novo


Deixámos de fora as considerações adicionais de António Ferro, por serem excessivamente bajuladoras!


" Esgotado o assunto, consultada a carta mental dos problemas ainda não tratados, hesito alguns segundos entre vários que igualmente me interessam e escolho, por fim, o problema da Instrução:

- Uma das grandes acusações que se fazem à Ditadura é a do seu hipotético desinteresse pelo grave problema do analfabetismo. Diz-se, por exemplo, que o Governo não gastou com a instrução o que tem gasto com outros problemas talvez menos graves e menos urgentes: portos, navios, etc, etc... Terá razão essa acusação?

- Devo dizer-lhe, antes de mais nada, que a Ditadura tem feito mais pelo problema da instrução em seis anos do que os governos partidários em vinte. Bastou uma boa arrumação dos serviços de ensino para chegar a resultados que as situações anteriores não tinham obtido. Queixamo-nos todos de falta de escolas, não é verdade? Pois parece que as existentes eram ainda demais, visto uma grande parte delas estar há longo tempo sem professores quando a Ditadura começou a sua obra. Agora, pelo menos, não há escolas fechadas e muitas mais têm sido construídas nos últimos anos. Para lhe demonstrar o interesse constante que nos merece o problema, bastará dizer-lhe que o orçamento da Instrução Primária foi aumentado, este ano, em cerca de cinco mil contos, aumento considerável se atendermos às restrições feitas em outros ministérios. Onde está, portanto, o desinteresse, o abandono? Palavras, sempre palavras... Falta de propaganda, a falta habitual de informações exactas...

Atrevo-me a insistir:

- Mas parecem-lhe suficientes esses paliativos? Se os governos anteriores se limitaram a marcar passo, porque não correr agora, em vez de simplesmente andar? Não achou interessante a campanha do Diário de Notícias contra o analfabetismo? Não lhe parece que se deveria estudar um plano quinquenal para liquidar o analfabetismo?

- É certo que não podemos cruzar os braços diante desse grave problema, que se prende intimamente com a obra da renovação que estamos empreendendo. Mas temos de mudar de processos se queremos chegar a um resultado positivo, se desejamos combater o analfabetismo para português ler e não para inglês ver... Se não formos práticos e razoáveis, se continuarmos com a mania das grandezas, não será com golpes orçamentais que o problema se há-de resolver...

- Mas que fazer, nesse caso?

- O senhor sabe quanto se gasta, actualmente, com o quadro de professores de instrução primária?

- Confesso que ignoro...

- À roda de 90 mil contos... Ora, se houvesse um professor primário em cada freguesia ou lugar que o não tem, essa verba subiria imediatamente para trezentos ou quatrocentos mil contos, cifra incomportável no actual orçamento deste pequeno País. Acrescente ainda, agravando a cifra, a construção das escolas necessárias para esse programa de ensino, e cujas despesas não iriam a menos de quinhentos ou seiscentos mil contos! Lembro-lhe ainda que as verbas existentes e as hipotéticas têm como base os vencimentos actuais que os professores primários gostariam de ver aumentados... Se satisfizéssemos, portanto, as suas aspirações e se aumentássemos os quadros até extinguirmos o analfabetismo, está a calcular onde iríamos todos parar... Deixemo-nos, portanto, de fantasias. Desafio, seja quem for, a resolver o problema por esse processo!...

- Como resolvê-lo, então?

- Examinando o problema com simplicidade, sem a mania das grandezas que prejudica todas as nossas iniciativas, que as deixa ficar em meio. É impossível, evidentemente, fazer as escolas que nos faltam, pelo modelo por que temos feito algumas, gastando cinquenta ou oitenta contos em cada uma delas. Mas se em vez de cinquenta ou oitenta gastarmos quinze ou vinte, já o problema fica reduzido a problemas abordáveis. É quimérico, sem dúvida, prover todas as freguesias com professores diplomados. Mas por que não deixar esses nos grandes centros, nas cidades, nas vilas e lugares de certa importância, e criar em todas as aldeias, nas povoações escondidas e inacessíveis, postos de ensino, que seriam mantidos à custa duma pequena gratificação? Seria esta - julgo eu - a única forma prática de resolver o problema, de ensinar toda a gente a ler, escrever e contar, degrau essencial para a educação cívica dum povo...

Não haveria, igualmente, um excesso de optimismo nesse plano admirável nas suas linha sgerais?

- Não... não há optimismo! - replica Salazar com segurança - Não se trata de uma experiência ou duma ideia original. É o método dos países pobres. Foi assim que a Noruega aprendeu a ler. Quando cheguei à idade de aprender a ler, comecei logo a frequentar a escola primária de Santa Comba. Mas éramos muitos e o professor poucas vezes me dava lição. O meu pai, aborrecido porque eu não fazia grandes progressos, tirou-me da escola e mandou-me ensinar por um homenzinho que dava lições particulares num compartimento da sua casa térrea. Éramos talvez trinta, e cada mensalidade não ia além de três tostões. O homem, recebia, desta forma, nove mil reis por mês, pouco menos, afinal, do que recebia um professor primário naquela época. E aqui tem como eu aprendi a ler com um precursor rural dos tais postos de ensino, que conseguiam manter-se sem os subsídios do Estado, que seria mais fácil dar agora."

1 comentário:

Vivendi disse...

Salazar naquele tempo a dar o exemplo da Noruega em muito que se lhe diga!