A seca em Portugal começou por meados de Dezembro 2011. Passaram 3 meses e a precipitação ocorrida há 1 semana em nada permitiu a reposição do que entretanto se perdeu.
Até ao dia 8 de Abril não haverá precipitação no horizonte que desagrave a condição de seca meteorológica, segundo Adérito Serrão, presidente do Instituto de Meteorologia.
Maio, Junho, Julho e Agosto são meses tradicionalmente menos chuvosos. E mesmo que chova mais do que é normal nessa época do ano, tal precipitação poderá não ser suficiente para compensar a quebra de precipitação já ocorrida neste Inverno.
O governo, através da ministra da lavoura, como a apelidou Pacheco Pereira, vem 3 meses depois do início da seca referir um conjunto de medidas administrativas no sentido de aliviar a pressão sobre os produtores de pasto, de cereais e de gado. Tivemos oportunidade de ouvir as medidas anunciadas e realmente pouco mais passam do que medidas administrativas e de carácter totalmente temporário.
Os agricultores pouco beneficiarão com isto porque as culturas já estão ou condicionadas, ou parcialmente perdidas ou totalmente perdidas. As ajudas do Estado seriam bem vindas se tivessem lugar antes da ocorrência da seca, ou na pior das situações, a tempo de se decidir se valeria a pena manter as culturas ou dá-las como perdidas em função das perspectivas meteorológicas de médio e longo prazo.
Os cereais de Inverno foram semeados sem a intenção de serem regados, mas devido à seca muitos deles tiveram que o ser, e se não o foram, ou se perderam ou pouco cresceram.
Os que foram regados com recurso a poços, barrancos ou pequenas barragens acabaram por consumir água que estava destinada para se usar na Primavera e Verão, sobretudo para regar cereais de Verão ou quaisquer outras culturas. Sendo a água um bem finito e nem sempre tão renovável como gostaríamos, se se consome agora dificilmente sobra para uma futura utilização no curto prazo.
Muitos agricultores terão que decidir se regam agora para salvar as suas culturas de Inverno ou se as dão como perdidas e guardam a preciosa água para as culturas de Verão.
Este tipo de decisões devem ser tomadas em função da melhor informação disponível que existe sobre a meteorologia e índices de precipitação para os próximos 3 meses, e na nossa opinião,é neste contexto que o ministério da lavoura e restantes entidades públicas podem prestar um auxílio da maior relevância à população.
Sugerimos aqui várias perguntas que muitos agricultores gostariam de ver respondidas, ou pelo menos abordadas, mesmo com informação de carácter probabilístico:
1. Para o próximo trimestre (Abril, Maio e Junho), que probabilidades há da ocorrência de precipitação igual à média dos anos anteriores, ou seja, a de um ano "normal"?
2. E caso até haja uma probabilidade de precipitação superior à média, poderá essa quantidade adicional corrigir parte do défice de precipitação já registado em Dezembro, Janeiro, Fevereiro e Março?
3. E caso a probabilidade seja inferior à média, qual o agravamento que se espera na condição de seca meteorológica?
4. As mesma perguntas acima referidas, mas para as temperaturas do ar.
O Instituto de Meteorologia já publicou que até 8 de Abril não haverá precipitação em quantidade que sirva para o que quer que seja, e a pouca que possa ocorrer, quanto muito reduzirá apenas o agravamento da seca meteorológica. Se em Abril águas mil, então 25% do mês já não ajudará ao cumprimento do ditado popular.
E o que disse a Ministra da lavoura sobre isto, coadjuvada ou não pelos institutos públicos que estudam estas matérias? Nada de especial..
Suspeitamos, na nossa ignorância, que Abril, Maio, Junho, Julho e Agosto serão meses que não conseguirão compensar a falta de água de Inverno, e se não agravarem a seca existente já não seria nada mau.
Podendo ser este um cenário pessimista, é sobre ele que, na nossa opinião, se deve trabalhar para o próximo semestre, elucidando os agricultores para o pior cenário possível e impelindo-os desde já a iniciarem o seu "trabalho de casa" no sentido de minimizar estragos. Se até ao final do Verão a probabilidade de seca se mantiver, então é preciso analisar o que já hoje se perdeu, o que se pode salvar e o que não se deve fazer para evitar prejuízos.
Uma sugestão que damos aqui no Contas aos agricultores que nos acompanham:
NÃO FAÇAM REGAS DURANTE O DIA!
Constatámos há 3 dias na zona de Alcochete e Santarém muitos sistemas de rega Pivot a regar às 2 duas da tarde com temperaturas superiores a 20ºC . A evaporação que ocorre nesta condições é um desperdício a que os agricultores não se podem dar ao luxo. Mesma que a água seja proveniente de um furo, este baseia-se nos lençóis freáticos subterrâneos, e se houver muitos furos em simultâneo a retirar água do mesmo lençol, dificuldades podem ocorrer no abastecimento, sobretudo para quem tem furos menos profundos e bombas mais à superfície.
É preciso ajudar os agricultores a tomarem decisões baseadas na informação que apenas alguns institutos públicos e outras entidades especializadas conseguem obter. Isso sim, é serviço público!
Quem ouviu hoje os deputados e a ministra na Assembleia da República a falar sobre a seca, apenas se fala em fundos, em subsídios, no PRODER, no QREN, na taxa de execução, em milhões para aqui e milhões para acolá. Palha.
Tiago Mestre
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