10 de outubro de 2011

Dexia - Assim não vale (Parte 4)

Caros Leitores e Leitoras, ou melhor dizendo, contribuintes, ficámos ontem a saber que a proposta dos contribuintes belgas, franceses e luxemburgueses para o resgate do Banco Dexia foi aceite pela administração do banco. Talvez a frase não faça muito sentido, já que quem está em apuros é o Dexia, e não os contribuintes, mas não, é mesmo assim. Os governantes destes 3 países (não) mandatados pelos eleitores decidiram que o melhor para as suas populações é resgatar um banco que:  1. foi resgatado em 2008;  2. passou com mérito nos testes de stresse há 3 meses porque lhe foi permitido não declarar o valor de mercado de alguns dos seus activos (nomeadamente obrigações de países com crise da dívida); 3. que está à beira da falência por não se conseguir financiar no mercado interbancário.

No caso da Bélgica, país com 11 milhões de habitantes e uma dívida em função do PIB de 96,2%, podemos afirmar com alguma segurança que este não possui a energia necessária para suportar um embate desta natureza, ou seja, o seu défice e a sua dívida terão que aumentar, e estando a dívida já tão próximo dos 100% do PIB, as agências de rating terão que reduzir a notação financeira sobre a mesma.

O cerco sobre os contribuintes continua a apertar-se cada vez mais, já que consubstanciando esta decisão, os contribuintes alemães e franceses (pois!) ficaram a saber também neste fim-de-semana que os seus líderes políticos informaram o planeta de que a recapitalização dos bancos é necessária e deve ser feita... pelos contribuintes (esta última parte não foi referida). Para quem está perplexo a ler este post e está com alguma dificuldade em compreender como tal descaramento é possível, sugiro-vos que leiam este post de 12 de Setembro que tenta explicar porque é que os bancos são tão frágeis e ao mesmo tempo tão gigantes, que os políticos não vêem outra alternativa senão salvá-los sistematicamente com o dinheiro dos... contribuintes.

Com estas decisões políticas não se pode esperar que as democracias, tal e qual como as conhecemos, durem muito mais tempo! Sob a capa da democracia e da representatividade eleitoral, os tais líderes que se apelidam de muito democratas estão a tomar decisões nestes últimos anos que obrigam a uma assunção de responsabilidades pelo povo, que este não está a quantificar nem a tomar a devida consciência no momento actual. O peso que recai e recairá sobre os seus ombros só será perceptível pelo "retrovisor", quando a asneira já está implementada, solidificada e impossível de reverter.



Tiago Mestre

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