Caros leitores e leitoras, com o surgimento do Viriatos, o Contas terá direito a um descanso ainda de tempo indeterminado.
Foram quase 2 anos:
765 posts
1215 comentários
e desde 2012 com 300 a 400 visualizações diárias.
Não poderia pedir mais. Foi um prazer escrever e aprender com os mais de 1000 comentários que vieram de todos os lados.
Relembro que para se tornarem autores no Viriatos, só têm que enviar o vosso pedido para o Vivendi:
vivendijr@gmail.com
A energia transfere-se agora para:
viriatosdaeconomica.blogspot.pt
Obrigado pela preferência
Tiago Mestre
26 de outubro de 2012
25 de outubro de 2012
10% no IRC para novos investimentos.em Portugal
Caros leitores e leitoras, parece que o Álvaro está a tentar por a economia a crescer.
Louvamos a sua boa vontade, mas, numa primeira análise, conceder um benefício fiscal em sede de IRC para novos investimentos com valores superiores a 3 milhões de euros, deixando de fora todas as outras empresas já existentes, parece-nos, segundo o artigo 13º da Constituição, Inconstitucional.
Artigo 13.º
Louvamos a sua boa vontade, mas, numa primeira análise, conceder um benefício fiscal em sede de IRC para novos investimentos com valores superiores a 3 milhões de euros, deixando de fora todas as outras empresas já existentes, parece-nos, segundo o artigo 13º da Constituição, Inconstitucional.
Artigo 13.º
Princípio da igualdade
1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.
Apenas me baseio na "jurisprudência" que o TC lançou cá para fora há uns meses acerca da anulação do corte dos salários apenas aos funcionários públicos...
A minha opinião?
Todas as empresas sem exceção deveriam ser objeto de redução do IRC para 10%. Novas, velhas, deficitárias, rentáveis, toda a gente sem exceção.
Tiago Mestre
24 de outubro de 2012
Viriatos da Economia
Caros leitores e leitoras,
Conforme iniciativa do Vivendi aqui no Contas para a criação de um blogue, mais plural e mais participativo, segue abaixo o projeto que eu e ele idealizámos:
Viriathus Oeconomia - Viriatos da Economia
Porquê a criação do Viriatos da Economia?
Porque com o passar do tempo percebemos que a comunidade à volta do Espuma e do Contas era "boa de mais" para ser lida apenas na caixa de comentários. O nível de envolvimento intelectual, os comentários produzidos, a cortesia e o respeito entre todos os leitores deu-nos a confiança para vos convidar a participar neste novo projeto.
Com isto queremos, obviamente, que o blog seja visto por mais e mais gente.
Todos aqueles e aquelas que se sentem com vontade e dever de escrever, é só enviar o respetivo e-mail para vivendijr@gmail.com para procedermos ao envio do convite de autor.
E para aqueles ou aquelas que sentem um certo impulso mas que ainda não estão totalmente à vontade para serem autores, tenho a dizer-vos que com o tempo isso passa.
Como escrevi há uns dias num comentário, vivemos numa era em que a livre circulação de ideias e total ausência de barreiras é um luxo à nossa disposição. Nunca a humanidade teve acesso a tanta informação por tão pouco, e a Internet é a ferramenta por excelência.
É de aproveitar, porque pode não durar para sempre.
O ato de escrever e de não querer dizer asneira é também uma forma de aprendermos, já que nos obriga a recorrer às fontes, mas mais importante do que isso, ficamos sujeitos ao escrutínio público.
E assim nos tornamos vulneráveis, susceptíveis de sermos criticados ou elogiados, esquecidos ou relembrados.
Ser vulnerável é expor-me ao outro, ao desconhecido, e aceitar de bom grado o que vem do lado de lá, mesmo que achemos injusto.
Só assim é que aprendemos com o que o outro tem para nos ensinar. e só assim nos apaixonamos pelas coisas simples e belas.
Dêem uma vista de olhos ao blog para sugestões e críticas.
Os critérios de publicação são claros e simples:
Proteger a verdade económica e nunca recorrer a insultos exagerados a terceiros.
O arranque oficial será na próxima sexta-feira 26 de Outubro.
O Contas não será "desligado" da Internet, mas os novos textos a produzir, tanto meus como do Vivendi, serão sempre publicados no Viriatos.
Que a força acompanhe os Viriatos
Vivendi e Tiago
O Bluff entre gregos e o resto da Europa continua
A troika continua a atrasar o relatório sobre a última avaliação das contas da Grécia.
Pelos vistos, as últimas sessões no parlamento grego têm sido vistosas, já que, pela enésina vez, ninguém está de acordo com a austeridade que a troika tenta impor, e que não consegue efetivar.
Na tentativa de trazer boas notícias para dentro da Grécia, os líderes gregos recorreram à velha tática de fazer bluff com o resto da Europa, sendo que desta vez o privilégio foi dado ao atual ministro das finanças: Sr. Yannis Stournaras, que em declarações totalmente falsas, veio dizer à comunicação social que já tinha "segurado" um acordo com a troika.
Schäuble e companhia refutaram imediatamente a ideia, ficando Stournaras e o seu primeiro ministro Samaras em maus lençóis.
Cenas de violência verbal ocorreram no parlamento por causa de mais uma mentirinha.
Stournaras teve que admitir que afinal não havia acordo, estando em falta a aprovação do documento final!
Continuamos à espera desde Setembro pela emissão do relatório e consequente autorização para desbloquear a respetiva tranche de... 31,5 mil milhões de euros.
Como todos sabemos, a Grécia não consegue cumprir aquilo que lhe é imposto. Ou por motivos endógenos, ou por motivos exógenos, ou ambos, as coisas não conseguem ir para a frente.
Mas haverá coragem política da troika para bloquear a tranche e com isso promover uma bancarrota unilateral e sem regra na Grécia?
Não, porque o momento para o fazer é sempre mau...
Ou porque há eleições nos EUA
Ou porque os mercados estão muito agitados
Ou porque iria estragar tudo o que já foi feito
Enfim, é só por a cabecinha a imaginar.
O que sabemos é que este esquema de bailout com contrapartidas é uma autêntica farsa, porque:
Julgava-se que o remédio era pouco doloroso e a recuperação seria rápida
Julgava-se que a Grécia iria cumprir
E nunca se imaginaria que um dia os líderes da troika se vissem confrontados com este enorme conflito de interesses - se entrego dinheiro sem cumprimento de metas tudo é uma farsa, se não entrego o dinheiro o caos antecipa-se já para amanhã, e posso começar já a fazer os emails de despedida.
Numa circunstância destas, em que nos deixamos envolver por uma total e completa camisa de forças, como é possível decidir de modo firme, justo e não suscetível de ser influenciado por pressões ?
Não é possível. Daí o adiamento na entrega do relatório, daí andarem à procura de mais alguma aldrabice para comprar mais uns meses até a "pastilha" voltar outra vez às mesmas mãos.
O artigo no ZeroHedge está muito interessante.
Tiago Mestre
Pelos vistos, as últimas sessões no parlamento grego têm sido vistosas, já que, pela enésina vez, ninguém está de acordo com a austeridade que a troika tenta impor, e que não consegue efetivar.
Na tentativa de trazer boas notícias para dentro da Grécia, os líderes gregos recorreram à velha tática de fazer bluff com o resto da Europa, sendo que desta vez o privilégio foi dado ao atual ministro das finanças: Sr. Yannis Stournaras, que em declarações totalmente falsas, veio dizer à comunicação social que já tinha "segurado" um acordo com a troika.
Schäuble e companhia refutaram imediatamente a ideia, ficando Stournaras e o seu primeiro ministro Samaras em maus lençóis.
Cenas de violência verbal ocorreram no parlamento por causa de mais uma mentirinha.
Stournaras teve que admitir que afinal não havia acordo, estando em falta a aprovação do documento final!
Continuamos à espera desde Setembro pela emissão do relatório e consequente autorização para desbloquear a respetiva tranche de... 31,5 mil milhões de euros.
Como todos sabemos, a Grécia não consegue cumprir aquilo que lhe é imposto. Ou por motivos endógenos, ou por motivos exógenos, ou ambos, as coisas não conseguem ir para a frente.
Mas haverá coragem política da troika para bloquear a tranche e com isso promover uma bancarrota unilateral e sem regra na Grécia?
Não, porque o momento para o fazer é sempre mau...
Ou porque há eleições nos EUA
Ou porque os mercados estão muito agitados
Ou porque iria estragar tudo o que já foi feito
Enfim, é só por a cabecinha a imaginar.
O que sabemos é que este esquema de bailout com contrapartidas é uma autêntica farsa, porque:
Julgava-se que o remédio era pouco doloroso e a recuperação seria rápida
Julgava-se que a Grécia iria cumprir
E nunca se imaginaria que um dia os líderes da troika se vissem confrontados com este enorme conflito de interesses - se entrego dinheiro sem cumprimento de metas tudo é uma farsa, se não entrego o dinheiro o caos antecipa-se já para amanhã, e posso começar já a fazer os emails de despedida.
Numa circunstância destas, em que nos deixamos envolver por uma total e completa camisa de forças, como é possível decidir de modo firme, justo e não suscetível de ser influenciado por pressões ?
Não é possível. Daí o adiamento na entrega do relatório, daí andarem à procura de mais alguma aldrabice para comprar mais uns meses até a "pastilha" voltar outra vez às mesmas mãos.
O artigo no ZeroHedge está muito interessante.
Tiago Mestre
Ouro como colateral para emitir dívida
Caros leitores e leitoras, quando os rácios de endividamento de Portugal já se encontram em níveis do TOP3 mundial, e que só com mais dívida é que nos vamos mantendo à tona de água, há sempre alguém que encontra mais qualquer coisa que sirva de colateral para... obter ainda mais dívida:
O título sugestivo desta notícia do Económico dá a entender que se o Governo usar ouro como colateral, mais financiamento poderá ser obtido, e mais confiança se gerará nos credores para com Portugal, baixando as taxas de juro de referência.
Esta premissa até pode ser verdade, mas gostaríamos de relembrar que Portugal, desde Dezembro de 2011, encontrou condições ímpares de financiamento junto do BCE e da CE.
Independentemente de todos estes mecanismos violarem o artigo 123º e 124º do Tratado de Lisboa (quem é que já liga a essa folha de papel?) de forma DIRETA, e não de forma INDIRETA como o Filipe sugeriu num comentário anterior, a verdade é que no espaço de menos de um a no, saiu da cartola o LTRO 1 e 2, o ESM reforçado e aprovado pelo Bundestag, a manutenção do EFSF e mais recentemente, o programa OMT, verdadeiro harakiri das políticas neo-keynesianas da UE.
Com esta brincadeira toda, o BCE e a CE comprometem-se a disponibilizar 2 a 3 triliões de euros para "ajudar" os países.
Será que Portugal precisa de ainda mais "artilharia" para conseguir baixar mais as OT's a 10 anos?
Há uns anos, usar ouro como colateral para empréstimos num mundo FIAT a todo o vapor seria talvez motivo de risota. O sistema apodreceu, a confiança deteriorou-se, e o velhinho ouro, que é pesado, frio, não rende juros e não serve para usar nem nas lojas nem nas ruas, afinal já possui valor intrínseco e já serve. E não deixa de ser irónico que a sugestão de usar ouro como colateral nos dias que correm deve-se à imensa valorização que sofreu desde 2001-2002. E porque é que se valorizou? Porque muitos começaram a perceber que a raiz do sistema FIAT estava a apodrecer por todos os lados, e decidiram preparar-se mais cedo para a catástrofe. Mais gente a comprar do que a vender, e upa upa.
A notícia é interessante porque é mais um sintoma de como o sistema vigente "treme que nem varas verdes"
Se eu concordo com o uso de colateral para nos financiarmos? NÃO
Porquê?
1. Dificilmente faria baixar as taxas de juro, tais são os estímulos que já temos em cima da mesa. Se o BCE diz que compra a dívida TODA recorrendo ao programa OMT, para quê carregar mais no acelerador? Só se for para nos despenharmos ainda mais depressa.
2. O ouro, na minha opinião, é de Portugal e dos portugueses. Foi Salazar que o foi comprando ao longo de décadas, tendo sido vendidos aproximadamente 2/3 logo a seguir ao 25 de Abril. O terço que ainda sobra começa agora a ser cortejado. O melhor que se faria dele era usá-lo como reserva para uma nova moeda caso saíssemos do Euro. Até lá, é um ativo do BdP, e de certa forma uma reserva em última instância do Euro, já que estamos impedidos de mexer nele... até ao dia em Bruxelas decida o contrário, claro.
Se se gastar já o ouro em colateral em empréstimos, não haverá chance de o usar como colateral para a emissão de moeda, a não ser que o governo português contrate os serviços da JP Morgan e dê início a processos fraudulentos de rehipotecação do seu ouro. Já estou a imaginar os produtos financeiros que farão o governo portuguêsenriquecer empobrecer:
PTGold Bonds
PTGold ETF
PTGold CDS
PTGold e PTGold Futures na Comex
3. Tornar o ouro como colateral para empréstimos é tão só querer perpetuar esta nossa vontade gulosa de gostarmos muito de viver com dinheiro que não é gerado internamente.
NÃO SE PODEM PAGAR SALÁRIOS, PENSÕES E DESPESAS CORRENTES COM DÍVIDA.
Esta frase deveria estar gravada nas fachadas da entrada de cada Ministério.
4. Por último, mas não menos importante, tanto quanto julgo saber, o valor do ouro no BdP rondará os 14 a 15 mil milhões de euros. Este valor corresponde a 2 anos de défice público, ou seja, o Estado a cada 2 anos gera nova dívida desta ordem de grandeza. Portanto, num ápice colocaríamos todo o ouro como colateral, que depois teria que continuar a ser usado como colateral em nova dívida quando a dívida anterior vencesse. Moral da história, desleixávamo-nos no esforço de contenção orçamental e o ouro ficaria totalmente encravado nas dívidas.
Tb já estou a imaginar os argumentos do PCP quando tal fenómeno ocorresse:
" Ouro português entregue ao desbarato a credores usurários"
" Soberania por água abaixo com entrega de ouro aos ricos e poderosos"
" É um esbulho o que se está a fazer aos portugueses"
Enfim, a proposta pode ter boas intenções por trás, mas aprendi há uns anos que o caminho para o inferno está pavimentado de boas intenções.
Tiago Mestre
O título sugestivo desta notícia do Económico dá a entender que se o Governo usar ouro como colateral, mais financiamento poderá ser obtido, e mais confiança se gerará nos credores para com Portugal, baixando as taxas de juro de referência.
Esta premissa até pode ser verdade, mas gostaríamos de relembrar que Portugal, desde Dezembro de 2011, encontrou condições ímpares de financiamento junto do BCE e da CE.
Independentemente de todos estes mecanismos violarem o artigo 123º e 124º do Tratado de Lisboa (quem é que já liga a essa folha de papel?) de forma DIRETA, e não de forma INDIRETA como o Filipe sugeriu num comentário anterior, a verdade é que no espaço de menos de um a no, saiu da cartola o LTRO 1 e 2, o ESM reforçado e aprovado pelo Bundestag, a manutenção do EFSF e mais recentemente, o programa OMT, verdadeiro harakiri das políticas neo-keynesianas da UE.
Com esta brincadeira toda, o BCE e a CE comprometem-se a disponibilizar 2 a 3 triliões de euros para "ajudar" os países.
Será que Portugal precisa de ainda mais "artilharia" para conseguir baixar mais as OT's a 10 anos?
Há uns anos, usar ouro como colateral para empréstimos num mundo FIAT a todo o vapor seria talvez motivo de risota. O sistema apodreceu, a confiança deteriorou-se, e o velhinho ouro, que é pesado, frio, não rende juros e não serve para usar nem nas lojas nem nas ruas, afinal já possui valor intrínseco e já serve. E não deixa de ser irónico que a sugestão de usar ouro como colateral nos dias que correm deve-se à imensa valorização que sofreu desde 2001-2002. E porque é que se valorizou? Porque muitos começaram a perceber que a raiz do sistema FIAT estava a apodrecer por todos os lados, e decidiram preparar-se mais cedo para a catástrofe. Mais gente a comprar do que a vender, e upa upa.
A notícia é interessante porque é mais um sintoma de como o sistema vigente "treme que nem varas verdes"
Se eu concordo com o uso de colateral para nos financiarmos? NÃO
Porquê?
1. Dificilmente faria baixar as taxas de juro, tais são os estímulos que já temos em cima da mesa. Se o BCE diz que compra a dívida TODA recorrendo ao programa OMT, para quê carregar mais no acelerador? Só se for para nos despenharmos ainda mais depressa.
2. O ouro, na minha opinião, é de Portugal e dos portugueses. Foi Salazar que o foi comprando ao longo de décadas, tendo sido vendidos aproximadamente 2/3 logo a seguir ao 25 de Abril. O terço que ainda sobra começa agora a ser cortejado. O melhor que se faria dele era usá-lo como reserva para uma nova moeda caso saíssemos do Euro. Até lá, é um ativo do BdP, e de certa forma uma reserva em última instância do Euro, já que estamos impedidos de mexer nele... até ao dia em Bruxelas decida o contrário, claro.
Se se gastar já o ouro em colateral em empréstimos, não haverá chance de o usar como colateral para a emissão de moeda, a não ser que o governo português contrate os serviços da JP Morgan e dê início a processos fraudulentos de rehipotecação do seu ouro. Já estou a imaginar os produtos financeiros que farão o governo português
PTGold Bonds
PTGold ETF
PTGold CDS
PTGold e PTGold Futures na Comex
3. Tornar o ouro como colateral para empréstimos é tão só querer perpetuar esta nossa vontade gulosa de gostarmos muito de viver com dinheiro que não é gerado internamente.
NÃO SE PODEM PAGAR SALÁRIOS, PENSÕES E DESPESAS CORRENTES COM DÍVIDA.
Esta frase deveria estar gravada nas fachadas da entrada de cada Ministério.
4. Por último, mas não menos importante, tanto quanto julgo saber, o valor do ouro no BdP rondará os 14 a 15 mil milhões de euros. Este valor corresponde a 2 anos de défice público, ou seja, o Estado a cada 2 anos gera nova dívida desta ordem de grandeza. Portanto, num ápice colocaríamos todo o ouro como colateral, que depois teria que continuar a ser usado como colateral em nova dívida quando a dívida anterior vencesse. Moral da história, desleixávamo-nos no esforço de contenção orçamental e o ouro ficaria totalmente encravado nas dívidas.
Tb já estou a imaginar os argumentos do PCP quando tal fenómeno ocorresse:
" Ouro português entregue ao desbarato a credores usurários"
" Soberania por água abaixo com entrega de ouro aos ricos e poderosos"
" É um esbulho o que se está a fazer aos portugueses"
Enfim, a proposta pode ter boas intenções por trás, mas aprendi há uns anos que o caminho para o inferno está pavimentado de boas intenções.
Tiago Mestre
23 de outubro de 2012
Plataforma Discutir Portugal
Caros leitores e leitoras,
É com enorme prazer que informo aqui no Contas a abertura oficial da Plataforma DISCUTIR PORTUGAL
http://discutir-portugal. wikidot.com/start
Concebido pelo André Gonçalves e dinamizado pelo João Neto, ilustres leitores aqui do Contas, esta plataforma pretende lançar uma base de discussão alargada sobre as grandes opções do Estado português.
Por forma a perceberem os reais desígnios e objetivos do Discutir Portugal, transcrevo abaixo o manifesto:
É com enorme prazer que informo aqui no Contas a abertura oficial da Plataforma DISCUTIR PORTUGAL
http://discutir-portugal.
Concebido pelo André Gonçalves e dinamizado pelo João Neto, ilustres leitores aqui do Contas, esta plataforma pretende lançar uma base de discussão alargada sobre as grandes opções do Estado português.
Por forma a perceberem os reais desígnios e objetivos do Discutir Portugal, transcrevo abaixo o manifesto:
Caros compatriotas,
como sabeis todos o nosso país atravessa actualmente uma crise gravíssima. As causas dessa crise são múltiplas mas podem ser resumidas a duas: as acções desequilibradas e desordenadas do mundo político, quer quantitativamente quer qualitativamente, e a falta de autonomia da nossa sociedade.
Nas últimas décadas os nossos dirigentes políticos prometeram-nos mais justiça e bem-estar social, e para garantirem isso distribuíram pensões e apoios sociais, ofereceram ajudas e subsídios económicos, empregarem quer directamente, por via do funcionarismo público ou o sector empresarial estatal, quer indirectamente, por via de obras públicas ou outras encomendas, largas camadas da população activa, e criaram regimes jurídicos excepcionais para proteger sectores apontados como necessitados. Tudo isto teve por consequência estrangular a actividade privada produtiva nacional, seja através da fiscalidade ou da burocracia, e desincentivar o trabalho produtivo pela procura de rendas, sejam elas de âmbito financeiro ou legislativo.
De igual modo a sociedade portuguesa tem demonstrado uma clara passividade parente a irresponsabilidade e o compadrio dos seus decisores políticos. Pior ainda, largos sectores da nossa sociedade parecem congratularem-se por este tipo de situação, muito provavelmente por lucrarem com ela mesmo que à custa da maioria ou de um nível de vida em geral melhor mas que necessite mais empenho. Esta afirmação não é, infelizmente, algo que corresponde somente a um cenário recente mas sim a algo de histórico. Tradicionalmente o povo português tem demonstrado pouco interesse pelo regime político em vigor, manifestando-se de forma activa apenas quando a independência nacional ou a sua propriedade directa arriscasse ser confiscada sem indemnização possível. Por muito compreensível e louvável que sejam estas razões, temos de reconhecer que a seguir a essas manifestações pouco foi feito para assegurarmo-nos que o nosso país esteja correctamente organizado. Devido a isso as elites nacionais puderam agir praticamente impunemente, confiscando das mais diversas maneiras grande parte do fruto do trabalho dos portugueses, criando regimes de protecção dos mais criativos para institucionalizarem essas diversas formas de extorsão e de limitações da liberdade, e para evitarem a contestação geral distribuíram certas benesses à população para a convencer da necessidade do regime vigente. O período actual não diferiu infelizmente de esta análise, pelo contrário tende a confirmá-la.
Em todo o caso esta situação originou um país social e territorialmente desigual, empobreceu a maioria dos portugueses quer seja através da redução directa dos seus rendimentos, da destruição do seu emprego ou do estancamento das oportunidades. Sistema duplamente perverso porque consegue a proeza de ter cerca da metade da população dependente do mundo político, uma maneira de pressionar a população a preferir um mal conhecido que arriscar a seguir um bem desconhecido.
Não é de nos admirarmos que este sistema começou a desmoronar-se com a crise de 2009. Esta crise serviu justamente que estávamos a seguir o mau caminho, o caminho do desperdicio, da corrupção, da miséria, da servidão. Até agora houve várias tentativas para corrigir o sistema, mas a sua esmagadora maioria só serviu para o manter vivo, mesmo que artificialmente, mesmo que para isso a esmagadora maioria dos portugueses tivesse que sofrer das mais diversas maneiras a sua existência.
O mundo político português dá a impressão que vai falhar e as consequências imediatamente à vista são nos dadas por uma recente sondagem onde 87% dos inquiridos acham que a democracia não é o melhor, ou o menos pior, dos regimes políticos para Portugal. Tendo em conta esta informação, sabendo que historicamente os períodos de maior prosperidade aconteceram quase sempre durante autoritarismos, em que a população era na sua esmagadora maioria brutalizada pelo menor questionamento por uma pequena elite, que distribuía de forma exclusiva privilégios a certas minorias susceptíveis de garantir a sua permanência no poder, podemos facilmente ficar preocupados com o futuro num sentido mais largo.
O risco de conhecermos a desordem, e no final de surgir outra ditadura, não podem ser descartados visto que em todo caso o Estado português está condenado à falência caso não reveja consideravelmente a sua forma de ser e de se comportar. A questão agora é de saber se estamos condenados à desordem ou se conseguimos resolver os nossos problemas. Obviamente a resposta a esta questão só pode ser positiva, mas cabe a nós de a fornecermos pelas nossas próprias forças. Bem vimos que não podemos contar sobre as nossas elites políticas, bem pelo contrário. É possível que as elites políticas resgatem o Estado do descalabro, mas nada nos garante que construam a seguir um sistema verdadeiramente eficaz, eficiente, justo e livre.
Assim é mais que tempo para a sociedade portuguesa de se levantar e tomar as rédeas do seu destino. A ela de decidir o que quer para o seu futuro e de se responsabilizar pelas suas escolhas.
É por isso que o Discutir Portugal foi criado.
O Discutir Portugal é por isso um espaço de discussão e de debate, tendo por objectivo formular propostas e medidas concretas, realistas, susceptíveis de serem implementadas com o intuito de libertar o nosso país das misérias que o acablam há demasiado tempo.
O Discutir Portugal tem por objectivo transformar Portugal. O nosso objectivo é devolver Portugal aos portugueses, permitir ao nosso povo fazer as suas próprias escolhas, decidir o que quer construir, para quê quer contribuir e o que espera receber em troca do seu trabalho, sendo obviamente tratado em conformidade com os seus esforços.
O Discutir Portugal será por isso um actor activo na cena nacional. A prazo deveremos elaborar um grande plano que apresentará uma renovação completa das estruturas do nosso país, dando-lhes coerência, solidez e sustentabilidade. Esse plano será comunicado a todo o país para que, a defeito de ser aplicado, seja ao menos discutido.
Basta de esperarmos pelos outros, basta de pagarmos pelos outros, basta de sofrermos por causa dos outros, basta de nos lamentarmos, basta de criticarmos constantemente. É tempo de agir, de sermos responsáveis, de tomarmos conta de nós próprios !
Portugal é nosso. Cabe a nós de construirmos o Portugal que desejamos, um Portugal capaz de fornecer aos seus filhos, netos, bisnetos a felicidade que tanto merecem. A felicidade que tanto merecemos !
É por isso que vos convidamos a virem discutir connosco do que deverá ser Portugal, de nos ajudarem a construir um Portugal próspero, orgulhoso, sustentável, solidário, capaz e feliz ! Para construir o vosso próprio Portugal !
Síntese orçamental de Outubro
site da DGO:
Ao ver a evolução da despesa até Setembro de 2012 em comparação com a despesa de 2011, salta a vista que apenas os custos com pessoal reduziram de 9,5 para 8,6 mil milhões: -14,5%
Já a aquisição de bens e os juros revelam outra realidade que anula os efeitos positivos na redução da despesa com pessoal.
Todo somado, até Set 2012, a despesa total é de 52,79 mil milhões, contrastando com os 50,26 mil milhões até Set 2011. São mais 2,3 mil milhões de euros de despesa adicional, ou seja, 5% a mais. Não é brincadeira.
O défice já roça os 6 mil milhões, sendo que em 2011 ainda ia nos 4,5 mil milhões de euros. Se não fosse o incremento adicional de receita com a história dos fundos de pensões (2,5 mil milhões), o défice já andava na casa dos 8 mil milhões.
Estes dados dão-me a sensação de que a trajetória da despesa parece estar um bocadinho em "roda livre". Posso estar a exagerar, mas com uma diferença destas face a 2011, seria de prever que Gaspar andasse mais inquieto. Mas não, parece estar sereno. Este homem é um mistério para mim.
Tiago Mestre
Ao ver a evolução da despesa até Setembro de 2012 em comparação com a despesa de 2011, salta a vista que apenas os custos com pessoal reduziram de 9,5 para 8,6 mil milhões: -14,5%
Já a aquisição de bens e os juros revelam outra realidade que anula os efeitos positivos na redução da despesa com pessoal.
Todo somado, até Set 2012, a despesa total é de 52,79 mil milhões, contrastando com os 50,26 mil milhões até Set 2011. São mais 2,3 mil milhões de euros de despesa adicional, ou seja, 5% a mais. Não é brincadeira.
O défice já roça os 6 mil milhões, sendo que em 2011 ainda ia nos 4,5 mil milhões de euros. Se não fosse o incremento adicional de receita com a história dos fundos de pensões (2,5 mil milhões), o défice já andava na casa dos 8 mil milhões.
Estes dados dão-me a sensação de que a trajetória da despesa parece estar um bocadinho em "roda livre". Posso estar a exagerar, mas com uma diferença destas face a 2011, seria de prever que Gaspar andasse mais inquieto. Mas não, parece estar sereno. Este homem é um mistério para mim.
Tiago Mestre
Como poderíamos tentar prever o PIB? (Parte 3)
Evolução da dívida total acumulada por setor.
Dados Banco de Portugal, Boletim Estatístico, Quadro K.1.2
Com este gráfico confirma-se que o aumento da dívida nacional, nos dias que correm, se deve ao aumento da dívida pública fruto dos sucessivos défices anuais que o Estado gera.
As famílias já estão a baixar o endividamento, tendo atingido um pico de 179 mil milhões em 2009.
As empresas continuam muito endividadas, e sempre que há uma redução na concessão de crédito por parte dos bancos, as empresas vêem-se logo à rasca porque não conseguem ter lucro suficiente para pagar juros e capital. É o monstro em todo o seu esplendor.
As empresas públicas estão sufocadas em dívida, mas parece que a festa para estas também acabou.
E é o Estado que tenta compensar todo este desmame com mais e mais dívida, mas também ele próprio está comprometido com a troika em baixar défices.
Conseguirá o Estado sair de cena (défice zero) para que o resto da economia se possa endividar mais ainda e com isso fazer crescer o PIB qualquer coisa? O stock de nova dívida é finito, como sabemos.
Ou poderemos estar a caminhar para um fenómeno do tipo "Peak Credit", sendo possível antecipar desde já quedas sucessivas do PIB até que a dívida se torne um valor aceitável aos olhos dos investidores?
Tiago Mestre
Dados Banco de Portugal, Boletim Estatístico, Quadro K.1.2
Com este gráfico confirma-se que o aumento da dívida nacional, nos dias que correm, se deve ao aumento da dívida pública fruto dos sucessivos défices anuais que o Estado gera.
As famílias já estão a baixar o endividamento, tendo atingido um pico de 179 mil milhões em 2009.
As empresas continuam muito endividadas, e sempre que há uma redução na concessão de crédito por parte dos bancos, as empresas vêem-se logo à rasca porque não conseguem ter lucro suficiente para pagar juros e capital. É o monstro em todo o seu esplendor.
As empresas públicas estão sufocadas em dívida, mas parece que a festa para estas também acabou.
E é o Estado que tenta compensar todo este desmame com mais e mais dívida, mas também ele próprio está comprometido com a troika em baixar défices.
Conseguirá o Estado sair de cena (défice zero) para que o resto da economia se possa endividar mais ainda e com isso fazer crescer o PIB qualquer coisa? O stock de nova dívida é finito, como sabemos.
Ou poderemos estar a caminhar para um fenómeno do tipo "Peak Credit", sendo possível antecipar desde já quedas sucessivas do PIB até que a dívida se torne um valor aceitável aos olhos dos investidores?
Tiago Mestre
O que é que se pode fazer à nossa dívida?
De acordo com a notícia do economist que o vivendi postou, começa a ser cada vez mais evidente aos olhos dos investidores internacionais que Portugal já não tem condições objetivas para liquidar parte da sua dívida sem com isso sofrer enormes recessões.
No post Como poderemos tentar prever o PIB (Parte 1), avancei com a ideia de que sempre que a nova dívida emitida anualmente for inferior a 32-35 mil milhões de euros, Portugal cai em recessão.
É muita dívida anual só para nos mantermos à tona de água. E atrás da dívida (o monstro), vêm os juros (os filhotes) que paulatinamente lá vão crescendo, sempre pela calada, já que temos anos em que o seu valor desce (porque a taxa de juro baixou), e anos em que cresce brutalmente sem sabermos bem de onde é que aquilo apareceu. As agência de notação financeira costumam usar dois critérios para definir se a dívida já passou a barreira limite da solvência, sendo que o segundo não me recordo de momento!
Primeiro: Juros consomem mais de 10% da receita pública - Portugal já o ultrapassou
Já exprimi várias vezes a minha opinião sobre esta história da bancarrota:
Por princípio sou contra. Fujo dela a sete pés.
Mas para fugir dela, tenho que fugir também de dívida para pagar despesas correntes, como salários, por exemplo, ou investimentos ruinosos, o que significa que qualquer instituição deve ter um saldo positivo: superavit.
E com o dinheiro que sobra, que é lucro que a instituição consegue libertar da sua atividade, poder-se-á:
Ou distribuir na perspetiva que se considerar sempre mais interessante e mais reprodutiva;
Ou então reduzir impostos para o ano seguinte.
No caso atual português, este cenário é uma completa miragem, e o tempo que tenho dedicado aqui no contas serve para tentar perceber realmente o que é que temos, e não aquilo que gostaríamos de ter.
A radiografia de tudo isto é MÁ.
Por ser má é que não vejo outra solução senão a declaração unilateral de Bancarrota aos nosso credores.
Em termos práticos, e salvo melhor opinião, penso que toda a dívida detida por instituições públicas, como o BCE, FMI, ESM, e EFSF seria para declarar delinquente, ou seja, tanto o capital como os juros seriam para deixar de pagar sem quaisquercondições, já a partir de 2014.
Com os credores privados, teríamos que renegociar para que o papel atualmente a circular no mercado fosse trocado por outro com juros mais baixos, mantendo sempre as maturidades. Os privados não perderiam o seu capital nem a sua maturidade, viam era o seu lucro reduzido.
Em 2014, mais de 50% de toda a dívida pública portuguesa será detida pela troika. Dos 8-9 mil milhões de juros que iremos pagar em 2013 e também em 2014, passaríamos para menos de metade.
E se a taxa de juro no setor privado descesse para metade, poderíamos poupar mais 1 ou 2 mil milhões de euros.
Simultaneamente, a SS teria que levar o maior rombo da sua vida, já que com um saldo deficitário para 2013 de 9 mil milhões de euros é uma bomba relógio à espera de rebentar.
No primeiro ano, o seu saldo deficitário deveria ser eliminado em metade (4,5 mil milhões) e no ano seguinte eliminar o resto.
Cortar 9 mil milhões na SS em 2 anos seria uma autêntica revolução em Portugal, mas enfim.
Com uma redução anual de 5-6 mil milhões nos juros, a par dos 9 mil milhões da SS, infelizmente a guerra não iria ficar por aqui.
O Estado teria que deixar muitas universidades, politécnicos, hospitais e outras instituições nas mãos dos privados, e só se estes quisessem, porque de outra maneira seriam para extinguir.
Na esfera do Estado, a redução da despesa não poderia ser inferior a 4-5 mil milhões de euros.
A cortar assim já poderíamos pensar em baixar os impostos a sério, por forma a que Portugal voltasse a ser um país atrativo na captação de investimento e de pessoas (portugueses emigrados no estrangeiro e outros)
Há inúmeras soluções, e todas elas válidas ou inválidas sob determinados pontos de vista. As que aqui deixo são apenas o meu ponto de vista, sendo de ressalvar que soluções deste género são draconianas e o período de transição seria o mais doloroso talvez da história portuguesa nos últimos séculos. A recessão iria continuar por muitos anos, e provavelmente o PIB cairia em 3 ou 4 anos 30 ou 40% do seu valor atual.
Tiago Mestre
No post Como poderemos tentar prever o PIB (Parte 1), avancei com a ideia de que sempre que a nova dívida emitida anualmente for inferior a 32-35 mil milhões de euros, Portugal cai em recessão.
É muita dívida anual só para nos mantermos à tona de água. E atrás da dívida (o monstro), vêm os juros (os filhotes) que paulatinamente lá vão crescendo, sempre pela calada, já que temos anos em que o seu valor desce (porque a taxa de juro baixou), e anos em que cresce brutalmente sem sabermos bem de onde é que aquilo apareceu. As agência de notação financeira costumam usar dois critérios para definir se a dívida já passou a barreira limite da solvência, sendo que o segundo não me recordo de momento!
Primeiro: Juros consomem mais de 10% da receita pública - Portugal já o ultrapassou
Já exprimi várias vezes a minha opinião sobre esta história da bancarrota:
Por princípio sou contra. Fujo dela a sete pés.
Mas para fugir dela, tenho que fugir também de dívida para pagar despesas correntes, como salários, por exemplo, ou investimentos ruinosos, o que significa que qualquer instituição deve ter um saldo positivo: superavit.
E com o dinheiro que sobra, que é lucro que a instituição consegue libertar da sua atividade, poder-se-á:
Ou distribuir na perspetiva que se considerar sempre mais interessante e mais reprodutiva;
Ou então reduzir impostos para o ano seguinte.
No caso atual português, este cenário é uma completa miragem, e o tempo que tenho dedicado aqui no contas serve para tentar perceber realmente o que é que temos, e não aquilo que gostaríamos de ter.
A radiografia de tudo isto é MÁ.
Por ser má é que não vejo outra solução senão a declaração unilateral de Bancarrota aos nosso credores.
Em termos práticos, e salvo melhor opinião, penso que toda a dívida detida por instituições públicas, como o BCE, FMI, ESM, e EFSF seria para declarar delinquente, ou seja, tanto o capital como os juros seriam para deixar de pagar sem quaisquercondições, já a partir de 2014.
Com os credores privados, teríamos que renegociar para que o papel atualmente a circular no mercado fosse trocado por outro com juros mais baixos, mantendo sempre as maturidades. Os privados não perderiam o seu capital nem a sua maturidade, viam era o seu lucro reduzido.
Em 2014, mais de 50% de toda a dívida pública portuguesa será detida pela troika. Dos 8-9 mil milhões de juros que iremos pagar em 2013 e também em 2014, passaríamos para menos de metade.
E se a taxa de juro no setor privado descesse para metade, poderíamos poupar mais 1 ou 2 mil milhões de euros.
Simultaneamente, a SS teria que levar o maior rombo da sua vida, já que com um saldo deficitário para 2013 de 9 mil milhões de euros é uma bomba relógio à espera de rebentar.
No primeiro ano, o seu saldo deficitário deveria ser eliminado em metade (4,5 mil milhões) e no ano seguinte eliminar o resto.
Cortar 9 mil milhões na SS em 2 anos seria uma autêntica revolução em Portugal, mas enfim.
Com uma redução anual de 5-6 mil milhões nos juros, a par dos 9 mil milhões da SS, infelizmente a guerra não iria ficar por aqui.
O Estado teria que deixar muitas universidades, politécnicos, hospitais e outras instituições nas mãos dos privados, e só se estes quisessem, porque de outra maneira seriam para extinguir.
Na esfera do Estado, a redução da despesa não poderia ser inferior a 4-5 mil milhões de euros.
A cortar assim já poderíamos pensar em baixar os impostos a sério, por forma a que Portugal voltasse a ser um país atrativo na captação de investimento e de pessoas (portugueses emigrados no estrangeiro e outros)
Há inúmeras soluções, e todas elas válidas ou inválidas sob determinados pontos de vista. As que aqui deixo são apenas o meu ponto de vista, sendo de ressalvar que soluções deste género são draconianas e o período de transição seria o mais doloroso talvez da história portuguesa nos últimos séculos. A recessão iria continuar por muitos anos, e provavelmente o PIB cairia em 3 ou 4 anos 30 ou 40% do seu valor atual.
Tiago Mestre
22 de outubro de 2012
Como poderíamos tentar prever o PIB? (Parte 2)
O Pedro Miguel deu uma ajuda bem boa ao ver na Pordata séries a partir de 1960 de 3 das 5 rúbricas que compõem o PIB:
Despesa Pública
Despesa Privada
Investimento (Formação Bruta de Capital)
... e depois descobri eu as Importações e Exportações desde 1996.
Relembrando a fórmula do PIB:
Consumo Público + Consumo Privado + Investimento + Exportações - Importações
Os gráficos abaixo revelam a variação anual destes vários componentes, sendo que o segundo gráfico revela a variação anual, mas baseada na média dos últimos 5 anos. Desta forma obtêm-se uma linha mais "serena" e menos sujeita a epifenómenos anuais:
No primeiro gráfico é difícil perceber tendências pelo que decidi usar as médias dos últimos 5 anos no segundo gráfico.
E o que se vê?
É que o PIB cai em TODAS as suas rúbricas, com menor incidência nas exportações.
Sendo as Importações uma coisa MÁ para o PIB, porque subtrai ao valor deste, a sua queda não é suficiente para compensar a queda de todos os outros. Mas há rúbricas que caiem mais do que outras.
A trajetória do Investimento é arrepiante.
A afirmação que vou fazer é discutível, mas sabe-se que esta rúbrica, também referida em alguns meios como Formação Bruta de Capital, serve hoje de radiografia para se perceber o que será a economia portuguesa amanhã.
Se não houver investimento hoje, dificilmente haverá novos postos de trabalho amanhã.
Quando estas variações das várias rúbricas, quer as anuais, quer as médias a 5 anos, se aproximam do zero, isso significa que estas rúbricas começam a deixar de crescer em valor real. Atingem o seu pico. E crescer tem sido o paradigma da civilização ocidental desde a 2ª Guerra Mundial, com anos de recessão pelo meio, mas rapidamente corrigidos nos anos subsequentes, retomando o crescimento "habitual".
Também elaborei o gráfico com médias a 10 anos, para se perceber se a tendência de queda generalizada foi um fenómeno da última década ou se já vem de trás:
Nas exportações e importações só arranjei dados a partir de 1996, pelo que a média destes não reflete uma tendência tão profunda como os restantes.
Relembro que nas restantes rúbricas os dados no ano 2000 refletem a média da década anterior, ou seja, desde 1990.
Apesar de se perceber uma tendência generalizada de queda em todas as rúbricas, só a rúbrica Investimento é que desce abaixo do zero, no ano de 2008, refletindo a média das variações anuais desde 1998.
Em 2011, a média dos últimos 10 anos já se aproxima dos -4%.
Não obstante, o Investimento é a rúbrica com menor importância no PIB em 2011:
Consumo Público: 19,64%
Consumo Privado: 67,11%
Investimento: 16,43%
Exportações: 35,98%
Importações: 39,15%
Ou seja, não é a sua importância relativa face aos restantes "colegas"que merece relevo, mas antes a sua capacidade intrínseca de ser o motor do crescimento nas restantes rúbricas algures no futuro.
Enunciado:
Poderá ser a trajetória do Investimento uma ante-câmara para a projeção do PIB ?
Pedro e pessoal "encarteirado". Digam de vossa justíça
Tiago Mestre
Despesa Pública
Despesa Privada
Investimento (Formação Bruta de Capital)
... e depois descobri eu as Importações e Exportações desde 1996.
Relembrando a fórmula do PIB:
Consumo Público + Consumo Privado + Investimento + Exportações - Importações
Os gráficos abaixo revelam a variação anual destes vários componentes, sendo que o segundo gráfico revela a variação anual, mas baseada na média dos últimos 5 anos. Desta forma obtêm-se uma linha mais "serena" e menos sujeita a epifenómenos anuais:
No primeiro gráfico é difícil perceber tendências pelo que decidi usar as médias dos últimos 5 anos no segundo gráfico.
E o que se vê?
É que o PIB cai em TODAS as suas rúbricas, com menor incidência nas exportações.
Sendo as Importações uma coisa MÁ para o PIB, porque subtrai ao valor deste, a sua queda não é suficiente para compensar a queda de todos os outros. Mas há rúbricas que caiem mais do que outras.
A trajetória do Investimento é arrepiante.
A afirmação que vou fazer é discutível, mas sabe-se que esta rúbrica, também referida em alguns meios como Formação Bruta de Capital, serve hoje de radiografia para se perceber o que será a economia portuguesa amanhã.
Se não houver investimento hoje, dificilmente haverá novos postos de trabalho amanhã.
Quando estas variações das várias rúbricas, quer as anuais, quer as médias a 5 anos, se aproximam do zero, isso significa que estas rúbricas começam a deixar de crescer em valor real. Atingem o seu pico. E crescer tem sido o paradigma da civilização ocidental desde a 2ª Guerra Mundial, com anos de recessão pelo meio, mas rapidamente corrigidos nos anos subsequentes, retomando o crescimento "habitual".
Também elaborei o gráfico com médias a 10 anos, para se perceber se a tendência de queda generalizada foi um fenómeno da última década ou se já vem de trás:
Nas exportações e importações só arranjei dados a partir de 1996, pelo que a média destes não reflete uma tendência tão profunda como os restantes.
Relembro que nas restantes rúbricas os dados no ano 2000 refletem a média da década anterior, ou seja, desde 1990.
Apesar de se perceber uma tendência generalizada de queda em todas as rúbricas, só a rúbrica Investimento é que desce abaixo do zero, no ano de 2008, refletindo a média das variações anuais desde 1998.
Em 2011, a média dos últimos 10 anos já se aproxima dos -4%.
Não obstante, o Investimento é a rúbrica com menor importância no PIB em 2011:
Consumo Público: 19,64%
Consumo Privado: 67,11%
Investimento: 16,43%
Exportações: 35,98%
Importações: 39,15%
Ou seja, não é a sua importância relativa face aos restantes "colegas"que merece relevo, mas antes a sua capacidade intrínseca de ser o motor do crescimento nas restantes rúbricas algures no futuro.
Enunciado:
Poderá ser a trajetória do Investimento uma ante-câmara para a projeção do PIB ?
Pedro e pessoal "encarteirado". Digam de vossa justíça
Tiago Mestre
"A despesa pública irá aumentar em 2013". Não acredito! A sério? Julgava que ia baixar?
Eis a ignorância jornalística no seu esplendor:
Medina Carreira apresenta no programa Olhos nos Olhos aquilo que para os leitores do Contas é já um dado firme:
A despesa em 2013 irá aumentar face a 2012.
Reação do jornalista José Alberto Carvalho:
ESPANTO TOTAL, e ainda considera que a opinião pública irá refletir sobre aquilo que se está a dizer no programa.
"Surpreendente", diz novamente.
É esta ignorância endémica somada à enorme falta de investigação jornalística que leva jornalistas conceituados a deixarem-se levar pelo que outros dizem, em vez de consultarem as fontes (que é o seu trabalho) e emitir opiniões fundamentadas.
Será que a partir de hoje a opinião pública portuguesa vai finalmente descobrir que afinal a despesa irá aumentar em 2013?
Tiago Mestre
Medina Carreira apresenta no programa Olhos nos Olhos aquilo que para os leitores do Contas é já um dado firme:
A despesa em 2013 irá aumentar face a 2012.
Reação do jornalista José Alberto Carvalho:
ESPANTO TOTAL, e ainda considera que a opinião pública irá refletir sobre aquilo que se está a dizer no programa.
"Surpreendente", diz novamente.
É esta ignorância endémica somada à enorme falta de investigação jornalística que leva jornalistas conceituados a deixarem-se levar pelo que outros dizem, em vez de consultarem as fontes (que é o seu trabalho) e emitir opiniões fundamentadas.
Será que a partir de hoje a opinião pública portuguesa vai finalmente descobrir que afinal a despesa irá aumentar em 2013?
Tiago Mestre
Dívida roça os 200 mil milhões de euros
- Banco de Portugal prevê que até ao final do ano a dívida ultrapasse os 200 mil milhões de euros.
Perfeitamente em linha com o que temos vindo repetidamente a escrever aqui no Contas. Não há surpresa.
Tiago Mestre
Redução nas importações: um caso prático
Queria trazer aqui ao Contas um exemplo que implementei na minha empresa com o propósito de reduzir importações e beneficiar do know-how nacional.
Desde 2007 comecei a constatar que cada vez mais os equipamentos no ramo de hotelaria e indústria alimentar eram constituídos por componentes eletrónicos. A Placa eletrónica (Motherboard) e o CPU passavam a integrar imensos equipamentos que outrora recorriam ao sistema analógico.
Até aqui tudo bem, mas quando estes componentes se começaram a danificar, verificámos que o preço de substituição poderia facilmente atingir os 800, 100 ou até 1500€. Justificar junto dos clientes orçamentos destes em que por vezes um equipamento novo custava 3,4 ou 5 mil euros era complicado.
Por acaso, nessa altura contratei para o Porto um técnico de nacionalidade portuguesa que tinha trabalhado muitos anos na Alemanha na área da eletrónica. As suas funções, ao início, não iriam passar pela manutenção de componentes eletrónicos, mas em pouco tempo percebi que se a mensagem fosse bem passada junto dos clientes, poderia haver aqui negócio.
Para as placas eletrónicas mais caras, começámos a informar os clientes que iríamos mudar a nossa abordagem:
Em vez de as adquirir novas, iríamos tentar repará-las. E assim foi.
Tivemos que adquirir ferramentas, como osciloscópio, bancada de ensaio, posto de soldadura, enfim, aquilo que se exige para trabalhar neste domínio, num investimento a rondar os 2500€.
Falámos com alguns clientes que possuíam muitos equipamentos eletrónicos distribuídos pelo território nacional, no sentido de lhes assegurar manutenção dos mesmos sem recorrer sistematicamente à aquisição de placas novas.
Foi necessário abrir novos canais de comunicação com fornecedores (quase todos estrangeiros) que vendiam especificamente este ou aquele componente que se danificava, como Mosfet's, IGBT's, Integrados, e outros.
Desta forma, concluímos que na maior parte dos casos, a reparação raramente excedia os 70 a 80€ já com mão de obra incluída. Fizemos um preço de venda ao cliente a rondar os 150€, garantindo a amortização das ferramentas adquiridas e posterior lucro para a empresa.
É muito frequente danificar-se um componente que custa 1€, um Mosfet, por exemplo, numa placa eletrónica que nova custaria 800 a 1000€!
Mas há riscos:
Em termos de garantia, é muito diferente substituir uma placa eletrónica em vez de substituir o componente danificado. Contudo, pela diferença de preços entre substituir e reparar, mesmo assim é claramente compensador substituir o componente danificado.
Por ano são vários milhares de euros que se evita gastar na aquisição de placas novas ao estrangeiro, ficando a "festa" por umas dezenas de euros.
Evitar importações, dignificando os recursos humanos em Portugal é tão importante como exportar, digo eu!
E pelo facto de a estratégia ter dado resultado no Porto, estou a tentar montar o mesmo processo mas em Lisboa. Vou tentar diminuir ou até anular a constante logística que tenho montada na empresa de envio de placas danificadas para o Porto e de reenvio para Lisboa de placas reparadas.
Tiago Mestre
Desde 2007 comecei a constatar que cada vez mais os equipamentos no ramo de hotelaria e indústria alimentar eram constituídos por componentes eletrónicos. A Placa eletrónica (Motherboard) e o CPU passavam a integrar imensos equipamentos que outrora recorriam ao sistema analógico.
Até aqui tudo bem, mas quando estes componentes se começaram a danificar, verificámos que o preço de substituição poderia facilmente atingir os 800, 100 ou até 1500€. Justificar junto dos clientes orçamentos destes em que por vezes um equipamento novo custava 3,4 ou 5 mil euros era complicado.
Por acaso, nessa altura contratei para o Porto um técnico de nacionalidade portuguesa que tinha trabalhado muitos anos na Alemanha na área da eletrónica. As suas funções, ao início, não iriam passar pela manutenção de componentes eletrónicos, mas em pouco tempo percebi que se a mensagem fosse bem passada junto dos clientes, poderia haver aqui negócio.
Para as placas eletrónicas mais caras, começámos a informar os clientes que iríamos mudar a nossa abordagem:
Em vez de as adquirir novas, iríamos tentar repará-las. E assim foi.
Tivemos que adquirir ferramentas, como osciloscópio, bancada de ensaio, posto de soldadura, enfim, aquilo que se exige para trabalhar neste domínio, num investimento a rondar os 2500€.
Falámos com alguns clientes que possuíam muitos equipamentos eletrónicos distribuídos pelo território nacional, no sentido de lhes assegurar manutenção dos mesmos sem recorrer sistematicamente à aquisição de placas novas.
Foi necessário abrir novos canais de comunicação com fornecedores (quase todos estrangeiros) que vendiam especificamente este ou aquele componente que se danificava, como Mosfet's, IGBT's, Integrados, e outros.
Desta forma, concluímos que na maior parte dos casos, a reparação raramente excedia os 70 a 80€ já com mão de obra incluída. Fizemos um preço de venda ao cliente a rondar os 150€, garantindo a amortização das ferramentas adquiridas e posterior lucro para a empresa.
É muito frequente danificar-se um componente que custa 1€, um Mosfet, por exemplo, numa placa eletrónica que nova custaria 800 a 1000€!
Mas há riscos:
Em termos de garantia, é muito diferente substituir uma placa eletrónica em vez de substituir o componente danificado. Contudo, pela diferença de preços entre substituir e reparar, mesmo assim é claramente compensador substituir o componente danificado.
Por ano são vários milhares de euros que se evita gastar na aquisição de placas novas ao estrangeiro, ficando a "festa" por umas dezenas de euros.
Evitar importações, dignificando os recursos humanos em Portugal é tão importante como exportar, digo eu!
E pelo facto de a estratégia ter dado resultado no Porto, estou a tentar montar o mesmo processo mas em Lisboa. Vou tentar diminuir ou até anular a constante logística que tenho montada na empresa de envio de placas danificadas para o Porto e de reenvio para Lisboa de placas reparadas.
Tiago Mestre
20 de outubro de 2012
FMI quando erra pede para sair e sugere aos outros que fiquem na sala com o monstro
Quando eu era pequenino, e sempre que ouvia gente importante a falar na televisão, acreditava que aquilo que nos transmitiam era a Verdade, ou a versão mais próxima disso, e sempre que diziam que iria acontecer isto ou aquilo, como não acreditar?
Essas pessoas mais velhas assemelhavam-se aos meus professores, e se o professor dizia que era daquela maneira, era assim e mais nada.
Entretanto crescemos, sentimos curiosidade em perceber o que se passa à nossa volta, e eis senão quando as velhas certezas dos doutos professores começam a não passar nos nossos testes. Começamos a perceber que afinal, tudo aquilo é mais forma do que substância, mais aparência do que essência.
Quando o FMI apareceu de mãos dadas com a UE e o BCE, prontos a ajudar a Grécia, Irlanda e depois Portugal, as suas previsões e respetivas soluções eram inquestionáveis. Caíram governos em vários países só para que se tentasse a sorte.
E mais uma vez, como acontecia no tempo da escola, "ensinaram-nos" que a sua receita, a da austeridade, traria no médio prazo resultados de tal forma espetaculares que qualquer país submetido a este remédio veria a luz do dia passados 2-3 anos.
Provavelmente foi isso que aconteceu com alguns deles que foram intervencionados, mas deveriam ter sido mais humildes, e reconhecer que cada caso é um caso.
Portugal e Grécia são um caso, digamos, único, e dificilmente repetível. Quiseram que fôssemos tão ricos como o resto da Europa, e julganod que é o dinheiro que nos torna ricos, não olharam e despesas, e pelo meio, aquilo que verdadeiramente enriquece uma nação, a sua capacidade produtiva, foi sendo atirada pelo esgoto abaixo. A população envelheceu, o Estado tomou cada vez mais conta dos portugueses, e a economia tornou-se dependente de dívida para gerir conta corrente.
No fim de tudo isto, com tantos erros empilhados em cima de tantos erros, aparece a troika a dizer que com uma pequena austeridade as coisas compõe-se num ápice. Começo a acreditar que há muito economista no planeta que pensa que há sempre uma solução para tudo, já que tudo são problemas passíveis de resolução. Eu não vou nessa. Há problemas, que podem ter solução, e há inevitabilidades, que só têm desfechos. É difícil definir a fronteira entre estes dois, daí a nossa interpretação da realidade ser suscetível de crenças e fenómenos de caráter mais subjetivo, como a esperança, por exemplo. Se conseguirmos atingir isto e isto, é provável que aconteça aquilo e aquilo e assim retomamos o caminho desejado. No entanto e sem se aperceberem, a realidade objetiva à sua volta desmorona-se que nem um castelo de cartas.
A troika, sendo esta composta por políticos, formou o mesmo vício de raciocínio que qualquer político encartado faz:
O remédio é curto, pouco doloroso, e os resultados a médio prazo são espetaculares. Era bom de mais para ser verdade, mas como foi tanta gente no mundo a profetizá-lo, era difícil refutá-lo na opinião pública.
O Remédio não é nem curto nem pouco doloroso, e os resultados são muito difíceis de quantificar, tanto em espécie como no horizonte temporal.
Foi isto que os políticos NÃO disseram, e como a realidade tende sempre a sobrepor-se às boas intenções do ser humano, em última análise é sempre este que paga pelos erros que comete.
Esta semana, Christine Lagarde veio assumir que afinal a austeridade poderá não ser o melhor caminho para o regresso ao crescimento económico. Um enorme equívoco, no mínimo.
E pelos vistos, já há mensagens subliminares do FMI para com a UE e o BCE de que estes deverão ter um "Official Sector Involvement"nos países mais endividados e sem perspetivas de crescimento, que traduzido para português não-eufemístico significa esses mesmo países declararem Bancarrota e o BCE, o EFSF e o ESM, os grandes credores "oficiais", levarem com a cacetada e aguentarem como puderem. Não percebo é como é que o FMI se exclui desta operação, quando é tão "oficial" como os outros grandes credores, mas enfim.
O texto de Mark Grant, no ZeroHedge, está muito interessante
Uups, estou a vislumbrar na minha mente Lagarde a dar razão a Jerónimo Martins e a condenar a raça de homens de que Passos Coelho é feito.
Grécia irá ficar sem dinheiro daqui a 2 ou 3 semanas, e desde Setembro, ou se calhar até Agosto, que aguardamos pelo relatório da troika. Tanto tempo?
Porque é que com a 5ª avaliação de Portugal não foi assim?
Será que a realidade grega é infinitamente mais complexa do que a portuguesa?
Não creio nisso. O relatório está atrasado... apenas na sua divulgação, porque alguém decidiu dessa maneira. Não será por bons motivos certamente.
E a que propósito aparecem estas declarações de Lagarde antes de se conhecer o relatório?
Como sabemos, são as conclusões do relatório da troika que sugerem se a tranche de 32 mil milhões de euros deve ser transferida ou não.
Nos bastidores o jogo deve estar pesado.
Como eu acreditava piamente na verdade que os meus professores me transmitiam.
Tiago Mestre
Essas pessoas mais velhas assemelhavam-se aos meus professores, e se o professor dizia que era daquela maneira, era assim e mais nada.
Entretanto crescemos, sentimos curiosidade em perceber o que se passa à nossa volta, e eis senão quando as velhas certezas dos doutos professores começam a não passar nos nossos testes. Começamos a perceber que afinal, tudo aquilo é mais forma do que substância, mais aparência do que essência.
Quando o FMI apareceu de mãos dadas com a UE e o BCE, prontos a ajudar a Grécia, Irlanda e depois Portugal, as suas previsões e respetivas soluções eram inquestionáveis. Caíram governos em vários países só para que se tentasse a sorte.
E mais uma vez, como acontecia no tempo da escola, "ensinaram-nos" que a sua receita, a da austeridade, traria no médio prazo resultados de tal forma espetaculares que qualquer país submetido a este remédio veria a luz do dia passados 2-3 anos.
Provavelmente foi isso que aconteceu com alguns deles que foram intervencionados, mas deveriam ter sido mais humildes, e reconhecer que cada caso é um caso.
Portugal e Grécia são um caso, digamos, único, e dificilmente repetível. Quiseram que fôssemos tão ricos como o resto da Europa, e julganod que é o dinheiro que nos torna ricos, não olharam e despesas, e pelo meio, aquilo que verdadeiramente enriquece uma nação, a sua capacidade produtiva, foi sendo atirada pelo esgoto abaixo. A população envelheceu, o Estado tomou cada vez mais conta dos portugueses, e a economia tornou-se dependente de dívida para gerir conta corrente.
No fim de tudo isto, com tantos erros empilhados em cima de tantos erros, aparece a troika a dizer que com uma pequena austeridade as coisas compõe-se num ápice. Começo a acreditar que há muito economista no planeta que pensa que há sempre uma solução para tudo, já que tudo são problemas passíveis de resolução. Eu não vou nessa. Há problemas, que podem ter solução, e há inevitabilidades, que só têm desfechos. É difícil definir a fronteira entre estes dois, daí a nossa interpretação da realidade ser suscetível de crenças e fenómenos de caráter mais subjetivo, como a esperança, por exemplo. Se conseguirmos atingir isto e isto, é provável que aconteça aquilo e aquilo e assim retomamos o caminho desejado. No entanto e sem se aperceberem, a realidade objetiva à sua volta desmorona-se que nem um castelo de cartas.
A troika, sendo esta composta por políticos, formou o mesmo vício de raciocínio que qualquer político encartado faz:
O remédio é curto, pouco doloroso, e os resultados a médio prazo são espetaculares. Era bom de mais para ser verdade, mas como foi tanta gente no mundo a profetizá-lo, era difícil refutá-lo na opinião pública.
O Remédio não é nem curto nem pouco doloroso, e os resultados são muito difíceis de quantificar, tanto em espécie como no horizonte temporal.
Foi isto que os políticos NÃO disseram, e como a realidade tende sempre a sobrepor-se às boas intenções do ser humano, em última análise é sempre este que paga pelos erros que comete.
Esta semana, Christine Lagarde veio assumir que afinal a austeridade poderá não ser o melhor caminho para o regresso ao crescimento económico. Um enorme equívoco, no mínimo.
E pelos vistos, já há mensagens subliminares do FMI para com a UE e o BCE de que estes deverão ter um "Official Sector Involvement"nos países mais endividados e sem perspetivas de crescimento, que traduzido para português não-eufemístico significa esses mesmo países declararem Bancarrota e o BCE, o EFSF e o ESM, os grandes credores "oficiais", levarem com a cacetada e aguentarem como puderem. Não percebo é como é que o FMI se exclui desta operação, quando é tão "oficial" como os outros grandes credores, mas enfim.
O texto de Mark Grant, no ZeroHedge, está muito interessante
Uups, estou a vislumbrar na minha mente Lagarde a dar razão a Jerónimo Martins e a condenar a raça de homens de que Passos Coelho é feito.
Grécia irá ficar sem dinheiro daqui a 2 ou 3 semanas, e desde Setembro, ou se calhar até Agosto, que aguardamos pelo relatório da troika. Tanto tempo?
Porque é que com a 5ª avaliação de Portugal não foi assim?
Será que a realidade grega é infinitamente mais complexa do que a portuguesa?
Não creio nisso. O relatório está atrasado... apenas na sua divulgação, porque alguém decidiu dessa maneira. Não será por bons motivos certamente.
E a que propósito aparecem estas declarações de Lagarde antes de se conhecer o relatório?
Como sabemos, são as conclusões do relatório da troika que sugerem se a tranche de 32 mil milhões de euros deve ser transferida ou não.
Nos bastidores o jogo deve estar pesado.
Como eu acreditava piamente na verdade que os meus professores me transmitiam.
Tiago Mestre
Evolução da SS - onde cortar?
O OE em 2012 transferiu mais de 7 mil milhões de euros para a SS.
Em 2013 perspetiva-se um valor a rondar os 9 mil milhões !!
E esta é a evolução das várias despesas da SS para cada ano desde 2001:
Se é para equilibrar as contas da SS, não há como fugir. É preciso cortar em todas as rúbricas. Talvez mais aqui, menos acolá. Isso já é decisão política.
Grosso modo e em média, é preciso cortar 30% em cada uma das rúbricas. E coragem política?
Não há.
Aguardamos pelo rebentamento não controlado do edifício da SS.
Segundo julgo saber, a sede é em Lisboa, perto de Chelas.
E aí não será igual para todos nem justo para todos. Será ANÁRQUICO.
Fica a sugestão de fim de semana.
Tiago Mestre
19 de outubro de 2012
Como poderíamos tentar prever o PIB ? (Parte 1)
De acordo com as conversas tidas entre mim e o Pedro Miguel acerca dos mecanismos que estão ao nosso dispor para TENTAR prever o PIB de Portugal, ficaram sempre mais incertezas do que certezas.
Não obstante, e porque estou farto de ouvir as instituições a dizer uma coisa e passado 6 meses dizer outra coisa totalmente diferente, desafiei o Pedro Miguel a avançar com critérios e grandezas que pudessem influir na "construção" da NOSSA fórmula que preveja minimamente o PIB.
O Pedro abordou nos comentários anteriores duas questões que me parecem ser objeto de reflexão:
1º: Os juros da dívida soberana estiveram, e ainda estão em níveis altamente penalizadores para a nossa economia. Só recentemente é que as OT a 10 anos é que baixaram dos 8% no mercado secundário.
2º O cálculo do PIB deve ter em conta os ciclos económicos, tanto os curtos, como os longos.
Sobre a 1ª questão, quero acrescentar o seguinte:
Fui ao Banco de Portugal e ao Eurostat para fazer este lindo quadro:
Se repararem, desde 2007 que lutamos por algum crescimento, por muito pequeno que seja. Mas para que ele apareça, é preciso muita dívida nova:
Em 2008 o PIB cresceu 2664 milhões de euros face a 2007, mas para tal ocorrer, foi necessário gerar 42833 milhões de nova dívida em Portugal. O que dá um rácio de 1€ de crescimento para 16€ de nova dívida.
Em 2009 face a 2008, ano da grande recessão mundial, o PIB caiu 3479 milhões de euros e a nova dívida gerada ficou-se pelos 30315 milhões.
Em 2010 face a 2009, o PIB cresceu 4166 e a dívida aumentou 34490. 1€ de crescimento para 8€ de nova dívida.
Em 2011 face a 2010, o PIB caiu 1655 e a nova dívida ficou-se pelos 24871.
Se fizermos o estudo a 4 anos (2008-2011), para o PIB crescer 1696 milhões, a dívida emitida foi de 132 509 milhões. 1€ de crescimento para 78€ de endividamento !!!
Onde é que eu quero chegar?
Nos anos em que a emissão de nova dívida foi inferior a 32-34 mil milhões, o país foi empurrado para a recessão.
Pedro e restante pessoal, poderemos usar este indicador para afirmar o seguinte enunciado?
- Sempre que a nova dívida contraída em Portugal for inferior a 32-35 mil milhões ao ano, o país entrará em recessão com a maior das probabilidades.
Para 2012, Portugal irá dar um grande trambolhão como sabemos: 3% de recessão, sendo que a OCDE estima que seja de 3,2% (fui ver depois no outro dia).
E de acordo com os dados do Banco de Portugal, disponíveis até Julho de 2012, a dívida total contraída ia em 730 mil milhões. Eu estimei que até Dez chegará aos 740 mil milhões.
Usando estes valores estimados, em 2012 a nova dívida contraída será só! de 20143 milhões, muito abaixo dos 32-35 mil milhões. Recessão garantida de 3%
Pergunta:
Como poderíamos usar estes dados, e outros que me estejam a escapar, para tentar perceber como será a emissão de dívida em Portugal em 2013, e com isso tentar dar um "tiro" na projeção do PIB?
Sabemos que o BCE tudo fará para que a taxa de juro média baixe. As OT a 10 anos já estão abaixo dos 8%. E segundo o BdP, e que pus no quadro, o juro médio em 2012 já anda pelos 3,69%, quando em 2011 andava pelos 4,28%. Será que teremos em 2013 um regresso dos juros a valores a rondar os 2-3% ?
Terá Portugal alguma folga no Estado, nas organizações e nas famílias para se endividarem um pouco mais? Será que é isso que irá acontecer? E em que valores?
Se os dados do BdP estão certos, a dívida total em Julho já vai em 730 mil milhões de euros, o que dará em 2012 um lindo rácio de 442% do PIB. Terei que alterar estes dados na barra lateral das Contas Nacionais.
Penso que com um rácio destes, em que a economia está totalmente contaminada pela emissão de nova dívida para crescer qq coisa, entrámos em território totalmente desconhecido e difícil de ser interpretado corretamente por modelos de previsão convencionais.
Sobre os ciclos económicos não vi nada.
Link para consultar estes dados, e mais, muito mais:
Boletim Estatístico Setembro 2012:
Os ficheiros Excel estão no capítulo K "Endividamento do setor não-financeiro"
Tiago Mestre
Não obstante, e porque estou farto de ouvir as instituições a dizer uma coisa e passado 6 meses dizer outra coisa totalmente diferente, desafiei o Pedro Miguel a avançar com critérios e grandezas que pudessem influir na "construção" da NOSSA fórmula que preveja minimamente o PIB.
O Pedro abordou nos comentários anteriores duas questões que me parecem ser objeto de reflexão:
1º: Os juros da dívida soberana estiveram, e ainda estão em níveis altamente penalizadores para a nossa economia. Só recentemente é que as OT a 10 anos é que baixaram dos 8% no mercado secundário.
2º O cálculo do PIB deve ter em conta os ciclos económicos, tanto os curtos, como os longos.
Sobre a 1ª questão, quero acrescentar o seguinte:
Fui ao Banco de Portugal e ao Eurostat para fazer este lindo quadro:
Se repararem, desde 2007 que lutamos por algum crescimento, por muito pequeno que seja. Mas para que ele apareça, é preciso muita dívida nova:
Em 2008 o PIB cresceu 2664 milhões de euros face a 2007, mas para tal ocorrer, foi necessário gerar 42833 milhões de nova dívida em Portugal. O que dá um rácio de 1€ de crescimento para 16€ de nova dívida.
Em 2009 face a 2008, ano da grande recessão mundial, o PIB caiu 3479 milhões de euros e a nova dívida gerada ficou-se pelos 30315 milhões.
Em 2010 face a 2009, o PIB cresceu 4166 e a dívida aumentou 34490. 1€ de crescimento para 8€ de nova dívida.
Em 2011 face a 2010, o PIB caiu 1655 e a nova dívida ficou-se pelos 24871.
Se fizermos o estudo a 4 anos (2008-2011), para o PIB crescer 1696 milhões, a dívida emitida foi de 132 509 milhões. 1€ de crescimento para 78€ de endividamento !!!
Onde é que eu quero chegar?
Nos anos em que a emissão de nova dívida foi inferior a 32-34 mil milhões, o país foi empurrado para a recessão.
Pedro e restante pessoal, poderemos usar este indicador para afirmar o seguinte enunciado?
- Sempre que a nova dívida contraída em Portugal for inferior a 32-35 mil milhões ao ano, o país entrará em recessão com a maior das probabilidades.
Para 2012, Portugal irá dar um grande trambolhão como sabemos: 3% de recessão, sendo que a OCDE estima que seja de 3,2% (fui ver depois no outro dia).
E de acordo com os dados do Banco de Portugal, disponíveis até Julho de 2012, a dívida total contraída ia em 730 mil milhões. Eu estimei que até Dez chegará aos 740 mil milhões.
Usando estes valores estimados, em 2012 a nova dívida contraída será só! de 20143 milhões, muito abaixo dos 32-35 mil milhões. Recessão garantida de 3%
Pergunta:
Como poderíamos usar estes dados, e outros que me estejam a escapar, para tentar perceber como será a emissão de dívida em Portugal em 2013, e com isso tentar dar um "tiro" na projeção do PIB?
Sabemos que o BCE tudo fará para que a taxa de juro média baixe. As OT a 10 anos já estão abaixo dos 8%. E segundo o BdP, e que pus no quadro, o juro médio em 2012 já anda pelos 3,69%, quando em 2011 andava pelos 4,28%. Será que teremos em 2013 um regresso dos juros a valores a rondar os 2-3% ?
Terá Portugal alguma folga no Estado, nas organizações e nas famílias para se endividarem um pouco mais? Será que é isso que irá acontecer? E em que valores?
Se os dados do BdP estão certos, a dívida total em Julho já vai em 730 mil milhões de euros, o que dará em 2012 um lindo rácio de 442% do PIB. Terei que alterar estes dados na barra lateral das Contas Nacionais.
Penso que com um rácio destes, em que a economia está totalmente contaminada pela emissão de nova dívida para crescer qq coisa, entrámos em território totalmente desconhecido e difícil de ser interpretado corretamente por modelos de previsão convencionais.
Sobre os ciclos económicos não vi nada.
Link para consultar estes dados, e mais, muito mais:
Boletim Estatístico Setembro 2012:
Os ficheiros Excel estão no capítulo K "Endividamento do setor não-financeiro"
Tiago Mestre
18 de outubro de 2012
Parlamento Europeu trabalha muito... pouco
Esta informação pode ser uma banalidade, mas não deixo de ficar surpreendido com o facto de num programa da RTP Informação: "Ordem do Dia", que vai para o ar às Quintas feiras à noite, tem a honra de contar com 2 eurodeputados a comentar o painel:
Paulo Rangel
Ana Gomes
e num pequeno desabafo, Paulo Rangel confidenciou que não acompanhou uma polémica qualquer hoje de tarde porque... "passou a tarde a voar".
Como?
A malta do parlamento europeu, a meio da manhã de quinta feira, já está a fazer as malas. E não é nesta ou naquela semana, porque para Paulo Rangel estar na RTP Informação TODAS as quintas à noite, é porque a coisa funciona mesmo assim.
Tiago Mestre
Paulo Rangel
Ana Gomes
e num pequeno desabafo, Paulo Rangel confidenciou que não acompanhou uma polémica qualquer hoje de tarde porque... "passou a tarde a voar".
Como?
A malta do parlamento europeu, a meio da manhã de quinta feira, já está a fazer as malas. E não é nesta ou naquela semana, porque para Paulo Rangel estar na RTP Informação TODAS as quintas à noite, é porque a coisa funciona mesmo assim.
Tiago Mestre
O diz e desdiz de Lagarde, compilado pelo Expresso
Isto sim, é jornalismo, aliás, investigação jornalística, em apenas 24 slides:
http://expresso.sapo.pt/o-diz-e-desdiz-de-lagarde=f760887
Tiago Mestre
http://expresso.sapo.pt/o-diz-e-desdiz-de-lagarde=f760887
Tiago Mestre
Ser Liberal, liberalismo, e coisas que tais
O Filipe perguntou-me ontem o que entendo por ser liberal:
Demorei mais a responder porque tinha que pensar um
bocadinho sobre isto. No mínimo, tu merecias esse esforço da minha parte e o resto da malta que lê o Contas
também.
Tiago Mestre
Vou tentar dizer o que penso e o que sinto do liberalismo,
sem recorrer nem ao Google nem ao Wikipedia!
Na teoria:
Recorrendo à história, tivemos na década de 20 do Século XIX
uma guerra em Portugal entre Absolutistas e Liberais. O que os liberais
defendiam era que o povo deveria ser mais bem representado nos órgãos de
soberania, e que as pessoas pertencentes às classes sociais não ficassem presas
a elas, ou seja, “horizontalizar” tanto quanto possível os estratos sociais e
acabar com tanta desigualdade no acesso às oportunidades.
Como instrumentos dessa afirmação do povo, adotou-se a carta
constitucional, que teve vários avanços e recuos, o parlamentarismo com câmara
e senado, a eleição de deputados por sufrágio e a nomeação de um governo com
poderes executivos, escrutinado pelo parlamento e supervisionado na aprovação
das leis pela figura do Rei.
Na prática:
Quem mais poderes perdeu foi o próprio rei, que de um
absolutismo passou para uma figura quase simbólica na vida política nacional,
jurando apenas defender a Carta constitucional e a soberania portuguesa. Mas
como as coisas não corriam bem nesta nova fase da vida política nacional,
frequentemente o rei tinha que aceitar pedidos de demissão do governo por não
haver condições para governar, e convocar governos de salvação. Houve vários
golpes de Estado, como o do Duque de Saldanha em 1850, e fora isso, os governos
sucediam-se ora do partido regenerador, ora do partido liberal, tendo sido
nesta altura cunhado o termo “rotativismo”. Enfim, o rei passou a mandar
sobretudo na aceitação de demissões e na nomeação de novos executivos.
O sufrágio era limitado, e só alguns é que podiam votar.
Criaram-se as condições para que aparecessem os caciques, os que tentavam
“controlar” o eleitorado nas círculos eleitorais mais pequenos, criando toda
uma cadeia de favores e obediências partidárias, ficando famosa a prática de
oferecer o “carneiro com batatas” nas campanhas eleitorais.
Ser liberal hoje, para mim, na conceção política do termo, é
estarmos de acordo com o sistema parlamentar representativo, o sufrágio
universal, a separação de poderes, a independência do sistema judicial e o respeito pela Constituição
E na conceção económica do termo, é estarmos de acordo de
que o acesso a qualquer cargo, lugar ou profissão não está vedado só porque se
pertence a este ou aquele extrato social. Se eu quiser ser médico, engenheiro,
empresário, jardineiro ou o que for, tenho a liberdade de o ser, desde que
cumpra com as regras que o Estado e a sociedade ditam.
Poder-se-á argumentar que quem não tem dinheiro não poderá
ter acesso às mesmas oportunidades dos que têm dinheiro. É verdade, mas o fator
limitativo é o dinheiro, e não uma barreira artificial criada por uns só porque
não querem que outros ascendam ao seu nível.
Se me perguntas se sou um liberal ou não é algo que não consigo responder. Mas a conceção, tanto política como económica, agrada-me
bastante, com todos os defeitos que tenha.
E se me perguntas se é este sistema liberal,
tendencialmente centralizador/representativo o mais indicado para a cultura
portuguesa?
Também me é difícil responder, mas estou inclinado a dizer
que não, apenas e só porque a nossa história diz-nos que com este sistema, as
lutas entre classes políticas é permanente, e as necessidades, deveres e liberdades
daqueles que os elegeram são frequentemente esquecidas. Isto aconteceu com a
monarquia constitucional, com a I República Democrática, durante a Ditadura mas
de forma muito mais contida e agora, em todo o seu esplendor, com esta nossa
democracia que vigora desde o 25 de Abril de 1974.
Parece que o sistema político liberal vigente, e que está
quase a fazer 200 anos, não conseguiu anular ou sequer reduzir a enorme
concentração de poder que vinha do Absolutismo e que gravita atualmente entre o
Terreiro do Paço, São Bento e Belém. É que para estes terem tanto poder, outros
não têm nenhum, e portanto são as regiões, as comunidades e as aldeias que
ficaram esvaziadas dele.
Talvez tenha sido desde o século XV que esta concentração de
poderes em Lisboa se reforçou com a chegada do Absolutismo e de outras
correntes políticas europeias, como o Renascimento, esvaziando paulatinamente a
soberania local e os governos locais. Na minha opinião, é a soberania local que
talvez se aproxime mais da maneira de ser do português, tendencialmente
reivindicativo e desejoso de ter uma face à frente com quem poder falar,
desabafar e ouvir o outro lado. Frequentemente ouvimos dizer que os políticos
estão lá em Lisboa e que cá, em Freixo de Espada-à-Cinta, ninguém nos liga
nenhuma.
As freguesias e as câmaras do país dependem, todas elas, quer
financeiramente quer politicamente, do poder centralizador lisboeta. É de lá
que emanam toda a espécie de decisões:
. concorre este ou aquele à Câmara x ou y
. é este que recebe mais ou menos do que aquele,
. sobe no partido fulano A em vez de fulano B.
. concorre este ou aquele à Câmara x ou y
. é este que recebe mais ou menos do que aquele,
. sobe no partido fulano A em vez de fulano B.
E também não acredito que seja a tecnologia, a internet, e a
facilidade de nos deslocarmos que altere esta nossa perceção de que os
governantes estão lá longe a decidir no gabinete e que para eles nós não passamos
de números.
Tiago Mestre
17 de outubro de 2012
Álvaro precisava primeiro de umas aulinhas de como ser (bom e mau) empresário
À primeira impressão, a medida até parece boa, mas para mim, que já ando a pensar nela desde que este assunto foi sugerido ainda no tempo do Sócrates, é de arrepiar.
Vejamos:
Porque é que as empresas e os empresários reclamam esta medida?
Porque supostamente alivia a tesouraria da empresa, já que em caso de atraso no pagamento da fatura pelo cliente, a empresa terá sempre que pagar o IVA ao Estado:
Ou ao fim do mês ao ao fim de 3 meses, consoante o volume de faturação da dita empresa.
E se os clientes pagassem a tempo e horas, seriam necessárias medidas desta natureza?
Obviamente que não.
O que o governo está a permitir é que o Estado receba algures no tempo o IVA, apenas e só quando o dinheiro entrar na empresa e o recibo for processado.
E se o cliente nunca pagar? O Estado fica a arder, obviamente.
Muita gente não terá a perceção disto, mas há muitos empresários em Portugal que são desleixados, não cobram junto dos clientes e deixam arrastar. O facto de terem que emitir a fatura e serem obrigadosa pagar o IVA é, em muitos casos, um ótimo incentivo ao empresário para que este cobra as dívidas dos clientes.. Caindo este incentivo, menos preocupado andará o empresário. É surreal mas é verdade.
E o que dizer dos clientes mal comportados que não cumprem os pagamentos acordados?
Serão premiados, já que não terão tanta pressão em cima das costas. E poderão adiar ainda mais os pagamentos sem que nada lhes aconteça, garantindo reforço de tesouraria à custa dos parolos dos fornecedores.
E o que dizer dos clientes bem comportados que pagam a horas?
São também parolos, porque podiam ficar com mais reforço de tesouraria em vez de libertar essa energia para o fornecedor, ficando em posição desigual perante os seus concorrentes que abusam a atrasarem-se nos pagamentos.
E o que dizer dos fornecedores que são exigentes e cobram as dívidas aos clientes a tempo e horas?
Não serão tão levados a sério nas reinvindações legítimas que têm junto dos seus clientes.
E o que dizer da captação de receita fiscal do Estado?
Não acontecerá como o governo tinha previsto pelas razões acima explicadas.
E o que dizer dos atrasos nos pagamentos que o próprio Estado também é pródigo?
Mais atrasados ficarão porque o fornecedor será menos exigente, reforçando este ciclo perverso.
E como controlará o Estado que o dinheiro entrou em caixa?
Só através dos recibos que o fornecedor emite ao cliente após pagamento. Mas tanto quanto sei, estes recibos são pouco controlados contabilisticamente porque não são reportados ao Estado. Como vai agora o Estado exigir que tal procedimento burocrático passe pelas suas malhas? E mesmo que tal seja possível, a burocracia será infernal.
Quem poderá ilicitamente beneficiar com este esquema?
Todos os fornecedores que vêem o dinheiro do seu lado e que não irão emitir recibo aos clientes. Estes estão-se nas tintas se o fornecedor emite recibo ou não porque contabilisticamente não lhes é relevante. O Estado deixa de cobrar o valor porque deixa de haver um comprovativo que evidencia a transferência do dinheiro.
A fuga fiscal será uma beleza e o Estado terá que gastar mais dinheiro na fiscalização, etc, etc. e nunca com os resultados de captação desejados.
As receitas do IVA que tanto contam para a receita do Estado poderão ter aqui um golpe enorme e impossível de cicatrizar.
Com esta medida, favorece-se quem prevarica e é desleixado, penalizando quem é cumpridor e leal para com os seus parceiros, quer sejam fornecedores ou clientes.
Em termos lógicos, até aqui era o fornecedor que aceitava ficar com a responsabilidade de recuperar os seus créditos, com as respetivas consequências negativas para a sua tesouraria caso se desleixasse.
Daqui para a frente, parte dessa responsabilidade, (valor do IVA a entregar ao Estado) será também partilhada pelo Estado, sem que este possua qualquer instrumento de recuperação desses créditos. Será a tesouraria do Estado a partilhar o risco da tesouraria das empresas credoras. Enfim, uma confusão em que o Estado não se devia meter.
Quem se atrasa a pagar é... caloteiro. E são os caloteiros que devem ser penalizados, não os sérios. E os empresários que não gostam de fazer cobranças, que há muitos, passam agora também a ser ajudados pelo Estado.
O Álvaro, como liberal que julgo que deve ser, deveria estar quietinho, baixar os impostos que são uma barbaridade e não se intrometer nos negócios das empresas.
A expressão é forte, mas esta medida é uma autêntica aberração política, económica e até fiscal.
E já que se cria o precedente, porque não ir ao cúmulo e alargar estas medidas, por exemplo, para tudo o que é pagamentos ao Estado?
Não pago o IMI da minha casa porque o meu patrão tem salários em atraso
Não pago o IRC porque não há tesouraria para tal
Não pago a ADSE porque o Estado aind anão me devovleu o dinheiro dos medicamentos comparticipados
etc, etc
Em Portugal, são os que pedincham que escolhem, e os que contribuem que acatam, quando deveria ser o contrário
Tiago Mestre
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