7 de março de 2012

Augusto Santos Silva surpreende-nos pela positiva!

Caros leitores e leitoras, não sendo nós aqui no Contas apreciadores de escrita sobre a actualidade política portuguesa, até porque inúmeros blogs já o fazem de forma competente, não podemos deixar de referir a relevância para o jornalismo português das intervenções de Augusto Santos Silva, ex-ministro do governo anterior, sobre a actualidade política.

Temo-lo ouvido com atenção no canal de cabo TVI24, e as suas explicações e pareceres revelam uma capacidade de análise substantiva sobre os assuntos em causa que muito nos agrada. António José Seguro não se aproxima sequer desta postura e, na nossa opinião, fica a perder.

Hoje, Augusto Santos Silva explicou a falácia noticiosa que esteve no espaço mediático português durante algum tempo em que se referia que os custos da empresa Parque Escolar eram 400% mais elevados do que inicialmente planeado. Faltou explicar a quem produziu a notícia de que os custos que serviram de base refletiam apenas remodelações e "arranjos" aos edifícios existentes. Todos sabemos que as obras realizadas foram muito mais estruturais, com a construção de novos espaços (não lhe chamamos equipamentos por não concordarmos com o termo), como bibliotecas e a reestruturação profunda de outros. A tal derrapagem de 400% não pode ser tida em conta porque estamos a comparar "alhos com bugalhos".

Mais, Augusto Santos Silva deixa bem claro que este tipo de notícias são produzidas e gizadas pela máquina mediática social democrata, inferindo-se que há ingerência que se pode considerar "escandalosa" da máquina social democrata dentro dos jornais e outros.

Pior, Augusto Santos Silva conclui que este tipo de notícias servem apenas para descredibilizar a empresa Parque Escolar e o seu projeto, no sentido de legitimar o governo a alterar/suspender o programa a seu bel-prazer, evitando ter que informar a população que afinal tais decisões são opções políticas deste governo, mas antes porque o programa Parque Escolar é "mau" financeiramente e portanto alguma coisa terá que ser feita.

Feio, esquisito e difícil de acreditar. Custa-nos a aceitar que Passos Coelho saiba e corrobore com este tipo de manipulação informativa tão descarada.

Marinho e Pinto, bastonário da ordem dos advogados, alertava em meados de 2011 que certas notícias nos jornais só podiam provir da máquina mediática social democrata, na medida em que algumas delas incidiam sobre assuntos em que ele participava de forma direta, como no caso das custa judiciais, e espantava-se com a manipulação da informação em favorecimento do governo. Agora compreendemo-lo perfeitamente..

Tiago Mestre

3 comentários:

Filipe Silva disse...

Bom dia

Antes demais queria aproveitar para vos dar os parabéns pelo blog, aprecio-o muito.

Em relação à noticia da parque escolar agradeço a explicação.

Mas o que a mim me sempre deixou perplexo em relação à reabilitação do nosso Parque escolar, o qual em teoria concordo, dado as escolas estarem a necessitar de obras de requalificação, foi os ajustes directos e os gastos megalômanos em causa.

Lembro me de ver noticiado na altura da sua inauguração o caso de 2escolas em Leiria que teriam custado 20milhões de Euros, e que por sua vez foram noticia em Setembro do ano passado, aquando do aumento do iva sobre a electricidade, que as escolas iriam ter dificuldades orçamentais dado que consumiam muita da mesma e não teriam dotação orçamental para fazer face ao aumento do imposto.
Para não falar que muitos dos equipamentos comprados não são utilizados.

Penso que este caso do Parque Escolar demonstra bem o que está de errado em Portugal, dão se as obras aos amigos (Mota Engil é liderada por uma figura proeminente do PS) e tiques de novo rico (escolas demasiado caras para o nosso nível de riqueza.

A corrupção e o aproveitamento do dinheiro do Estado em beneficio de alguns são de facto os principais problemas que temos na nossa sociedade

Podia e devia-se ter intervencionado mais escolas, mas gastando menos €

Atenciosamente

Filipe Silva

Tiago Mestre disse...

Filipe, obrigado pelo comentário.

Sobre o parque escolar e os tiques de rico, não posso estar mais de acordo.

Mas vê este dilema do Sócrates:

- A escolaridade obrigatória subirá para o 12º ano (talvez negociado na UE)
- As escolas secundárias estão degradadas e serão insuficientes para esta nova política educativa
- Os fundos comunitários financiam 70 a 80% (desconheço a percentagem em concreto)
- O BEI (Banco Europeu Investimento) disponibiliza-se para financiar a parte portuguesa com taxa de juro baixinha!
- As obras serão realizadas em Portugal e serão empreiteiros portugueses a faturar (aqui aparecem as tuas dúvidas legítimas)
- A economia e o emprego agradecem

Caso nada disto se faça, muitas críticas irão chover e a política educativa poderá ficar em causa!
Caso faça, fica com mais dívida, mais juros para pagar e responsabilidades no cartório caso os custos derrapem.

Nuances: as obras poderiam ser mais baratas reduzindo investimento em aquecimentos, arrefecimentos, bibliotecas, etc. Tal decisão também é política!

Como decidirias tu, se estivesses no lugar do Sócrates?

(não sou apoiante nem do Sócrates nem do Passos Coelho, apenas gosto de refletir sobre estes assuntos desassombradamente)

Tiago

Filipe Silva disse...

Eu não tenho nada contra investimento na recuperação e construção de infraestruturas escolares, tenho sim contra a forma e o custo que esta despesa teve.
Quando estudei no ensino obrigatório e secundário e até superior, claro que se tivesse tido melhores condições físicas o aproveitamento poderia ter sido melhor (não ter apanhado com chuva dentro das salas, passar frio, etc.., mas sou da opinião que a qualidade do professor e dos programas são muito mais importantes que as condições físicas.


O que tenho contra a politica educativa do Sócrates, o que o Nuno Crato apelidou de "eduquês" o facilitismo e a diminuição da exigência para melhorar as estatísticas.

As infraestruturas são importantes, mas mais importante é o conteúdo dos programas.

Em apostas em infraestruturas somos campeões, basta ver o numero de autoestradas que construímos.

A melhor forma de se facilitar a mobilidade social é capacitar os mais desfavorecidos com a melhor educação possível, dar-lhes assim uma hipótese real de singrarem na vida.

O principal problema dos menos favorecidos em Portugal é a sua baixa escolaridade

Existem programas que teriam muito mais impacto do que a aposta em infraestruturas (que são necessárias), vi por exemplo que as escolas profissionais na Alemanha pagam aos seus estudantes 1/3 do salário que iram receber no seu emprego futuro, durante o seu processo de aprendizagem (50% teórico 50% prático), é fundamental apostar neste tipo de ensino.
A melhor maneira? não sei, não sou especialista.

Em relação ao emprego e economia, se o financiamento vêm da Europa e o remanescente é conseguido com uma taxa baixa então não é má opção.



Atenciosamente

Filipe Silva