Caros leitores e leitoras, sem grande alarido e mediatização, a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) decidiu a 18 Dezembro, "sem consultar o mundo", o seguinte:
A OPEP não excederá uma produção diária de 30 milhões de barris de petróleo.
Este valor é já hoje o que estes países produzem, e portanto os mercados não reagiram grande coisa, à excepção de que o petróleo mantêm-se teimosamente acima dos 100 dólares, mesmo com um arrefecimento grande das economias a ser já hoje uma evidência.
Talvez as tensões entre o Irão e vizinhos, nomeadamente a 5ª Frota Naval Norte-Americana, estacionada bem perto do estreito de Ormuz onde a força naval iraniana anda a realizar "testes" com duração de 10 dias, esteja também a contribuir para esta manutenção elevada dos preços do petróleo.
Já toda a gente percebeu que preços altos do petróleo significam arrefecimento ou mesmo recessão nos países mais desenvolvidos. A recessão está a chegar, as economias crescem umas décimas acima de zero e, em condições normais, os preços deveriam estar já a descer, mas... o consumo mundial continua teimosamente perto dos 90 milhões de barris diários, provocado sobretudo pela sede de petróleo dos países emergentes e também dos países que produzem mas que consumem cada vez mais, baixando a quantidade disponível para exportação.
Mas esta declaração da OPEP é muito interessante, a saber:
1. Estabelecer um tecto de 30 milhões, igualando a produção actual, permite a certos países da OPEP referir que baixaram a sua produção, não por quebra da produção, mas por "razões" da própria OPEP. Bela maneira de enganar o mundo!;
2. Quase todos os países da OPEP estagnaram a sua produção mas consomem cada vez mais, deixando cada vez menos petróleo disponível para os mercados internacionais. Manter a produção e entregar menos petróleo ao mercado internacional significa quebra na oferta;
3. A Agência Internacional de Energia estimava até há muito pouco tempo que o aumento do consumo mundial seria suportado quase em exclusivo pelos países da OPEP. Oops, tal premissa já não vale, e portanto terão que arranjar outro fornecedor (Marte) ou então aceitar a realidade de que o mundo não poderá consumir 95, 100, 105, 110 milhões diários de barris nas próximas décadas porque simplesmente ele não existe;
4. A corrida ao petróleo já começou há muitos anos, mas esta decisão da OPEC revela um novo passo: "Deixa-me guardar o que ainda tenho para ver se não me falta no futuro. Os outros que se lixem."
5. Países como a Arábia Saudita precisam do preço do petróleo elevado (acima dos 80 dólares) para cobrir as despesas adicionais que prometeram aos seus súbditos. Limitar a sua produção e consequente exportação significa preços mais elevados num contexto em que o consumo mundial "quer" continuar a aumentar.
6. Numa eventual escalada do conflito entre Irão e EUA/ Israel, a corrida ao petróleo originará picos de preço, na medida em que os fornecedores que poderiam "compensar" a quebra do Irão (4 milhões por dia), nomeadamente os colegas da OPEP, poderão não conseguir escoar a produção em tempo útil devido ao conflito na região.
7. Cada vez mais assistimos a estas decisões de governantes que, eleitos ou não eleitos, manipulam mercados e tomam decisões unilateralmente, sabendo que tais decisões afectam o planeta como um todo. A OPEP representa quase 40% da produção mundial de petróleo !! É este "salve-se quem puder" que começa a ganhar forma e rosto em todo o planeta.
Tiago Mestre
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