24 de outubro de 2011

Petróleo - Fonte de energia, fonte de trabalho

Caros leitores e leitoras, muito se tem falado sobre energias não convencionais, energias renováveis e outras. O Contas tem dado especial atenção às notícias relacionadas com as tarifas de electricidade e o peso que os custos das energias renováveis têm na produção de energia eléctrica em Portugal.
Outra forma de obter energia é utilizando matérias primas fósseis, como o petróleo, o gás natural e o carvão. E sobre o petróleo, soubemos pelo site The Oil Drum que o preço médio anual do petróleo atingiu 105,3 dólares no dia 12 de Outubro de 2011, ultrapassando o recorde de 2008, que foi de 104,8 dólares a 9 de Outubro de 2008.

E o que significam estes dados?

Que apesar de não termos chegado ao pico de preço de 143 dólares que ocorreu a 3 Julho de 2008 - ficámo-nos pelos 126 dólares a 2 de Maio - o preço médio anual do barril de petróleo foi superior ao de 2008, e este fenómeno merece maior atenção. Durante um ano (de 9 Out 2010 a 9 Out 2011), os preços médios mantiveram-se bem acima dos 100 dólares, numa altura em que a desaceleração das economias ocidentais é já uma realidade, com taxas de desemprego teimosamente elevadas, redução na actividade industrial e vários países com o PIB de 2011 revisto em forte baixa. Segundo o economista Jeff Rubin, que muito prezamos aqui no Contas, existe uma forte correlação entre o crescimento das economias e o preço do petróleo. Com preços do petróleo a atingirem os 3 dígitos e a manterem-se por lá durante muito tempo, muitas trocas comerciais começam a colocar-se em causa devido ao custo do transporte, e se o comércio mundial diminui é inevitável a contracção industrial dos países produtores e a redução do consumo nos países importadores.

Um dado interessante é que o mundo já vive momentos conturbados nos dias de hoje, com economias fragilizadas a tocarem na recessão e sistemas financeiros a entrarem em colapso, mas o preço do petróleo dificilmente desce dos 110 dólares. Só pelos motivos acima referenciados, em condições "normais" o preço já deveria ter descido, fazendo fé que a lei da oferta e da procura é bem regulada, fiscalizada e pouco manipulada. Mas outros 2 factores entram no jogo: o esgotamento das reservas conhecidas e a injecção de dinheiro pelos bancos centrais que promove fenómenos puramente especulativos. Abordámos este assunto aqui no Contas a 27 Junho 2011.

Sem haver descobertas de novos poços que compensem a taxa de depleção dos existentes, a primeira consequência é que o custo da extracção do petróleo começa a subir porque se torna necessário manter poços de petróleo com débitos mais baixos e menos produtivos, recorre-se a tecnologia mais cara para manter débitos elevados em poços que já entraram em declínio, tenta-se extrair petróleo de poços que até há alguns anos não era economicamente viável, etc. Basicamente, quando a matéria prima deixa de ser abundante, é preciso "escavar mais fundo" e isso implica custos de extracção mais elevados.


A injecção de dinheiro "barato" é outro fenómeno que pode estar na base dos preços teimosamente altos do petróleo. Com a crise financeira de 2008, a classe política dos EUA não resistiu à tentação e desatou a resgatar bancos de todas as nacionalidades através da impressão massiva de dólares, quer sob a forma de empréstimos com taxas de juro próximo de 0%, quer através de programas de nacionalização de activos tóxicos que constavam dos balanços dos bancos. Outros bancos centrais seguiram o exemplo e chegamos a 2011 com injecções massivas de dinheiro nos bancos e nos mercados financeiros na tentativa de os manter levitados. Uma de muitas consequências deste tipo de políticas é que o acesso a dinheiro barato pelas administrações de grandes bancos privados não é canalizado para fomentar negócios mas antes para investir em bolsas de acções e de matérias primas, desequilibrando a lei da oferta e da procura. O petróleo não escapa a estes fenómenos manipulatórios.

As economias ocidentais, fortemente dependentes da importação de petróleo, continuarão a ter problemas sérios no crescimento do seu PIB com estes preços elevados. O petróleo é uma matéria prima com qualidades inigualáveis à luz do que hoje conhecemos, mesmo comparando com o gás natural, e assim sendo é óptimo para produzir energia. Sendo energia a capacidade de realizar trabalho, a produção de riqueza depende desta capacidade de ...trabalhar, produzir coisas e movê-las dum ponto A para um ponto B.

Não se vislumbrando substituto do petróleo com qualidades semelhantes, a nossa dependência manter-se-á, e na impossibilidade de gerarmos riqueza suficiente para o adquirirmos em quantidades que satisfaçam as necessidades da economia, não haverá outra solução senão a queda da própria economia, reajustando-se esta às capacidades físicas de produção energética. Economia é energia, e se nos últimos 15 anos o sector financeiro manteve as economias mais ou menos levitadas, foi à custa da energia que se foi buscar ao futuro (crédito) para se utilizar no presente. Mas mais cedo ou mais tarde chega o dia em que o futuro nos bate à porta para cobrar a energia que lhe pedimos no passado.
 

Analisando as relações entre as economias como meras transferências de energia, olhamos com outra perspectiva para o crescimento do PIB dos países. Torna-se mais clarividente que o crescimento do PIB não pode ser exponencial para sempre, algum dia terá que esbarrar num qualquer limite físico e energético. Estaremos a chegar a esse limite? O primeiro gráfico que expusemos aqui no Contas, a 26 de Dezembro 2010, diz-nos que provavelmente sim. Aguardamos cenas dos próximos capítulos.


Tiago Mestre

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